VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE NEGATIVA NO SER HUMANO
ALGUMAS DE SUAS FACETAS
1.Bernard Shaw 2.Profeta Isaias 3. Gautama Buda 4.Albert Schweitzer 5. Maynard Smith
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1. "Os animais são meus
amigos...e eu não como meus amigos."
2. "Quem mata um boi é como o que tira a vida a um homem." -
Isaías 66:3
3. "O homem implora a
misericórdia de Deus, mas não tem piedade dos animais, para os quais ele é um
deus. Os animais que sacrificais já vos deram o doce tributo de seu leite, a
maciez de sua lã e depositaram confiança nas mãos criminosas que os degolam.
Ninguém purifica seu espírito com sangue. Na inocente cabeça do animal não é
possível colocar o peso de um fio de cabelo das maldades e erros pelos quais
cada um terá de responder."
4. "O erro da ética até o momento tem sido a
crença de que só se deva aplicá-la em relação aos homens." 5."Coloque uma criança pequena num chiqueirinho, com uma maçã e um coelho de verdade. Se ela comer a maçã e brincar com o coelho, ela é normal; mas se ela comer o coelho e brincar com a maçã, eu lhe compro um carro novo. Em algum momento ao longo de nosso trajeto, fomos ensinados a fazer a coisa errada."
1.
Introdução
Apresentei,
logo ao início, cinco grandes nomes que
também se preocuparam, como eu, em melhorar a situação da violência humana, e coloquei algumas de suas
inúmeras frases procurando abrir os nossos olhos para uma pequena radícula da árvore perniciosa,
para mostrar que a violência, que se inicia contra os animais, vai penetrando
no pensamento humano como algo natural e
deturpa a sua agressividade como instinto de preservação e a transforma em negatividade,
como instrumento de prazer em fazer sentir dor. E daí em diante é apenas um passo.
Há
muitos anos venho me dedicando ao estudo
da violência, procurando entender suas causas e formas de combate. Pude
observá-la de perto, nos processos a que tive acesso como Promotora de Justiça
e Juíza de Direito, além de ter acompanhado, socialmente, a sua crescente e rápida incrementação no seio de nossa
sociedade, a partir dos anos 80 do século passado.
Todas
as entidades a quem encaminhei os projetos os elogiaram bastante, em documentos
formais, mas informaram-me uma razão sempre repetida para se negarem e a leva-los
a efeito: a falta de verba para tanto. Somente a ONU os acolheu plenamente e pude realizar um “piloto”
dos mesmos na Conferência Rio Mais Vinte.
Indago se a alguém interessa a manutenção da
violência humana: se às indústrias que lucram com a venda de equipamentos
bélicos, se às indústrias que fomentam a
elaboração de jogos digitais explorando
a herança do ser primitivo que nos gerou, que é o prazer no levar a efeito
atitudes de negatividade agressiva. Ou, então, se interessa a grupos de pessoas
mal orientadas, que têm por filosofia de
poder deixar a vida em sociedade atingir níveis insustentáveis para mais tarde oferecer suas asas poderosas,
à forma de um “salvador da pátria”, prometendo sempre aumentar serviços cada
vez mais dispendiosos de segurança pública, ou, então, se ao ser humano, individualmente,
como corolário de uma grande “selva de pedras”
em que se tornaram as nossas
cidades e países?
Enfim,
parece mesmo que “santo de casa não faz milagres” e somente um organismo internacional
examinou e observou a necessidade
de colocação do tema de solução da criminalidade, ao menos como início de execução de uma programação muito extensa ( a
ONU). E , dessa forma, tenho continuado o meu trabalho em prol dessa solução, incentivada pelo acordo desse
Organismo Maior da Humanidade. E
continuo com as minhas palestras, inclusive no Youtube, com os meus artigos
publicados em várias mídias e escrevendo livros sobre o assunto, incentivada
por sentir os seus efeitos em leitores que me procuram e discutem o assunto
comigo. É um trabalho individual que, pouco a pouco, vai trazendo para a sua
defesa pessoas interessadas nas mesmas melhoras que almejo para a nossa sociedade.
Por
outro lado, mais uma vez chamo a atenção
para o perigo que se encerra na capacidade humana de se adaptar a tudo e a tudo
achar natural, até mesmo o nível de violência que estamos vivenciando hoje. Isso
impede a nossa evolução como entes vivos
e participantes da natureza planetária, predadores das outras espécies e faunas
e predadores de nós mesmos, para ao final
nos levarmos à destruição total. A seguir, transcrição dos trechos do
meu livro, de 2011, intitulado “Delinquência Juvenil – Infraestrutura da Criminalidade Adulta” (pp.123-130):
2. A
agressividade negativa influenciando a personalidade
Além da conceituação da personalidade,
para o posicionamento deste tema, há de
ser feita a colocação do papel da agressividade a nível
individual e social, influenciando na tendência a delinquir, do ser
humano.
Invocamos,
assim, durante a exposição, os estudos de Mira y Lopez, dedicados à psicologia jurídica, bem como os de Freud,
Lorenz e Adler.
"A pessoa é una, inteira
e indivisa, e como tal deve ser estudada
e compreendida pela ciência. Desapareceu a barreira entre o físico e psíquico do ponto de vista
funcional: ante um estímulo físico não é o corpo quem reage, e
ante um estímulo psíquico não é a alma quem responde, mas sim, em
ambos os casos, é o organismo em sua totalidade, ou seja, a pessoa,
quem cria a resposta.”
Enfatiza Mira y Lopez a base
somática da personalidade. Segundo
essa concepção, o organismo
humano se estrutura em uma série do que ele chama de
“níveis funcionais”, cada um dos quais atua sob o comando dos centros nervosos (central ,
periférico), que, por sua vez, se escalonam na direção ascendente, formando
sempre uma “cola de caballo” (cauda de cavalo) e o “eje
céfalo-caudal” (eixo céfalo-caudal). A eles se acrescentando os “lobos
frontais”. A seguir, ele indica o que seriam 6 estágios de organismos, desde o somatipo
normal até o correspondente ao neurologicamente decerebelado .À medida
que o nosso organismo se eleva em estatura, com o crescimento, esta cauda cérebro-espinhal também se desenvolve, numa mais complexa estrutura
e integração funcional. E os centros
nervosos reagem por estímulos (tudo o que é capaz de provocar uma impressão
consciente ou sensação), dando origem e vazão aos sentimentos (“...a
tradução consciente das tendências de reação originadas por nossas impressões.”).
Sobre essas emoções primitivas ligadas à
tendência defensiva ou ofensiva, características da base do sentimento de conservação individual
que atua na agressividade proveniente de
fatores exógenos , entende-se que devem
atuar todos os mecanismos inibidores educacionais. Porque, aliados a ideias ou
conceitos absorvidos pela personalidade, principalmente em sua formação, vão
fazer surgir o que Mira y Lopes denomina
“estados afetivos secundários”,
que podem conduzir à criminalidade.
Os estados afetivos secundários podem também
surgir da combinação entre aquelas três
emoções primitivas e são eles a
alegria, a tristeza, a inveja, a desconfiança, a ansiedade, a vergonha,
etc..
Sob uma ótica apenas científica, podemos afirmar que a pobreza não é, por si, um fator facilitador
da criminalidade de um indivíduo. Contudo, a comparação da sua situação
de pobreza ou miséria
econômico-financeira, que um indivíduo faz com a de abastança de grande contingente da população , aliada à ideia, certa ou
errada, de que não tem, normalmente, condições de atingir níveis desejáveis de
abastança da sociedade de consumo que
lhe são apresentados a cada passo, e de que seria justo para ele possuí-los, desde que deles toma conhecimento, faz surgir nele os estados
afetivos secundários que o levam
à transferência da agressividade negativa
e à criminalidade. Assim, tomando-se parâmetros de comparação, a pobreza é um fator
facilitador, e não pode ser considerada
isoladamente.
Em uma escala de valores que vá de zero a infinito, sendo zero o ponto de inércia, podemos afirmar, com certeza, que no processamento de seleção natural das espécies, considera-se o ser agressivamente inerte, no reino animal, como inexistente ou morto. A propósito, Lorenz afirma que os seres vivos lutam uns contra os outros porque, “na natureza, a guerra está onipresente” e que “a agressividade de muitos animais para com os próprios congêneres não prejudica a espécie, mas é, pelo contrário, essencial à sua conservação”. (Em comentários citados por Álvaro Mayrink da Costa, in “Criminologia”, vol. II, 18ª. ed.,pág. 57).
Uma
pequeníssima mudança aparentemente insignificante, nas condições do meio
ambiente, pode desequilibrar completamente todos os mecanismos do comportamento
inato. E se a espécie é capaz de se adaptar rapidamente a essa modificação e a
outras, resulta sua preservação. Caso
contrário, ocorre a sua destruição.
Ora,
as mudanças que o ser humano produziu no
seu próprio “habitat” estão longe de serem insignificantes. E, se um
observador imparcial de outro planeta
olhar o homem tal como é hoje — com uma bomba de origem nuclear, produto de
sua inteligência, em suas mãos, e, no coração e no cérebro, o instinto de
agressão nos níveis elevados herdados de
seus antepassados antropoides e que foi
incapaz de dominar por sua razão — , estando distorcidos seus
valores inatos dentro da atual sociedade anômica a que pertence, não
profetizará, certamente, longa vida à humanidade.
Em 1930, Freud reformulou alguns de seus conceitos iniciais
sobre os instintos, e, a partir de 1923,
quando escreveu o seu estudo “The Ego
and the Id”, apresentou uma nova dicotomia : “a do(s) instinto(s) de vida
(Eros) e do(s) instintos(s) de morte”. Assim descreveu a nova fase teórica :
“Começando
com especulações sobre a origem da vida e de paralelos biológicos, cheguei à
conclusão de que, além do instinto para preservar a substância viva, deve haver
um outro instinto contrário, que procura
dissolver essas unidades e fazê-las retornar ao seu estado primordial, inorgânico. Quer
dizer, assim como há Eros, há também o instinto de morte”. (Freud,
citado por Álvaro Mayrink da Consta, op.cit., pág. 138).
Lorenz, na sua obra “On Agression” , assim
como Freud, reconhece que a agressividade humana é instinto que, ao
contrário do que muitos preferem
acreditar, não é produto de fatores
biológicos longe do nosso
controle, mas também não nega que possa ser alimentado como reação a
estímulos externos.
Tanto o modelo de Lorenz quanto o de
Freud representam o chamado “conceito
hidráulico”, ou dos “vasos
comunicantes”, pois explicam o mecanismo da agressividade à maneira da pressão exercida pela água represada ou pelo vapor dentro de
um recipiente fechado, em comunicação com outro.
Não se nega, aqui, esse fato, antes, até por nós reconhecido. Mas não menos verdade é que, figurativamente, (a) o rompimento do recipiente que represa o líquido ou (b) a explosão do continente do vapor (no sistema dos vasos comunicantes) dependem, também , de fatores exógenos. Tais como, para o primeiro caso, a boa ou má estrutura das paredes e a qualidade do material empregado, a técnica mais ou menos avançada utilizada, o constante exame e observação dos mecanismos de controle do volume da água, com o atendimento do nível máximo suportável, etc.. E, quanto ao segundo, da qualidade do material de fabricação do recipiente, das válvulas de escape e das temperaturas a que é submetido. Assim também sucede com os instintos : se, de um lado, criam-se situações favoráveis ao instinto de morte e desfavoráveis aos de vida, fatalmente Eros perecerá. Ou se este é submetido a condições que o distorçam, então se transformará em instinto de morte. E tais condicionamentos tanto podem ser endógenos como exógenos.
2.4 – Inadaptação social do indivíduo
Estudos mais recentes, especialmente os levados a efeito por ADLER, nos moldes da “escola ecológica”, demonstram que o homem , em nossos dias, transformou-se em um ser essencialmente social : hoje cada indivíduo tem uma parcela de atividade, especializando-se nela e dependendo dos outros para atender às solicitações de sua vida, dentro da sociedade em que atua, nos outros setores em que não emprega efetivamente a sua força de trabalho ou o seu “know-how”. E é motivado pelas “solicitações sociais”. E, de acordo com as suas atividades e com as solicitações que consegue atender, surgem para ele os conceitos de “status”, papel, estilo de vida, componentes estes de uma “psicologia social”.
Também como Jung e Freud, Adler manifestou uma preocupação biológica no estudo da agressividade e afirma, com eles, a existência de uma natureza inerente ao indivíduo, genericamente considerado, que dá forma à personalidade do homem, mas deu ênfase à influência que sobre esta exercem as “determinantes sociais do comportamento”.
2.5 – Emoções secundárias e instintos distorcidos
De
qualquer sorte, no seu contato diário com os seus semelhantes, componentes do
mesmo grupo social (sem levarmos em conta, de início, a estratificação
existente na maioria das sociedades modernas),
o indivíduo sofre várias pressões, que vão aumentando em quantidade e espécie à medida
que a sociedade aberta vai-se fechando, pelo excesso populacional e pela
aglomeração das pessoas nos núcleos
urbanos, desordenadamente. E surgem, assim, com maior intensidade , as
frustrações, que são consequência dos
sentimentos elementares recalcados e de
emoções secundárias, proliferando,
desenfreadamente , para compensá-las na satisfação do “Ego”. As frustrações
alimentam, então, os mecanismos da agressividade negativa, ou seja, em resumo ,
os mesmos que realimentam os instintos de morte caracterizadores de cada tipo
somático, em sua agressividade natural, herança ancestral e resposta ao
desprazer.
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