O PODER, O SER HUMANO E SUAS CIRCUNSTÂNCIAS
A Sombra |
Trata-se, também aqui, de uma tentativa de nos aproximar de um entendimento dos princípios que norteiam todas as novas manifestações das sociedades em vários países, tanto do Ocidente quanto do Oriente, em que é demonstrado um descontentamento incondicionado das populações com o status quo das administrações dos vários Estados que as contêm. Elas guardam semelhança tanto em relação à forma dos protestos, quanto em relação à forma de serem reprimidos : iniciam-se pacíficas, tendo como estopim algum acontecimento pontual que se soma ao potencial descontentamento preexistente na maioria dos setores sociais e, dada a reação desproporcional das forças governamentais, nas mais das vezes violenta, fogem ao controle e se inicia quase que uma guerra civil, quando não chega até ela, como ocorre na Síria até hoje, em níveis que horrorizam a todas as outras Nações. Em prosseguimento aparecem aqui e ali, posteriormente, outras manifestações, desta feita já com indícios de violência por parte de integrantes da própria sociedade que dela reclama, enquanto os manifestantes pacíficos ou desaparecem ou se transformam em edições violentas de uma nova forma de protestar, chegando, por vezes, à situação de vandalismo.
A primeira tarefa que nos cabe e a primeira
dificuldade que se nos depara para a
teorização do tema é a necessidade de classificação do conceito desse
comportamento desviante da conduta desejável
em uma sociedade, desde que normalmente administrada. Essa necessidade primária ocorre por dois motivos:
- primeiro,
porque a definição de um conceito é, na
sua própria medida, a construção do nosso objeto de análise, essencialmente
estratégica porque é através dela que “abrimos os olhos” para a realidade; e, citando Robert Merton, “nós reagimos, não à situação
real, mas à situação conceitualizada” (*);
- segundo, porque, de qualquer
forma, ensina-nos a teoria metodológica
que a clarificação de um conceito-chave é, em si mesma, a base para a
reformulação de correlações hipotéticas inéditas até então, assim como para a formulação de
sub-hipóteses e escolha de variáveis até
então desconhecidas nas atitudes comuns de grandes contingentes sociais em
vários segmentos humanos que não guardam entre si qualquer vínculo de
subordinação ou história sócio-evolutiva em comum;
Assim, para entendermos fatos do presente, é sempre importante revermos ocorrências do passado, eis que a estrutura do ser humano não se modificou e as sociedades que organiza sempre guardam, desde os tempos antigos, as semelhanças decorrentes das influências individuais sobre o coletivo e vice-versa, mais uma vez invocando, nesse particular, o comentário de Matos Peixoto às observações de Plutarco sobre as vidas dos grandes influenciadores das diversas sociedades do seu tempo, que guardam paralelismo existencial e de influência sobre os outros homens distanciados dele mesmo e entre si pelo tempo e pelo local em que viveram.
Talvez falte aos atuais Homens de Estado uma amplitude de visão das ocorrências mundiais, um estudo ao menos superficial das verdades históricas a nortearem sua conduta, com uma projeção de um futuro desejável e provável, ou seja, o conhecimento
da realidade passado-presente e de um planejamento adequado para uma realidade futura adequada ao que se deseja como bem-estar social. Isso é muito necessário a um governante, como até mesmo para o dirigente de um grande conglomerado empresarial (os chamados homens de visão, visão essa tão necessária para a boa condução dos negócios) . De qualquer sorte, o Mundo se ressente da falta, em nossa atual geração de políticos, no Ocidente e quiçá no Oriente, de Grandes Estadistas, de Grandes Líderes Mundiais, que somente apareceram até o último terço do século passado. Vejamos, então, como esses Grandes Líderes e Estadistas observavam as sábias colocações de Plutarco:
Moralista
na mais alta acepção do termo, o historiador grego tem propiciado boa escola
aos chefes de homens que tiveram a ventura de viver depois dele. Nenhum
estadista de sucesso, de Marco Aurélio a Winston Churchill, deixou de lê-lo e
compreendê-lo. Nunca deixou de encontrar nele inspiração e advertência. Se, em
nossos dias, a inépcia dos governantes anda a provocar tantos destemperos e
tantas perplexidades, é que a reflexão histórica tem estado ausente de sua
preparação político-cultural.
Plutarco escreve para o
homem “político”, na acepção aristotélica. Vale dizer, não compreende o homem a
não ser em sua inserção social, onde atinge a plenitude de suas faculdades e se
torna a “maravilha maior” de que falava
Sófocles. (***)
E é atendendo a esse ponto de
observação ensinado por Plutarco em sua inestimável obra histórica, que passo a
analisar os fatos de hoje, auxiliada pelos elementos elucidativos que a
Sociologia e Psicologia, modernas armas do investigador atual, nos fornecem.
2. O Homem e suas Circunstâncias
2. O Homem e suas Circunstâncias
Carl Gustav Jung, explica a multiplicidade de escolhas
dos atos em um ser humano, provocadas por impulsos do inconsciente, o
que vem a ter como consequência as várias facetas da personalidade humana
individual. A propósito foram levados a efeito dois filmes excelentes, que não
são do tempo dos mais jovens, os quais abordaram o tema e podem ser
descritos em páginas da Internet. Se você desejar se aprofundar no assunto, pode procurar na
Internet por : “As Duas Faces de
Eva” , que aborda a dupla personalidade como um fenômeno normal em
uma pessoa comum e “O Médico e o Monstro”, que apresenta a dissociação
da personalidade de um intelectual e
cientista, da bondosa e
íntegra pessoa de Dr. Jekyll, para a convivência e coexistência
com o pervertido Mr. Hyde, como componentes da mesma pessoa.
Coloquei na postagem anterior (de 13 do corrente) o texto explicativo do renomado criador da Psicologia Analítica . Poderia parecer que não houvesse um elo entre
aquele texto e o que estou a
escrever hoje. Mas coloquei-o ali justamente para lhe dar um destaque especial, assim como foi especialmente ilustrativo para o meu trabalho de hoje, que se
refere à procura do entendimento do mecanismo disparado no inconsciente dos indivíduos que
atingem o “Poder”, em qualquer estágio ou grau de abrangência, como também, sob outro ponto de vista, daqueles que se reúnem em multidões para oferecer-lhes protestos. Mas o meu foco, hoje, é quanto ao indivíduo que o alcança e o exerce.
Faço, dessa forma, uma breve análise de como os atos decorrentes do Poder em mãos do ser humano, genericamente, apresentam-se em nossa realidade sensorial, após a elaboração psíquica do indivíduo, a que não temos acesso, nos casos concretos. Ora se apresentam como atitudes extremamente éticas, ora como atos destrutivos do entorno social, que atingem o todo ou parte dele. Algumas vezes o indivíduo chega, até mesmo, ao ponto de fazer uso dos atos mais torpes e cruéis, quando o detém, e mesmo para conservá-lo em um único governante absolutista ou em um determinado partido político que alcançou o poder por meio de sufrágio popular.
Observamos, então, que há uma diversidade de reações ao "Poder". E podemos apreciar, através da História, as suas mais diversas formas, que vão de atos sublimes de renúncia e dedicação, até aqueles de corrupção material ou imaterial (compra e venda, com dinheiro ou vantagens materiais e políticas e de carreira no Governo, de auxiliares que sejam capazes de ajuda-lo incondicionalmente), chegando mesmo ao envolvimento dos seus detentores em completa loucura e genocídio (como exemplos recentes, temos os mais conhecidos : Hitler, na Europa, e Pol Pot, no Cambodja). E em todas as épocas e locais são levadas a efeito as repetições desses comportamentos assim tão diversos e, por vezes, opostos.
Então, há que se analisar, em princípio, duas hipóteses:
a) o ser humano que imprime sua personalidade, bem ou mal formada, à prática do Poder, desviando-o de sua finalidade de bem servir a sociedade para atingir os seus desejos pessoais, quando, então, a influência do fator pessoal do indivíduo que alcança e mantém a "chefia sobre homens", antes e depois, é realmente quem provoca a corrupção;
Faço, dessa forma, uma breve análise de como os atos decorrentes do Poder em mãos do ser humano, genericamente, apresentam-se em nossa realidade sensorial, após a elaboração psíquica do indivíduo, a que não temos acesso, nos casos concretos. Ora se apresentam como atitudes extremamente éticas, ora como atos destrutivos do entorno social, que atingem o todo ou parte dele. Algumas vezes o indivíduo chega, até mesmo, ao ponto de fazer uso dos atos mais torpes e cruéis, quando o detém, e mesmo para conservá-lo em um único governante absolutista ou em um determinado partido político que alcançou o poder por meio de sufrágio popular.
Observamos, então, que há uma diversidade de reações ao "Poder". E podemos apreciar, através da História, as suas mais diversas formas, que vão de atos sublimes de renúncia e dedicação, até aqueles de corrupção material ou imaterial (compra e venda, com dinheiro ou vantagens materiais e políticas e de carreira no Governo, de auxiliares que sejam capazes de ajuda-lo incondicionalmente), chegando mesmo ao envolvimento dos seus detentores em completa loucura e genocídio (como exemplos recentes, temos os mais conhecidos : Hitler, na Europa, e Pol Pot, no Cambodja). E em todas as épocas e locais são levadas a efeito as repetições desses comportamentos assim tão diversos e, por vezes, opostos.
Então, há que se analisar, em princípio, duas hipóteses:
a) o ser humano que imprime sua personalidade, bem ou mal formada, à prática do Poder, desviando-o de sua finalidade de bem servir a sociedade para atingir os seus desejos pessoais, quando, então, a influência do fator pessoal do indivíduo que alcança e mantém a "chefia sobre homens", antes e depois, é realmente quem provoca a corrupção;
Como nós somos elementos complexos, diversamente de musgos ou
parasitas inferiores, que se reúnem em "colônias", há
necessidade de uma organização - e, por enquanto, ainda não
surgiu outra ideia melhor do que o estabelecimento de uma "hierarquia
organizada" para conseguirmos manter o necessário liame que nos
levará à meta optata, ou seja , a evolução da espécie.
Se os acontecimentos mundiais referidos estão a indicar a
necessidade da revisão desse tipo de "hierarquia organizada",
talvez tendente a uma governança a nível de "organização
mundial", em que as fronteiras nacionais se subordinem a um Poder
Maior de Unidade Planetária, é chegado o momento de meditarmos sobre o
assunto. E, para tanto, é necessário analisar o que se passa no mundo real de
hoje, tanto no tempo quanto no espaço das novas necessidades humanas : a
verdade é que somente com a intervenção de Nações mais estabilizadas e mais
desenvolvidas, e organismos internacionais, é que se tem conseguido debelar
problemas internos nacionais. Mas, para tanto, de acordo com as
normas atuais de Soberania , essa intervenção somente pode
ocorrer perifericamente e quando chegam a um clímax de ameaça de
desestabilização da Paz entre as Nações ou que causem horror às
organizações humanas fora deles (a que nos referimos desde o início).
E até que os detentores do Poder Local decidam parlamentar e conceder
espaço às sociedades reivindicantes, muito se tem perdido em face a valores e
vidas humanas, nas mais das vezes irrecuperáveis. Procuremos, pois, fazer essa
análise.
A
esta altura, pergunto-me: sendo a Democracia o melhor dos sistemas de
governo, como já ficou provado pela História, por que em nossos dias está havendo uma crise terrível de governabilidade,
não só em países onde impera ainda o
totalitarismo, como no Oriente, mas em
outros com o governo democrático estabelecido há muitos anos ou mais recentemente, a ponto de os cidadãos
estarem sofrendo torturas generalizadas que a todos escandalizam e
espantam? Ou será, como alguns dizem, o
fim do Capitalismo, ou, então, que há um prazo de validade para qualquer forma
de organização política humana?
E a resposta me vem da análise de vários
fatores: Não. A crise é do ser humano, que se desviou da sua rota
evolutiva, deixando de estar à altura dos elevados ideais daqueles
nobres fundadores dos novos Estados Nacionais, que se formaram
a partir da Revolução Francesa, deixando-se
arrastar por um materialismo inconsequente que valoriza o “ter” mais do
que qualquer realidade do “ser”, abafando
os sentimentos mais sagrados dos
direitos naturais do ser humano,
sob um manto da necessidade de um consumismo desenfreado
para manter a máquina política mundial que gira em torno do novo deus
mais adorado da vez : o dinheiro.
Em torno de todo esse emaranhado de conceitos
essencialmente materialistas, o que mais
ambiciona o ser humano é o Poder de
controlar a máquina nacional. E os
cidadãos são a massa de manobra de todas
as tendências políticas, pois são eles que produzem os bens de consumo e, ao
mesmo tempo, consomem o que é produzido,
fazendo, assim, a circulação maior ou menor
do capital necessário à condução
da vida moderna. E nesse trabalho incessante de ser o produtor/consumidor , o
cidadão deixa de ser um cidadão, pois não tem mais tempo ou oportunidade
de dedicar-se ao mister da cidadania ( Aristóteles nos define como
animais políticos) e os seus componentes psíquicos vão-se emaranhando e
finalmente explodem em um grito de revolta
pela perda de seus valores humanos essenciais, sem os quais a vida se torna
insuportável. E, o mais estranho, é que aqueles que foram eleitos por eles nem
percebem o mal que estão causando à sociedade de onde provieram e para a
felicidade da qual, teoricamente,
deveriam dedicar a sua existência, durante o prazo estipulado para o exercício
do seu mandato (ou para toda a sua vida, nos
Estados onde impera a monarquia hereditária).
Um adágio popular moderno nos diz que “um dia chega a conta”. Parece que ela chegou, a
crise é mundial. Tenho visto e lido em noticiário os governantes desses Estados
onde o povo está falando de suas agruras, com um sentimento generalizado de
angústia e revolta, que têm “ouvido a
voz das ruas”. Já escrevi neste blog , em outra oportunidade, que, sim, é
verdade que todos ouvem, pois não temos conhecimento de nenhum governante
surdo, mas será que eles entendem o que ouvem e, entendendo, será que eles
estão dando as respostas adequadas? Aqui e ali acontecem fatos horríveis, o mundo
está horrorizado, os governantes atacando os seus governados, em relação a quem
eles têm o dever de proteger, e
prendem-se ao Poder com mãos tão fechadas quanto garras de aço, sem qualquer sentimento em relação aos seus
semelhantes. Esquecem-se de que, sem o povo, não há Nação, e, sem Nação não há
Estado. E aí, o que fazer para que eles entendam?
3.
Se não têm pão, que comam brioches.
Não, não posso ficar calada em um momento desses. É
verdade que estou fazendo um trabalho aprofundado sobre o assunto e em breve o
levarei a público e tenho conhecimento de outros colegas que também procuram uma
luz filosófica para iluminar esse túnel negro em que poucas pessoas , talvez anestesiadas pelo
pouco preparo que têm em matéria de governar, estão fazendo tantos mergulharem.
E não posso deixar de pensar na infeliz Rainha de França,
que ao escutar as multidões nas ruas de Paris, revoltadas porque não tinham
pão, usando da moda dos aristocratas da época, ousou fazer uma “tirada de
espírito”, brincando com o sentimento humano e disse a frase que ficou célebre para
sempre, para definir os
governantes impiedosos : “Se não têm pão, que comam brioches!”
Hoje, quando o povo clama por mudanças essenciais, não
de pão, mas de direitos inerentes à natureza do ser , os modernos governantes , que até aqui usavam
a técnica romana de lhe dar “pão e circo” , já não os mandam comer brioches, mandam que lhes acertem tiros nas cabeças.
Ah,
tristeza! Tenho rezado incessantemente a Deus, nesses dias terríveis, pedindo que proteja nossa
Humanidade, pois estamos caminhando a passos largos para o final trágico.
Invoco o espírito de nossos mais valorosos antepassados que nos legaram o que
de bom ainda temos em nosso Mundo para
colocar juízo nessas pessoas tão despreparadas : o que está faltando é
bom senso e boa orientação.
Mas,
para que eles venham até nós, e nos tragam a Paz, é preciso que a mereçamos. A
paz está ameaçada, pois ela começa em
nosso coração, e ele está ferido e sofre. Daí ela deve manter-se em nossa psique, para que
possamos racionalizar e materializar atos que desmanchem a violência decorrente
da incompreensão, da inconsequência. Cada um de nós deve elevar seus
pensamentos Àquele em que acredita e
procurar dar sua parcela de contribuição de energias positivas para salvar
nossa humanidade. A única figura que se apresenta aos meus olhos, no momento, é
a daqueles imensos Dinossauros gritando
e agonizando depois de toda a predação que levaram a efeito há muitos milhares
de anos e a Natureza estupefata assistindo à odisseia dos gigantes
inconsequentes — deve ter sido um terrível Apocalipse. O nosso
certamente será mais terrível, pois somos predadores de nós mesmos.
4.
É o Poder que corrompe ou é o Homem que o corrompe?
Quando jovem, não tendo
ainda a experiência de vida suficiente para conhecer na prática a natureza
humana, e não tendo ainda me dedicado ao
estudo das Ciências Humanas, ouvi a célebre frase de Dalberg-Acton , dizendo que “o poder tende a corromper e o poder
absoluto corrompe absolutamente”, e acreditei então que o ser humano era a
pobre vítima desse terrível monstro.
Cedo
comecei a trabalhar e exerci minhas atividades sempre muito próxima ao Poder ,
até que passei a ser um “Órgão do
Poder”, eis que o Juiz de Direito não é um funcionário, mas um órgão, conforme
a nossa e as outras Constituições do Mundo Civilizado o definem. E dessa prática pude observar o seguinte :
— existem inúmeras pessoas, homens e mulheres, que nunca se
corrompem quando no Poder, em número muito maior do que aquelas que se
corrompem; e existem também inúmeras pessoas
que se deixam corromper;
— se todas as pessoas que detêm o Poder fossem
corruptas ou corrompidas nossa Humanidade há muito tempo já teria entrado em
crise;
—
as pessoas sérias e honestas trabalham incessantemente e a mídia não faz alarde
de suas honrosas vidas e atividades, a não ser, por vezes, no dia em que as mesmas
morrem e depois as esquecem; em contrário, as pessoas
corruptas são as mais apontadas e a
repetição de seus atos, na mídia, nos dão a impressão de que são mais numerosas;
— as estatísticas que
estabelecem os índices de corrupção nos diversos países contam esses números
pelos resultados e não pelo número de pessoas envolvidas nos atos corruptos :
por vezes um só elemento dentro de um governo é capaz de levar a efeito
atos inúmeros e de elevada
periculosidade, muito mais do que se
diversos indivíduos estivessem envolvidos;
—
a corrupção é um crime de difícil prova, geralmente é detectada pelos seus
resultados e seus efeitos, pois é feita
às escondidas;
—
ao analisarmos a vida pregressa de um corrupto identificado, podemos observar
que, mesmo antes de galgar o cargo ou
função onde se deu o fato, a sua trajetória foi
marcada por atos desabonadores de caráter, com pouca ética;
-
o Poder possui um lado glamoroso, que atrai as pessoas pouco éticas como a luz
atrai as mariposas, mas possui um lado árduo, de dedicação à coisa pública e ao
povo, que tira ao seu detentor anos de vida, que não perderia se ficasse em suas atividades
comuns – como exemplo mais recente podemos citar o atual Presidente dos Estados
Unidos da América, Barak Obama, que, tendo assumido o cargo com os cabelos
completamente negros, já ao final do seu primeiro mandato os apresentava quase
brancos, como hoje, sendo um homem tão novo;
—
para o estresse diário e incessante que
o Poder exerce sobre o indivíduo é necessário que o mesmo possua saúde física e
psíquica robustas para seu enfrentamento;
—
o Poder é extremamente solitário , e, quanto maior for a parcela
atribuída a um indivíduo, mais solitário e isolado este se torna, eis que suas
decisões são mais sérias e atingem maior
gravidade e também se torna alvo mais visado e permanente de oficiais da administração com intenções pouco éticas — por isso, a divisão de poderes que se deu a partir da implantação das Democracias no Ocidente é considerada uma extraordinária evolução , dividindo
responsabilidades e criando sistemas de freios e contrapesos; nesse ponto é que
a frase de Dalberg-Acton, que fala de
corrupção absoluta no poder absoluto não está em consonância com a realidade ;
—
o exercício do Poder exige bom senso, equilíbrio e boa orientação, devendo o
seu detentor cercar-se de pessoas capazes e corretas.
De
todas essas observações e de outras mais, cheguei à conclusão,
contrariamente ao que nos diz a tão repetida frase do
famoso historiador britânico citada acima, que o Poder não corrompe as pessoas. São as
pessoas já com tendências pessoais para
o desvio de conduta ou então psiquicamente despreparadas para o seu
exercício é que encontram nele a oportunidade de exteriorizarem essa faceta de
sua personalidade. Talvez se nunca tivessem chegado ao Poder, nunca
tivessem delinquido, justamente porque não teriam tido a oportunidade adequada e,
assim vistas pelos demais, passariam perfeitamente como cidadãos honestos.
Em
nossos dias muitas facilidades são
encontradas para pessoas ou grupos de pessoas despreparadas chegarem aos
mais altos cargos, em qualquer parte do Mundo. Por outro lado, também muitas
facilidades são dadas para pessoas extremamente qualificadas chegarem até lá.
Essa é a grande oportunidade que a
Democracia nos fornece e vários Estados
no Mundo estão a demonstrar exemplos de um de outro caso. Tudo vai depender,
também, do grau de cidadania e
educação do povo que compõe a sociedade de cada país. Quanto mais forem respeitados os
direitos naturais humanos de uma sociedade, notadamente a educação, a
instrução, a saúde e a justiça, então mais vigorosa e eficaz se tornará sua
Democracia.
5. A visão psicológica e sociológica
Do
ponto de vista Psicológico, coloco a
seguir a explicação do elemento “Sombra” que Jung demonstra existir em
todos nós, seres humanos, por mais evoluídos que possamos ser dentro da escala
de normalidade de nossa espécie, nos dias de hoje. A maior ou menor capacidade
de dominar e até reduzir a quase nada esse elemento é que vai nos tornar pessoas
éticas e capazes de realizar atos de
grande valia, fazendo-nos evoluir. É, de qualquer forma, a mesma “marca” do ser
humilde e brutal do qual evoluímos,
segundo a teoria das espécies que apontou a evolução do Homo sapiens, segundo
Darwin, e que ainda carregamos em nós, segundo ele mesmo afirma em seu conhecido livro. Tanto em nossa vida particular como
cidadãos comuns, como ao nos
tornarmos detentores do Poder, devemos
cuidar para que, cada vez mais, deixemos
de sofrer as influências de nossa “sombra”:
A SOMBRA
Um homem de 33 anos, despedido de seu
emprego durante um escândalo político, viu-se como uma vítima no sonho descrito
a seguir, onde o arquétipo da sombra prevalece:
“Estava numa sala, conversando com alguém – não sei muito bem quem
era, podia até ser eu mesmo. Saí da sala , mas, por alguma razão, virei-me e
voltei para lá. Abri a porta e me vi, em pé, do outro lado da sala. Ao olhar
para a esquerda, vi outro homem de costas. Ele se virou e pude ver que também
era eu. E parecia muito surpreso em me ver. Enquanto eu o encarava, seu rosto
começou a se transformar em algo muito grotesco, num animal monstruoso. Fiquei
apavorado com a cara do monstro e horrorizado ao compreender que todas aquelas
pessoas eram na verdade partes diferentes de mim mesmo. O homem do outro lado da
sala viu meu pavor e falou: ‘Eu disse para não voltar; você deveria ter batido
antes de entrar. Agora você sabe'."
O arquétipo da sombra, simbolizada com o
mesmo sexo do sonhador, em geral, representa o lado mais escuro e reprimido do
caráter — a parte que a maioria das pessoas prefere não encarar em vigília,
porque não “combina” com sua autoimagem . O sonhador citado, por exemplo,
via-se como um agente de boas ações e culpava os outros por seus problemas,
dizendo-se perseguido. Esse sonho explícito revelou o desconhecido para ele :
dentro de si existiam lados inconscientes que podiam ser monstruosos. Até
então, o homem conseguira reprimir ou esconder muito bem, dele mesmo, as
facetas destrutivas. Ao expor essa sombra em toda sua verdade terrível, diz
Bernstein, o sonho forçara o homem a aceitar a responsabilidade por suas ações.
Apesar de o arquétipo da sombra em geral
surgir em sonhos com roupagem ameaçadora ou repugnante , para ser rejeitado, consegue
oferecer ao sonhador algumas revelações úteis sobre seu próprio eu interior, as
quais, depois, podem se integrar a sua vida em vigília. Ao reconhecer-se em
uma sombra fria e desagradável, por exemplo, uma pessoa talvez se arme de
coragem para se tornar mais calorosa e complacente em suas relações com os
outros. Em se tratando de um arquétipo, a sombra tende a assumir caracteres
positivos ou negativos. Por exemplo: a sombra de uma pessoa dócil talvez
passe pelo sonho como um personagem forte e trabalhador, com qualidades que o
sonhador poderia assimilar. (Texto
extraído de “No Mundo dos Sonhos”, Série “Mistérios do Desconhecido”, Editora
Abril, Livros Ltda., 1992, página 95)
Do
ponto de vista Sociológico, vem-nos a afirmação de Émile Durkheim, para explicar o comportamento de revolta de
várias sociedades ao mesmo tempo, frente ao desrespeito ao seus direitos
individuais. Ele, que é considerado
o iniciador da Ciência da
Sociologia, nos informa que o fato
social, pela sua própria natureza de
sociabilidade, é essencialmente geral, ou seja, aplica-se a todos ou à maioria dos indivíduos dentro
da coletividade :
Cabem essas afirmações tanto no que se refere ao exercício do Poder quanto daquele que a ele se submete, voluntariamente (pelo voto em pleitos eleitorais), ou não . Se, em determinado momento, um grande número de pessoas se reúne , cada indivíduo passa a sofrer também a influência da massa. E, integrado a ela, novas facetas de sua personalidade podem aflorar : é o caso de manifestantes que, longe da sua inclusão nela, têm comportamentos diversos e, por vezes, inteiramente opostos, como se fossem duas personalidades diversas. O comportamento humano por influência das massas tem sido objeto de estudo sociológico e psicológico específico.
6. Conclusão
Na Bíblia, há uma indicação do Poder entre os homens tendo sido oferecido pelo Demônio a Cristo, como tentação para que o mesmo desistisse da salvação da Humanidade.
Quer se tenha a Bíblica como um Livro Sagrado que nos apresenta as Verdades, ou então se entenda ser uma Antologia de Parábolas, ninguém consegue negar a grande sabedoria que é colocada nos fatos ali narrados. Não são fatos históricos, pois não se trata de um livro de História Antiga, embora muita coisa nesse sentido se possa compilar ali, notadamente no que tange a Estados e Impérios e Reis e Imperadores que realmente existiram. Então, colocada a figura da tentação pelo glamour do Poder, oferecida a um homem acima de tudo íntegro e o mais aproximadamente possível da perfeição que se possa imaginar, Jesus Cristo, ele não achou o Poder Absoluto sobre o Mundo tão importante quanto fazer evoluir a Humanidade. E isso é uma grande lição para todos nós : acima do Poder Humano está a Evolução Humana.
... mas , poderão objetar, um
fenômeno não pode ser coletivo se não for comum a todos os membros da
sociedade, ou, pelo menos, à maioria deles; se não for geral, portanto. Sem
dúvida; mas se ele é geral, é porque é coletivo (isto é, mais ou menos
obrigatório) , e está bem longe de ser coletivo por ser geral. Constitui um
estado do grupo que se repete nos indivíduos porque se impõe a eles. Está longe
de existir no todo devido ao fato de existir nas partes; mas, ao contrário,
existe nas partes porque existe no todo. (Durkheim,
Émile – “As Regras do Método Sociológico”, 5ª. Edição. Editora Nacional, S.
Paulo – 1968 – pág. 8)
Cabem essas afirmações tanto no que se refere ao exercício do Poder quanto daquele que a ele se submete, voluntariamente (pelo voto em pleitos eleitorais), ou não . Se, em determinado momento, um grande número de pessoas se reúne , cada indivíduo passa a sofrer também a influência da massa. E, integrado a ela, novas facetas de sua personalidade podem aflorar : é o caso de manifestantes que, longe da sua inclusão nela, têm comportamentos diversos e, por vezes, inteiramente opostos, como se fossem duas personalidades diversas. O comportamento humano por influência das massas tem sido objeto de estudo sociológico e psicológico específico.
6. Conclusão
Após essa exposição, explico a inclusão das frases logo ao início, abaixo do título. O ser humano, apesar do que algumas pessoas imaginam, não é perfeito. Sendo assim, as suas obras também seguem essa sua característica.
Na Bíblia, há uma indicação do Poder entre os homens tendo sido oferecido pelo Demônio a Cristo, como tentação para que o mesmo desistisse da salvação da Humanidade.
Quer se tenha a Bíblica como um Livro Sagrado que nos apresenta as Verdades, ou então se entenda ser uma Antologia de Parábolas, ninguém consegue negar a grande sabedoria que é colocada nos fatos ali narrados. Não são fatos históricos, pois não se trata de um livro de História Antiga, embora muita coisa nesse sentido se possa compilar ali, notadamente no que tange a Estados e Impérios e Reis e Imperadores que realmente existiram. Então, colocada a figura da tentação pelo glamour do Poder, oferecida a um homem acima de tudo íntegro e o mais aproximadamente possível da perfeição que se possa imaginar, Jesus Cristo, ele não achou o Poder Absoluto sobre o Mundo tão importante quanto fazer evoluir a Humanidade. E isso é uma grande lição para todos nós : acima do Poder Humano está a Evolução Humana.
Einstein, nos faz lembrar que o Poder Perfeito somente pode ser exercido por um Ser Perfeito, no caso, Deus, quando nos diz que Ele não joga dados com o Universo. E afirmar isso significa que Ele mesmo se coloca a agir dentro de Suas Leis, respeitando a sua Criação. Sendo assim, o único bom governante é aquele que sabe fazer as leis e ao mesmo tempo se submeter a elas. E somente quando o Homem, quer como indivíduo, quer como Humanidade, atingir alguma perfeição, é que poderá realmente governar as suas sociedades de uma forma ideal. Enquanto isso, devemos lutar para evoluir. Não é fácil, mas é necessário. Acredito que um dia, não amanhã, mas bem mais distante, com certeza chegaremos lá - enquanto isso, cada um de nós deve fazer sua parte, quer como um indivíduo em si, quer como componente do todo a que pertencemos.
Nota: Hoje, ao postar essa matéria, ouvi nos noticiários matutinos que o presidente da Ucrânia, finalmente, fez um acordo com a oposição em seu país, e assinou tratado com a União Europeia, tendo marcado eleições presidenciais antecipadas para dezembro, encerrando a dolorosa ocorrência social, que enlutou a Humanidade. Para tanto valeu a interferência das Nações Organizadas do Mundo, o que me enche de esperanças quanto ao futuro. Quiçá se obtenha também igual resultado para a não menos sangrenta e dolorosa para todos nós guerra civil que se alastra ainda na Síria, país que , no passado, tantas contribuições trouxe para a História Humana.
__________
(*) “Uma suposição primordial da nossa tipologia é que essas reações ocorrem com frequência diferente dentro de vários subgrupos de nossa sociedade, precisamente porque os membros de tais grupos ou estratos são diferencialmente sujeitos ao estímulo cultural e às restrições sociais”. Merton, Robert King – “Sociologia- Teoria e Estrutura”, São Paulo, Ed. Mestre Jou, 1970, pág. 213.
(**) Introdução de Paulo Matos Peixoto à primeira edição de “Vidas Paralelas”, de Plutarco, 1991, Editora Paumape, São Paulo, página 9.
(***) Idem, página 10.