sábado, 31 de agosto de 2013

GERAÇÃO DESPERDIÇADA : SERÁ MESMO? III

 
GERAÇÃO DESPERDIÇADA: SERÁ MESMO?III

                                                              Parte   III

                      INCLUSÃO   SÓCIO-ECONÔMICA  DOS JOVENS        


                                                                                



1. Introdução
 
                    Não somente os cientistas devem observar a natureza para deduzir  empiricamente  as leis  que regem  a  realidade em que vivemos. Todos nós, tanto para uma sobrevivência  pessoal, quanto social,   temos necessidade de desenvolver uma estratégia de vida  em consonância com   os princípios  adequados à evolução da espécie e, nesse sentido, devemos observar  o que normalmente ocorre  à nossa volta, para nos comportarmos  de maneira  a obter os melhores resultados, pois, queiramos ou não,  estamos integrados a um meio ambiente do qual somos partes e, não, elementos superiores e  separados que consigam  existir sem a cooperação recíproca.

 
                        Num sentido biológico ou sociológico, há de se recordar  que um dos aspectos principais de uma sociedade  é a existência da  proteção  das novas gerações (sobreposição das gerações),via parental. E  esse aspecto particular é observado naturalmente  em  todos os mamíferos superiores  que conseguiram sobreviver aos grandes desastres ambientais de nosso planeta : chegados aqui antes dos humanos, praticam, há milênios, efetivamente, a proteção  integral  dos seus componentes na sua  infância e  juventude,  com uma responsabilidade  compartilhada por todos os seus membros, fato que  ainda não conseguimos entender plenamente  e para o qual  só há pouco tempo, a partir da “Declaração Universal dos Direitos das Crianças”, em 1959, tivemos nossa atenção  direcionada. 
            
                    São dois os exemplos mais conhecidos. Nas manadas dos elefantes, todos os filhotes são colocados, sempre, em um local central, cercados por todas as fêmeas adultas, que os protegem com amor maternal, a ponto de nossos  estudiosos  as cognominarem de “tias”. Os golfinhos  têm um comportamento social muito desenvolvido, também : no momento do parto, a fêmea se afasta do grupo e é acompanhada por outra, que faz as vezes de “parteira”. O cuidado parental é enorme : os pais estão sempre  perto do filhote, até este  ficar adulto  ;  quando um tubarão se aproxima  dele, o pai vai em frente e luta com o predador, enquanto a mãe  fica resguardando o pequeno. Os cientistas têm estudado várias espécies desse maravilhoso cetáceo e  puderam  verificar , em vários casos  , que componentes da sociedade deles assumem os cuidados parentais  de filhotes de outros elementos do grupo, o que indica  o forte sentimento  da necessidade  de preservar as gerações futuras.
 

 2.  Estratégias a  curto prazo – medidas genéricas                           

 
1ª.  – criação de um órgão  coordenador e executor  da política de Estado para a infância e a juventude, a nível de Secretaria de Governo Federal,  com órgãos congêneres nos Estados e nos Municípios;                              

2ª.  – elaboração de plano plurianual  para a política de  educação multidisciplinar  e incentivos ao desenvolvimento  da saúde física e psíquica , da moralidade  e ética  e da cultura  para as crianças e jovens;

3ª.  – elaboração de planos  anuais para execução das políticas estabelecidas no plano plurianual, com metas  e prazos  estabelecidos;

4ª.  – alocação de verba orçamentária extraordinária para a implantação da Secretaria de Estado de Coordenação de Políticas para a Infância e a Juventude e  para a execução do primeiro plano  anual de política para a infância e a juventude, devendo, a partir do exercício seguinte, ser esta verba  objeto de previsão orçamentária ordinária ou suplementar;

5ª. – exigência de cursos especializados em  problemas infantis  e juvenis para  Juízes e Curadores da Infância e da Juventude;

6ª. – subordinação dos crimes previstos nas leis de repressão ao tráfico ilícito de substâncias entorpecentes à  Lei de Segurança Nacional; e competência judiciária federal para o crime de tráfico;

7ª.  -  maiores  poderes à Polícia Administrativa e Judiciária no combate à criminalidade, com maior extensão da exclusão da ilicitude  prevista no  art. 23, do Código Penal, quando no cumprimento estrito do dever,  fornecendo-lhes  armamentos  de alta tecnologia e formação de especialistas  em  inteligência;

8ª. – concessão de maior  poder disciplinar aos  professores e diretores  em toda a rede de ensino escolar, em todos os níveis , quer  do setor  público, quer do setor privado ,  na imposição de disciplina  nos espaços interiores dos respectivos educandários, garantindo-lhes segurança no cumprimento do dever;
                                          

 9ª. – obrigatoriedade  (e não apenas  faculdade) de existência de  assistência psicológica por profissional  capacitado em curso superior, permanentemente,  em todas as escolas da rede estatal e particular com o fim de :  atendimento personalizado aos alunos e seus pais, sempre que houver  fundada suspeita de comportamento desviante de qualquer um desses segmentos; elaboração de relatórios  mensais  genéricos, a respeito dos acontecimentos observados no educandário; reuniões mensais com os professores  para orientação e detecção de problemas ocorrentes  nas salas de aula, para efeito preventivo — profissionais  preferentemente  fazendo parte do corpo de funcionários do  Estado ou Município a que se subordine o estabelecimento de ensino;


10ª. – inclusão, desde o currículo do primeiro grau, em  todas as escolas estatais, de ensino profissionalizante técnico, adaptado às profissões peculiares à demanda de mão-de-obra  no mercado de trabalho atualizado; elaboração de  planos e programas de desenvolvimento regional , com vagas obrigatórias em empresas e indústrias, da condição de “estagiários” — esse item se destina a que todo estudante  da rede pública tenha o direito de já  sair  da escola com um conhecimento técnico que  lhe possibilite a  imediata inserção social no  trabalho de acordo com sua idade, dando-lhe perspectivas  de um futuro melhor e ocupando-o, enquanto ainda estuda, com alguma atividade  prática do  currículo escolar, que lhe imprima maior interesse  pelo estudo;                  
          
11ª. -  inclusão, no currículo de todos os graus, em todas as escolas, estatais ou particulares, com a frequência obrigatória do aluno, valendo nota ou conceito,  de palestras  sobre princípios religiosos, levadas a efeito por  representantes das religiões legalmente reconhecidas, com as quais  a diretoria da escola manterá  convênios  para esse fim  (este item, além de se destinar à introdução  da criança ou adolescente ao conhecimento religioso, tem por finalidade  oferecer ao futuro adulto  uma mentalidade ecumênica, com a prática do respeito  à liberdade de culto e de ideias, essencial para a paz em sociedade);

12ª. – inclusão, no currículo de todos os graus, em todas as escolas, estatais ou particulares, de aulas obrigatórias de moral, cívica  e ética, ministradas  em forma adequada a cada  nível e idade escolares, valendo nota para aprovação final em cada nível de escolaridade;

13ª. – inclusão, no currículo de todos os graus, em escolas públicas e particulares, como disciplina obrigatória, de ginástica olímpica, em todos os seus modelos;
 

                                                       

                     
14ª. -  desapropriação pelos governos  federal, estadual e municipal, de áreas destinadas à implantação de creches e orfanatos e instituições educacionais,  de preferência aqueles locais onde já  exista uma  edificação, para o imediato início de assistência a menores em situação irregular;
 
15ª. -  aproveitamento de pessoas idosas, aposentadas  ou não, para  funções de ensino e orientação  moral, cívica e ética, após submetidos a cursos  especializantes , tanto nas escolas  quanto nas instituições destinadas à educação  do menor carente  de atenção doméstica ou com desvio de conduta, acompanhados por psicólogos;

16ª. – ensino obrigatório da música em todos os níveis escolares, constando de um currículo mínimo de   conceitos iniciais  de solfejo, de  canto  orfeônico, conhecimento dos instrumentos musicais  e orientação  vocacional ; letra e música de todos os Hinos Nacionais Brasileiros;

                                  
       
17ª. – obtenção de recursos para a efetivação  das medidas acima indicadas mediante destinação de verbas orçamentárias públicas ou  verbas do setor privado, através de  incentivos fiscais a pessoas físicas e jurídicas, a nível federal, estadual e municipal, em ação conjunta,  mediante convênios  ou colaboração;

18ª. – instituição de um  Fundo Financeiro para a administração dos recursos destinados às  recomendações 12ª. e  13ª. supra;
 
19ª. -  tipificação como abandono de recém-nascido , alterando-se  o art. 134 do Código Penal, acrescentando-se ao  “caput” a expressão : “... ou não lhe reconhecendo a paternidade ou maternidade”, e um parágrafo terceiro,  quando houver desistência voluntária ou arrependimento eficaz :
           
                                                                       “Art. 134 . Expor ou abandonar recém-nascido,    para ocultar desonra própria,  ou negar-se a reconhecer a sua maternidade ou paternidade.

                                                        Pena -  detenção, de  6(seis) meses a 2 (dois) anos.”          

                   § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

      Pena - detenção, de um a três anos.

                 § 2º - Se resulta a morte:

    Pena - detenção, de dois a seis anos.

                § 3º. – Aplica-se o  artigo 15 desta Lei se  o agente, voluntariamente, reconhece a sua maternidade ou paternidade .”   
 
20ª. – informação à Prefeitura, pelos  Oficiais  do Registro Civil de Pessoas Naturais, do respectivo município, todos os nascimentos durante o  ano, para que seja feito um cadastro  de todos os recém-nascidos , com o fim da aplicação  de medidas sociais de desenvolvimento, incluindo a obrigatoriedade de matrícula em escola, atingida a idade  prevista em lei; as organizações do terceiro setor , atuantes na área da infância e da juventude,  deverão ter acesso a esses dados, sigilosos, para efeito de atuação – encaminhamento obrigatório de uma via ao órgão indicado na 1ª. Recomendação supra ,uma  para o órgão de identificação  e outra para o IBGE -  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;
 
                                                           
                                
 
21ª. – concessão de registro provisório  de professores leigos  , mediante “pró-labore” por aulas efetivamente dadas,  a pessoas com  nível de escolaridade  média a superior,  notadamente pessoas aposentadas , em municípios  que carecem de professores diplomados, incluindo a capital e  as áreas rurais dos estados  e territórios  da Federação -  essa atribuição  também pode ser  levada a efeito por organizações do terceiro setor  da sociedade, representado  por organizações não governamentais, devidamente   regulamentadas pelo Estado.

                  Procura-se, com as medidas acima expostas, a par das já existentes, atrair as pessoas de renda mais baixa às escolas, com o ensino profissionalizante, possibilitando também uma vazão à agressividade natural  da infância e da puberdade, canalizando-a para impulsos de vida e não de morte, imposição de maior responsabilidade aos pais pelo bem-estar  educacional dos filhos  e sua inserção saudável no convívio social. Aproveitamento de pessoas idosas, carentes de afeto e de atividade útil, em atividades escolares, extraescolares ou em creches, que repassarão  suas experiências aos mais jovens. O inter-relacionamento entre os extremos etários  humanos  proporcionará  o aprendizado  de amor e respeito ao próximo e a si mesmo, pelo indivíduo, desde a idade infantil, bem com a real importância de cada indivíduo no meio  em que vive.      

                  A 19ª. medida visa também à redução da natalidade, por indução, de filhos de  pessoas  sem condição  de fornecer à criança um desenvolvimento moral e ético conforme a necessidade  das sociedades constituídas. Tudo isso, visto que  a maior parte do grande contingente de menores abandonados  é produto de relações sexuais ocasionais, onde só a mulher fica com a responsabilidade  das consequências do ato sexual , muitas das vezes impensado, por  ambas as partes. A ser adotada  essa medida, os próprios homens tomarão suas providências para conter o seu excesso de fertilidade e a sua paternidade irresponsável.

                       A 21ª. Medida é uma ideia tirada de fato já ocorrente, no início do século  XX, quando eram escassos os professores de  1º. grau , e demonstrou-se muito eficaz, contribuindo para  a elevação do nível intelectual  dos jovens no Brasil – é uma experiência vitoriosa, pois.

 
3. Estratégias a Curto Prazo – 3  propostas específicas

 

 

 1ª. – Desconcentração imediata das instituições que cuidam do bem-estar e educação do menor e do adolescente em situação de risco ou perigo , ou com desvio de conduta – quase todas estão localizadas nas capitais dos estados-membros, quando o certo  seria localizá-las,  o mais possível, em municípios menores, de preferência no local de procedência  do jovem ou de sua família. Ali  há mais tempo para os órgãos públicos se dedicarem a eles, a nível do Executivo e do Judiciário, incluindo o Ministério Público, e o afastamento dos grandes centros de criminalidade e da maléfica influência  do aglomerado de jovens de todas as procedências, com os mais diversos maus costumes;
 2ª. -  Efetivação de contratos e convênios entre o Poder Público  e entidades particulares (como orfanatos, por exemplo) que recebem  contribuições  do Governo , para destinarem  educação profissional técnica aos   pré-adolescentes e adolescentes , com ou sem conduta  desviante, que abrigam;

 3ª. – Suspensão de contrato de trabalho  ou contratação por tempo determinado para jovens em idade próxima ao serviço militar obrigatório  , isto é, esteja o jovem exposto ou não a uma situação de perigo  ou já em desvio de conduta. 
 

4. Conclusão

                    O aspecto afetivo, ou sentimento de  agregação de um indivíduo, é um elemento  essencial , natural ou adquirido, para que  se mantenha coeso o grupo a que pertence. No ser humano, ele é natural e  primordial à sua evolução como espécie. O seu exercício, contudo,  necessita de um  aprendizado, quer para unir-se  aos demais integrantes do corpo social, quer para  aceitá-los.
                                         
                      A mentalidade relativista que tem imperado em nossa sociedade ocidental é, de todo, prejudicial à sanidade psicológica humana  : o homem, fechando-se cada vez mais em si mesmo, perde a noção do social e, contrariando sua natureza, vive com conceitos particulares sobre os assuntos mais imediatos de interesse de sua subsistência, ignorando que o destino do todo social é essencialmente importante , até mesmo onde mantém o seu status quo. O mesmo ocorre  nos conglomerados empresariais : em razão  do grande dimensionamento do mercado em que operam, passam a confundir com interesse público o seu interesse particular, primordial, visando ou ao lucro (capitalismo) ou à manutenção do poderio decisório e supremacia de classes ( no comunismo e regimes autoritários). Um equilíbrio há de ser encontrado, notadamente no que tange à formação das crianças, frente  a essa situação, que observam e de que participam.
 
                        A família é o elemento primário para  a transmissão, às novas gerações, dos princípios  de uma sadia  convivência em sociedade , indicando , aos seus  componentes , normas de moral e ética  a serem observadas para o bem estar  dos seus próximos — entendidos no sentido de  humanos e do meio ambiente em seu entorno. Quando ela falta ou falha, nessa finalidade, o responsável mediato, que é todo o corpo social, deve intervir no sentido de recolocar esse aspecto aos menores envolvidos, em um momento tão  essencial de sua existência e que se torna ruim pela sua desproteção familiar — pois, o que , para um adulto, é um fato superável, para uma criança ou para  um adolescente, é uma  desgraça  incomensurável, capaz de abalar os alicerces de sua personalidade. Quando essa situação desagregadora atinge níveis estatísticos muito elevados, como na atualidade, impõe-se uma tomada de posição positiva e real : não bastam disposições legais e filosofias humanitárias, é necessário que sejam levadas a efeito políticas e atividades concretas no âmbito público e privado, para solucionar o problema. 
                                            


                       Uma lei que não se efetiva como uma  ação concreta  de governo  se torna letra morta  e traz intranquilidade à unidade nacional. Uma filosofia  que não assume os seus princípios  mediante atitudes firmes no sentido de trazê-la à realidade social é apenas  uma forma que intelectuais encontram  de passar o tempo ,  elaborando  pensamentos  sem finalidades.

                        Estamos , no Brasil, em um momento de tomada de  iniciativas concretas para a melhoria  psíquica e cultural da nova geração. Vários países vêm tomando essa iniciativa e já se vê algum sucesso. Deve-se entender que o consumo excessivo de drogas proibidas e de bebidas alcoólicas , pela nossa juventude mundial, é uma fuga coletiva de  um mundo adulto  que demonstra seu desprezo por valores  da espécie como um conjunto em evolução e a procura de compensar  a falta de perspectivas de melhoras nesse sentido. Incumbe a nós, adultos, tomar a iniciativa e colocar em obra  toda  a teoria  que nos  concedem as leis internacionais e nacionais sobre a  criança e o adolescente.

                       Se ao menos um décimo das medidas propostas em nossas conclusões forem utilizadas, quer através da concordância  com as teses  expostas neste livro,  quer por outras iniciativas em outros setores  da sociedade, que também se preocupem com o assunto e possam vir a ter as mesmas ideias, resumidas no exame da necessidade de se concretizarem medidas saneadoras , ter-nos-emos sentido como havendo cumprido, em parte, o nosso  dever cívico para com o nosso País,  e como membro participante  da sociedade humana.
 
NOTA
Este texto é um excerto de partes de páginas 174-178 do livro "Delinquência Juvenil- Infraestrutura da Criminalidade Adulta", da autora.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

GERAÇÃO DESPERDIÇADA : SERÁ MESMO ? II

GERAÇÃO DESPERDIÇADA: SERÁ MESMO?

                                                 
                  
                                
                                                  Parte II
                                   A   reportagem de “O Globo”
 1.Introdução

                    Em 11 de agosto corrente, dia seguinte  àquele em que tive  o encontro com  o grupo de jovens  desamparados e oprimidos em frente ao Country Club de Ipanema,  li uma  reportagem no jornal “O Globo”, matutino carioca, em seu caderno de “Economia”, página 29, intitulada "Geração Desperdiçada".
 
                    Trata-se de  um artigo da Jornalista Clarice  Spitz, atualmente exercendo a função de  repórter da Editoria de Economia do periódico acima referido, após realizar um estudo através de dados colhidos no  IBGE (Instituto  Brasileiro de Geografia e Estatística), em uma pesquisa levada a efeito em seis regiões do Brasil, uma  entrevista com o Demógrafo José Eustáquio Alves e uma enquete com alguns representantes  do universo pesquisado.
 
                    O trabalho ora analisado se prendeu à relação entre EDUCAÇÃO e MERCADO DE TRABALHO. Analisando  e organizando os dados dos esquemas apresentados juntamente com  a  reportagem, temos o seguinte quadro, que pudemos sistematizar a partir da  composição artística do jornal. Ali está indicado, por outro lado, em asterisco, que tudo foi examinado “nas seis regiões pesquisadas pelo IBGE”, não tendo indicado  quais seriam elas.

 2. As estatísticas apresentadas


                                             1 - POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA
                                  Ano de 2003
                  Percentagem sobre 100%
                    Ano de 2013
        Percentagem sobre 100%
       
                              Tempo de estudo
                      Jovens entre 16 e 24 anos
          4 a 7 anos de estudos................    16,8%
          8 a 10 anos de estudos............     28,1%
         11 anos ou mais de estudos.....      51,2%
                              Total........................    96,1%
 
                          Taxa de desemprego
             Jovens de 16 a 24 anos:
            Junho de 2003.......................... 26,2%
             Todas as idades:
             Junho de 2003.......................... 13%
 
            Tempo de estudo
Jovens entre 16 e 24 anos
   4 a 7 anos de estudos...............    7,8%
   8 a 10 anos de estudos............   25,3%
   11 anos ou mais de estudos.....   65,7%
                 Total........................... 98,8%
         
           Taxa de desemprego
Jovens de 16 a 24 anos:
Junho de 2013 .......................... 15,3%
Todas as idades:
Junho de 2013..........................    6%
                                    2 - TOTAL DE JOVENS ENTRE 15 E 24 ANOS DE IDADE
                                Estimativas em milhões de habitantes, cotados genericamente
         2000
        33,818
            2010
        33,644
    2020 (estimativa)
       33,854
   2025 (estimativa)
     32,226
    2030 (estimativa)
      28,713

 
                   Afirma, ainda, a Jornalista, que, de acordo com o IBGE, a taxa de desemprego entre os jovens de  16 a 24 anos  no período de junho de 2003 e 2013 caiu  41,6%, embora no quadro acima   a diferença entre uma taxa e outra seja de  12,9% . E, "na média dos trabalhadores de todas as idades das seis maiores regiões metropolitanas do país, a queda foi bem maior, de 53,8%".  Note-se : quanto aos jovens, não informa qual o âmbito territorial pesquisado, mas no total, apenas seis regiões metropolitanas, cuja ideia de "maiores"  para a escolha de pesquisa não foi explicitada.

                 Como não se tem outros  dados estatísticos para  comparar  com aqueles das fontes utilizadas, não se pode , dentre  o total de jovens entre 15 e 24 anos, em comparação com os percentuais da escolaridade e dos que trabalham, descer a detalhes  que os indiquem como também não estudando, e considera-los, ao final, ociosos, ou não ativos. Então não se pode , quanto a eles, fazer uma análise  da quantidade  dos que passaram de estudantes a trabalhadores,  de 2003 a 2013. Embora haja a afirmação  de uma queda  de trabalhadores acima de 24 anos , não se tem dados daqueles que, atingindo essa idade, ainda se encontram estudando (mestrado, doutorado ou outra profissão de nível de bacharelado), sob dependência paterna (por sinal, foi noticiado esta semana que a Receita Federal, para efeito de deduções do Imposto de Renda, vai passar a considerar dependentes os maiores até 28 anos, o que deve ser seguido pela assistência pública e privada). Por outro lado deveriam entrar também outros dados, como a quantidade dos inválidos de nascimento e os que se invalidassem posteriormente, o tipo de trabalho realizado. Mesmo em relação  aos maiores de 24 anos, que a autora do artigo indica ter havido uma queda, não se pode comparar com os percentuais utilizados por ela para os menores  e de 24 anos, pois não indica em que regiões foi levada a efeito a pesquisas e, nos outros adultos, apenas indica que a comparação foi nas seis maiores regiões metropolitanas, restringindo assim o âmbito da pesquisa específica a eles, não indicando, por outro lado, quais sejam tais regiões.
                                
                    Em razão desses fatos, entende-se prematuro afirmar  que a geração atual está desperdiçada. Poderia até mesmo estar a caminho disso, se outros fatores já não estivessem influenciando na correção de rumos, ou se já houvesse transcorrido o tempo dos dados indicados. Como se vê, há estimativas, para os adultos, até 2030 e, para os jovens até 24 anos, a passagem dos em primeiras idades para os 18 anos nesse meio tempo, o crescimento ou decrescimento da natalidade e a qualificação profissional dos mesmos. Como uma geração é contada de 20 em 20 anos, um exame de apenas 10 anos não chega a  identificar uma geração inteira.
                   Por outro lado, em Ciências Econômicas, as ocorrências não são tão precisas  quanto em Matemática, eis que o fator humano e do próprio mercado, em um sistema  capitalista, costuma variar e modificar previsões. O mercado de trabalho flutua por dois motivos principais : a) o desenvolvimento econômico do próprio país e b) a necessária disponibilidade de mão-de-obra   (desempregabilidade ) em um percentual (que a maior parte dos economistas calcula em 5% ) para que haja uma circulação de qualidade de serviços prestados, bem como o incentivo à especialização - no caso de um pleno emprego haverá  dificuldade do empregador  dispensar  um empregado relapso e desinteressado, pois sabe que não haverá outro no mercado e o sistema vai sofrer colapso de qualidade. 
 

 3. O "bônus demográfico" e " a "cultura bacharelesca"

                José Eustáquio Alves , demógrafo com entrevista transcrita no artigo analisado, introduz a expressão  “bônus demográfico” como sendo o momento em que  a parcela da força de trabalho na população entre 15 a 64 anos de idade de um país é  muito maior do que  a sua população dependente, formada por idosos e crianças. O “bônus” seria, então, o valor do crescimento do dinheiro disponível, por não aplicação em  dependentes,  para se investir em  capital econômico e humano. Mas que, para se colher os frutos do “bônus”, sempre há necessidade de haver  emprego e educação de qualidade. Por outro lado, se há queda de natalidade no Brasil, é porque há queda de fecundidade  porque o país está mais urbanizado e a mulher está entrando mais no mercado de trabalho e não por causa de um planejamento demográfico que levasse  a uma situação de bônus, além de existir uma educação que deixa a desejar e algumas estatísticas serem feitas com base  na “renda média”, que pode ser uma armadilha : como há muita desigualdade populacional,  generalizar-se  as formas de oportunidade pode constituir um dado incorreto. Indica  países emergentes que o aproveitaram bem e, sobre o Brasil, comenta que houve esse “bônus” em  2000, quando havia também uma conjuntura internacional extremamente favorável  e crescemos mais, também baixando a taxa de desemprego.      Então será interessante também se verificar essa ocorrência, e, sendo aproximada, pois também não se desfaz do dia para a noite, o Governo investir na melhora do ensino e qualificação do jovem.  
             
                    Ainda Clarice Spitz nos diz, na página 30 do mesmo diário matutino, que é preciso implementar o ensino técnico, dando cumprimento à meta do Programa Nacional de Acesso  ao Ensino Técnico (Pronatec) –  segundo ela, das  2,5 milhões de vagas, somente  metade  “saiu do papel” e  vamos precisar de pelo menos 5,5 milhões de trabalhadores qualificados até 2015. E nesse mesmo local Diana Grosner, diretora de projetos de Educação da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), informa que o ensino médio e o técnico  “têm estado desinteressantes”, isto é, os jovens não se interessam por fazê-lo. E que o Pronatec tem tido dificuldades em preencher essas vagas, assim mesmo.
                  Hildete Pereira, Professora da Universidade Federal Fluminense, também entrevistada,  afirma  que “nunca demos importância social a cursos ligados a ofícios e damos muita atenção ao diploma. Temos uma cultura bacharelesca”.
 
                   Comparativamente,  Clarice Spitz informa que, em 2010, enquanto no Brasil apenas 6,6% dos estudantes brasileiros até  25 anos estavam  matriculados em cursos técnicos, em países como Áustria, Finlândia, Holanda, Eslovênia, Suíça, essa taxa supera os 70%.
 

4. Análise crítica

                   Com os dados de  estatística do IBGE fornecidos na primeira parte da reportagem, a fls. 29, não podemos chegar à conclusão de uma “geração desperdiçada”, pelos seguintes motivos : 
                               - Não são informadas quais as 6 regiões sobre as quais foram feitas as estatísticas.

                              -Nas populações jovens analisadas, não ficou explicado se, não trabalhando, continuam a estudar em cursos superiores, e, sendo assim, continuam a ser dependentes dos pais ou possuem bolsas de estudo – isso não é desperdício, mas investimento.
                              -  Nas populações jovens analisadas não ficou explicitado qual a quantidade de jovens entrevistados que pertencem a dois fenômenos tipicamente brasileiros, já detentores de apelidos nos meios econômico-financeiros: o contingente dos “nem-nem”, ou seja, os que nem trabalham nem estudam ; o contingente dos “nem-nem-nem”, ou seja, os que nem trabalham, nem estudam, nem procuram fazer uma coisa ou  outra – seria interessante fazer um estudo sobre isso para incentivar esses jovens ou ao trabalho ou ao estudo.
                            - Sabe-se que no Brasil, principalmente nos meios mais cosmopolitas, é comum encontrarem-se jovens de até 30 anos sem trabalhar, mas que continuam a estudar, dependentes dos pais, eis que, após a Universidade, passam a cursar a pós-graduação, ou o Mestrado e, depois, ainda, o Doutorado, quando não iniciam outro curso, pois não têm certeza de sua real vocação; e que, depois de tudo, nem sempre encontram trabalho, ou por excesso de  especialização, que ainda não consegue  tantas vagas  em nosso mercado, ou, encontrando , não se conformam com um salário mais baixo porque não têm experiência, ou ainda porque já estão com idade avançada (acima dos 35 o trabalhador já encontra muita concorrência), ao passo que outros, não tão equipados de títulos  têm maturidade existencial e experiência de trabalho e de mercado, sendo,  por isso, muito mais necessários ao mercado de empresas contratantes. Essas pessoas fazem parte do contingente adulto não contido nos jovens analisados na reportagem, que somente vão até os 24 anos – assim, faltam dados a analisar quanto à taxa de desemprego.
                         - Deve-se fazer um estudo, também, da situação  econômica dos envolvidos nas estatísticas, como, por exemplo, se estão ali  incluídos os jovens carentes ou com desvio de conduta, sob a responsabilidade dos estabelecimentos estatais ou ainda de rua ou em situação de risco social, conforme definido pela UNICEF.
                         - Existe, sim, no Brasil, uma carência muito grande de técnicos  de nível médio, tanto no comércio, na indústria, como nos serviços, onde as vagas para tanto são muitas e muito bem  remuneradas, muitas vezes em quantia mais elevada do que a destinada aos cursos universitários, e muito pouco preenchidas, apesar da grande demanda dos diversos setores.
                      - Existem cargos de serviços técnicos que oferecem salários iniciais muito superiores aos salários de profissionais da mesma área com nível superior, mas os jovens não se habilitam a eles, ou por preconceito deles mesmos ou da própria família, por não ser um “bacharelado”, que ainda dá muito “status” social – esse é um caso de muita ocorrência na área da computação gráfica.
 
                     - O Brasil investiu muito na facilitação de abertura de Faculdades e fez muita ênfase nesse ponto – nem todas têm qualidade e, portanto, não podem dar ao seu estudante o mesmo nível de conhecimentos daquelas que têm melhor qualidade. E, no mercado de trabalho, não é o título que dá preferência, pois a concorrência é grande e apenas os melhores são aproveitados. O que se vê é muito “doutor” que se dedica a outras profissões diferentes da sua, embora muito honradas, mas que não correspondem, em tempo de estudo, ao usado para frequentar a faculdade.  Em suma, a) não tendo frequentado o ensino técnico de nível médio daquela profissão, ou a pessoa não tem  a prática suficiente para o seu exercício, porque o ensino superior tem outro tipo de proposição, ou porque se sente diminuída em exercer uma profissão que consideram um “minus” em seu currículo; ou b) porque a profissão não admite esse nível (como o de Advogado, por exemplo), e o mercado já se encontra saturado – não sendo ricas as pessoas nesse caso,  a ponto de viverem de “rendas”, necessitam trabalhar , pois já estão ficando muito maduras e não contam mais com a verba paterna para sustenta-las. E, em ambos os casos, vão para outras profissões, muito dignas também, que podem até lhes dar um rendimento superior ao que teriam se prosseguissem no trabalho em sua profissão, mas se sentem inconformadas existencialmente, podendo chegar à depressão.
 

5. A Cultura do Bacharelismo 

                              O principal de tudo, conforme comenta a Professora Hildete Pereira, é a cultura do “bacharelismo” brasileira. Desde a nossa fase de Brasil colônia, quando a corte de D. João VI veio para cá e os nativos puderam conviver com  a nata europeia do ensino superior que os acompanhou, ficou o hábito das famílias abastadas de enviarem seus filhos para estudar na Europa, o que passou a significar um nível   elevado de “status” econômico-financeiro dos “barões do café” e dos grandes latifundiários , quando o país ainda era essencialmente agrícola. Esse costume foi logo  seguido pela classe média, desejosa de ascensão social, que fazia  os maiores sacrifícios para  enviar o  filho mais velho que, mais tarde, trabalhando, ajudava os demais.
                                                           

                    Ocorre, contudo, que essa prática foi anterior  à industrialização mundial, quando valores e formas de atividades mudaram, criaram-se indústrias e comércio, a economia se transferiu mais para a cidade, onde a mão-de-obra valorizada passou a ser a de conhecimentos técnicos nas novas descobertas. Nos países que logo se adaptaram a ela a escravidão foi de pronto abolida, mesmo que de forma sangrenta, modificando-se também esse tipo de trabalho exercido por máquinas e trabalhadores braçais contratados. No Brasil esse processo foi lento. E, lenta, também, a mudança de mentalidade bacharelesca, que faz parte de um passado já inexistente. Mas ninguém tomou uma  atitude séria e organizada, ainda, para que mude.

                   E isso não foi diferente com a classe média emergente nos últimos  anos . É aqui que cabem os exemplos que dei na parte I:  do motorista de taxi que trabalha 18 horas diárias e  do porteiro do prédio que quase não vive, tantos são os sacrifícios para manter seus dois filhos na Universidade. Todos  desejam seus filhos "doutores", mas nem todas as pessoas têm habilidade intelectual suficiente para  cursarem uma faculdade, quer por suas próprias características internas, como quantidade de inteligência, quer pelo próprio  contingente vocacional que vai adquirindo no decorrer de sua formação : muitas pessoas são muito bem sucedidas econômica e financeiramente e são felizes com o que fazem, enquanto muitas outras  conseguem seu título de bacharel, mas nunca conseguem   uma situação satisfatória nela, ou porque não gostam do que fazem, ou porque não atingem a qualificação mínima exigida no mercado de trabalho competitivo de nossos dias.
                  Eu, na verdade, nunca fui a favor do estabelecimento de cotas nas Universidades, porque sempre achei que seria causa de  mais um elemento de discriminação, nos anos seguintes à formatura desses contingentes de pessoas: quando  alguém  entra na Faculdade pela cota ele próprio já estabelece a  presunção  de que o faz porque não possui o devido preparo educacional para tanto, o que lhe dá, por sua própria iniciativa, uma subcondição dentre os demais – isto porque, uma vez lá dentro, as aulas serão dadas em função de quem tem o devido preparo (não se pode, agora, apenas para atender aos cotistas, baixar o nível de ensino - em algumas faculdades, onde o nível de ensino já é mesmo baixo, não se sente tanto esse problema, que só vai se fazer sentir depois, ao se procurar emprego). E, ou essas pessoas cotistas vão precisar de aulas de reforço, ou então estarão sempre muito atrasadas em relação aos demais, sendo isso causa de muita desistência  ou de não encontro de emprego, se conseguirem concluir  curso, já que o setor privado precisa de pessoal competente para lidar com uma realidade cada vez mais bem capacitada intelectualmente, nesse mundo  globalizado, em que lida com elementos de indústria, comércio e serviço em pé de igualdade com países muito desenvolvidos.
                                                       

                Mesmo entre as famílias de bom nível financeiro e econômico ocorre  o problema do indivíduo não conseguir uma boa qualificação profissional, em função de incapacidade para  o nível superior. Isso sempre foi dessa forma, desde séculos passados, nos países em que a mão-de-obra universitária se faz necessária.  E muitos dos países que conseguiram um bom desenvolvimento compreenderam isso há muito tempo e investiram nas profissões de nível técnico médio ou superior, tendo aproveitado um contingente populacional extraordinariamente  dedicado e operante, tão necessário quanto os outros, dando-lhes, com isso o devido respeito social e a necessária alegria de trabalhar, que faz o progresso individual e coletivo. O que eu e outros entendemos, na oportunidade dos debates sobre o "sistema de cotas", é que o Governo, no caso específico do Brasil, onde o ensino médio é muito fraco,  deveria ter feito um esforço incomum de  fortalecê-lo, em cursos complementares de um ou dois anos, que  habilitassem os nossos jovens, tanto a entrar logo no mercado de trabalho e adquirirem prática, como também para habilita-los, em  igualdade de condições com todos os demais,  a concorrer  às vagas em Universidades - universidades estas que deveriam ter bastante qualidade de ensino. Mas fomos vencidos – e agora, já decorrido um ano ou dois da formatura das primeiras turmas a partir da institucionalização dessas cotas, vê-se que houve muita desistência de cotistas, que ficaram desiludidos consigo mesmos, pensando que o problema do não aprendizado é seu e que, por outro lado, grande parte dos outros, com o diploma, em entrevistas em divisões de RH das empresas, não consegue a vaga pretendida e não entendem porque os outros são aproveitados, e eles, não: continua, pois, o problema do  sentimento de exclusão social, de preconceito, etc.. E, na verdade, não é isso que sucede.
                     Alguns alunos cotistas, por esforço pessoal, por auxílio de terceiros, ou, ainda, por inteligência acima do normal, conseguem se sobrepor a todos esses problemas  acima indicados e alcançar boa situação, tanto  dentro dos cursos escolhidos, quanto dos empregos, ao final.  Mas isso já ocorria também antes da institucionalização desse sistema  e conheço vários casos de pessoas de muito valor e muito conceituadas, naquela época e hoje, demonstrando que não havia preconceito nem de cor nem de classe social, mas, sim, falta de conhecimentos. Cito, por ser  fato notório contado por ele próprio, o caso do atual Presidente do Supremo Tribunal Federal. De família humilde, sem recursos, não havendo nenhum sistema de cotas  nas Universidades, trabalhando grande parte do tempo, concorreu com os demais e,  por sua inteligência, estudo dedicado  e força de vontade, conseguiu alcançar tão elevado cargo que muitas pessoas, com as melhores condições de vida e financeiras, embora desejem muito, não conseguem obter. Muitos outros casos são conhecidos e que encheriam várias páginas, em todo o Brasil e em todo o Mundo, mas, por não serem notórios, não podem ser comentados. Grandes magnatas norte-americanos conseguiram elevadas posições, partindo de quase nada, por desforço  próprio, no final do século XIX e início do XX (Rockfeller, Carnegie, gênios das finanças, Edison, gênio inventor).

 6. Conclusões 


                  Todo esse desprezo pelo curso técnico profissionalizante no Brasil é, pois, em muita grande parte, decorrência de uma “mentalidade destorcida de bacharelismo”, que ainda grassa tanto na nossa sociedade   como um todo, como nos atores da administração pública brasileira (que são egressos mesmo dela) – talvez por isso não se tenha ainda criado uma campanha massiva e maciça a favor do ensino técnico. No caso brasileiro, em que o fato é, principalmente da necessidade de se modificar uma mentalidade, essa campanha a favor do ensino técnico é essencial. Em países desenvolvidos, em que a mentalidade  é de abertura  globalizada e universalista, tal não ocorre : nos Estados Unidos, os estudantes que não são ricos, e até mesmo estes, utilizam suas férias para  trabalhos, como de recepcionistas, balconistas, jardineiros, e não se sentem diminuídos por isso – mesmo os bolsistas , que são sempre os melhores alunos, fazem essa atividade, pois necessitam de numerário para se manterem em suas necessidades vivenciais que não dizem respeito especificamente à anuidade  dos estudos. O ensino técnico é  largamente disseminado ali, com “status” social elevado, bem como nos países  indicados na reportagem (Áustria, Finlândia, Holanda, Eslovênia, Suíça).  Conheço um protético suíço que se estabeleceu no Rio de Janeiro, muito competente em seu trabalho, um mestre, respeitadíssimo no meio Odontológico, cujo rendimento  financeiro é superior ao da maior parte dos Odontólogos, com um laboratório muito grande e bem equipado na Barra da Tijuca  com  máquinas estrangeiras de última geração : entrando-se lá, tem-se a impressão de se estar em uma grande espaçonave futurista, tal o grau de  modernidade e de  qualidade.

                     Poderá algum cético “bacharelista”, a esta altura, perguntar-me: “Por que você mesma, ao invés de cursar Direito, não fez um curso técnico?”.  Já narrei, na primeira parte desse trabalho, um tanto desse fato e agora respondo a esta pergunta com o seguinte. Eu fiz sim, um curso técnico, o de Relações Públicas, na Fundação Getúlio Vargas – Escola de Administração Pública do Rio de Janeiro, no início dos anos 60 do século passado, que logo no ano seguinte foi reconhecido como de nível superior, através de lei especial, mesmo antes da área genérica de Comunicação Social, e pratiquei essa atividade durante muitos anos, o que me concedeu muita experiência. Essa experiência, tão necessária àquele que vai ingressar no mercado de trabalho, é um "plus" de qualificação profissional que só se adquire com a prática da vida. E  até mesmo  nos auxilia a encontrar a  certeza da escolha da profissão, após passada a  fase de adolescência que vai até os 21 anos. Para mim, essa prática  facilitou em muito a prática das funções que exerci e ainda exerço na área jurídica. Antes de  ter contato com as diversas realidades das muitas atividades, envolvendo-se com elas  em práticas diárias, o jovem tem uma  visão  idealizada e teórica que o faz perder muito tempo em adaptar seus conhecimentos às atividades necessárias - e se começa a ter essa experiência somente após o curso de bacharelado, estará perdendo muito tempo que outros já superaram. E, talvez, a forma pragmática do exercício profissional até o desenganem da mesma, pois nem sempre conseguem se adaptar a uma visão pragmática do que  idealizavam através  de  proposições teóricas - estas são ótimas, mas como  instrumento necessário para o exercício da realidade. Por isso existem hoje tantos jovens e até adultos sem alegria de viver e de trabalhar - vivem por viver e trabalham por trabalhar e nunca conseguem se destacar em nada que iniciam.  
                                                             

                   De certa feita, em minha página no Facebook, uma jovem escreveu-me, dizendo que estava desesperada e não sabia o que fazer da vida porque  sua mãe, que a sustentava, perdera uma pensão em razão de algum motivo e não podia mais  pagar a sua faculdade de Direito e que, por isso, sua vida estava  acabada. Respondi-lhe  que ela tinha duas coisas muito importantes a fazer : 1º.) recordar-se de que era uma jovem  com uma cultura básica boa, pois afirmava ter até o 2º. ano do curso e de que era uma pessoa saudável e em idade de trabalhar, quando tantas outras pessoas, com graves deficiências físicas, não desistem; 2º.) que poderia trancar sua matrícula, procurar um trabalho durante o dia, talvez mesmo como uma secretária em um escritório de Advocacia e, encontrando-o, retornar à Faculdade e estudar à noite. E, talvez, até mesmo ajudar a sua mãe no sustento da casa, tornando-se mais feliz do que continuar em uma situação de dependência  e não tomar contato com a vida em sua realidade, que nos apresenta tantas oportunidades existenciais. E, por outro lado, essa experiência de um ou dois anos lhe seria como uma nova matéria em estudo e, então, daí a pouco estaria formada - nessa idade, um ou dois anos bem aproveitados em trabalhos úteis são mais frutuosos  do que sonhos com uma realidade feita  de sonhos . Recebi, depois de alguns meses, outra postagem dela, uma resposta carinhosa, agradecendo a ideia, que já encontrara um emprego , afirmando que, em determinados momentos, a pessoa fica mesmo sem saber o que fazer, e que valem os conselhos. Notei, então, que estava mais amadurecida e pronta para encarar a vida com confiança e terminar o curso tão desejado,  sem os tormentos das dúvidas e das incertezas.
                     Em resumo: todas as grandes nações que conseguiram desenvolver-se contaram com povos com ideias avançadas e pragmáticas, que não comportam ficar à espera de que  apareça algum milagre ou algum “salvador da pátria” que os sustente gratuitamente, pois  a ajuda para a Nação se tornar forte e desenvolvida vem de cada um dos seus nacionais. Mas que, para tanto, é necessário também que o Governo e os grandes conglomerados da atividade particular deem sua parte: o primeiro, criando as condições de estudo e incentivando programas com prazo para início e término e envidando esforços financeiros para mantê-los e, os segundos, agindo como os antigos “mecenas”, fornecendo desforço econômico e abrindo suas portas para o treinamento dos nossos jovens estudantes, principalmente dos cursos técnicos.

                    Tudo isso implica em uma grande mudança de mentalidade – mas, somente assim o Brasil pode aproveitar toda a força dos seus cidadãos. Mesmo daqueles mais carentes, desprovidos até do apoio de uma família ou que, já em comportamentos desviantes, sejam encaminhados a instituições adequadas à solução de seus problemas.

                    Eu serei muito feliz se, antes de deixar este mundo, puder passear pela Praia de Ipanema e contemplar jovens com futuros promissores, sem necessidade de esconder de si mesmos, na realidade fictícia de drogas ilícitas, a infelicidade de uma vida sem perspectivas de um futuro melhor. E, para tanto, tenho dedicado muito do meu esforço existencial. Na parte 3 dessa Postagem, estarei colocando ideias de algumas providências em curto prazo, para o aproveitamento dos nossos jovens carentes, a serviço do desenvolvimento nacional, como eles merecem, para o seu e o nosso bem. São destinadas à execução pelo  Governo e por Empresas Particulares, contidas no meu livro escrito em 2011, intitulado “Delinquência Juvenil – Infraestrutura da Criminalidade Adulta”.

                      Façamos , então, agora, já, porque o tempo urge, uma campanha maciça para  tornar o ensino médio  excelente, par e passo com o ensino profissionalizante e, então, jamais chegaremos a ter nenhuma "geração desperdiçada". Estou fazendo a minha parte, façam a de vocês!