ANARQUIA E ANARQUISMO
( CONCEITOS E
PRECONCEITOS )
Não vou cair na tentação de
analisar os conceitos a partir de suas fontes históricas. A uma, porque, a essa
altura dos movimentos populares no Brasil, a partir de junho deste ano, todos
já devem ter procurado se inteirar do significado de um e de outro movimento
social; e, a duas, porque tal análise é muito complexa e demandaria um estudo
mais aprofundado, que extrapolaria o tipo de postagem cabível em um blog. Colocarei,
apenas, para início de análise do assunto a que me propus, o significado literal dos termos, encontrado nos verbetes do Novo
Dicionário Aurélio :
“Anarquia: [Do gre. anarchía]
S. f. 1. Falta de governo ou de outra
autoridade capaz de manter o equilíbrio da estrutura política, social,
econômica, etc.2. Confusão ou
desordem gerada por essa situação. 3.
Negação do princípio da autoridade. 4.
Estrutura social em que não se exerce
qualquer forma de coação sobre os indivíduos. 5. P. ext. Ausência
de comando ou de regras em qualquer
esfera de atividade ou organização : A anarquia do hospital
causou grandes danos aos internados.6. Qualquer organização,
instituição, sociedade, etc., carecente de autoridade e de normas: Aquela escola é uma anarquia: os alunos fazem o que
entendem.
7. Desordem; confusão, baralhada: Há grande anarquia nas suas ideias. 8.
Desordem, desarrumação, bagunça: Que anarquia fizeram as
crianças!9. Desmoralização,
desrespeito, avacalhação: É dado a fazer anarquia
com as pessoas velhas.”
“Anarquismo: S. m. 1.
Teoria política fundada na convicção de que todas as formas de governo
interferem injustamente na liberdade individual, e que preconiza a substituição
do Estado pela cooperação de grupos associados. 2. Resistência ou agressão à ordem estabelecida. 3. Os anarquistas ou as organizações
anarquistas.[Cf. Antarquismo]”
“Antarquismo. [De ant(i)- + -arqu(e)- + -ismo.] S. m.
Oposição sistemática a todos os governos.[Cf. anarquismo].”
De pronto podemos verificar que há
dois sufixos, nominais, de origem grega, que colocam grande diferença nas palavras:
são eles -ia e –ismo. Ambos têm a
propriedade de construir um substantivo a partir de outro substantivo, assim
como Democrata→ Democracia, Advogado→ Advocacia. Real→realismo, Ideal→Idealismo.
2. O Preconceito
Nos anos 60 e 70 do século passado havia um grande
preconceito sobre grupos de pessoas, organizadas ou não, que irrompiam as
fronteiras da sociedade ocidental conforme era constituída e viviam em uma
forma preconizada pelos teóricos do antigo anarquismo, dos quais Pierre-Joseph Proudhon foi um dos
iniciadores. Nesse caso há o exemplo dos hippies.
E, em outra perspectiva, daqueles que nunca estiveram integrados a ela,
encontramos os índios brasileiros. No primeiro caso, não conseguiram sobreviver
fora da sociedade na qual foram educados e, no segundo, foram engolidos pela
nossa civilização.
Entre 1968 e l969, trabalhando como Assessora da Consultoria Jurídica do
Ministério do Interior, fui convidada a assistir às discussões de cientistas brasileiros
e estrangeiros, notadamente antropólogos
e sociólogos, realizadas ali,
para decidir-se sobre a forma de atuação
junto às aldeias indígenas ainda não aculturadas que se encontravam encravadas
na reta de construção da Rodovia Transamazônica, idealizada pelo Ministro Andreazza. Foram discussões belíssimas que
muito me ensinaram sobre o respeito às pessoas e às civilizações, por mais
humildes e culturalmente atrasadas, eis que todas, inclusive a nossa, estão em
fase de evolução. Havia duas principais correntes: aquela que entendia dever-se
desviar o curso da rodovia dessas aldeias, e deixa-las desenvolverem-se
naturalmente, e a outra, defendendo a necessidade de serem aculturadas com
urgência, a fim de usufruírem também das benesses a serem levadas à região por esse empreendimento, já
que a sua execução estava decidida.
Lembro-me muito bem de um antropólogo cujo nome não me recordo, mas muito
claramente de sua figura ímpar e da sua obstinação em defender que as aldeias
deveriam ser preservadas pelo motivo que então expôs e que eu, na ocasião não
entendi bem. Mas hoje, depois de tantos desacertos em nossa sociedade, entendo
a genialidade daquele homem, que ficou vencido, ao fazer a seguinte colocação:
acaso a nossa sociedade dita desenvolvida seria, realmente, o ideal para o ser
humano? Ou não seria a melhor aquela que evoluiria a partir da experiência do
homem indígena de então? E, sendo assim, deveria ser levada a efeito essa
conservação íntegra dessas sociedades ali na Amazônia, sob supervisão do
Estado, para que, mais tarde, pudessem, talvez, servir de modelo para nós.
Depois desse episódio, examinei a forma de constituição dessas sociedades indígenas e pude compará-las com os modelos do anarquismo que os teóricos do século XIX procuraram implantar e que voltam nas manifestações de massa no mundo inteiro. Na verdade, o indígena brasileiro não tinha um governo central: o cacique não governava, com autoridade de chefe, os demais, a sua função era mais de colocar ordem na aldeia, sendo as decisões tomadas por um Conselho. O Pajé tinha autoridade sobre a saúde e alguns assuntos mais espirituais. Não havia propriedade privada, a taba era de utilidade comum, com setores separados para cada atividade e o sistema econômico era centrado na troca, não havendo dinheiro ou capitalismo. Homens e mulheres tinham os mesmos direitos e as suas funções eram distribuídas conforme a força física e a necessidade de cuidar dos filhos. A caça era dividida igualmente entre todos na aldeia.
Então podemos ver que o nosso preconceito, de que a nossa organização social ocidental era o ponto ideal da evolução humana, fez os componentes da Comissão de Estudos da Transamazônica colocarem por terra aquela proposição do venerando antropólogo, a qual talvez viesse a dar frutos melhores do que aqueles a que assistimos nos dias de hoje – não somente na nossa, mas na indígena, que se deturpou e não mais conseguiu evoluir a partir daquele ponto, não tendo se adaptado às normas impostas pela nossa, que a absorveu e que hoje, mais do que nunca, estão sendo contestadas, já por uma grande maioria.
Perdemos aquela oportunidade, por simples preconceito. Não devemos cometer esse mesmo erro.
Black bloc (do inglês black, negro; bloc, agrupamento de pessoas para uma ação conjunta ou propósito comum, diferentemente de block: bloco sólido de matéria inerte) é o nome dado a uma tática de ação direta, de corte anarquista, caracterizada pela ação de grupos de afinidade mascarados e vestidos de preto que se reúnem para protestar em manifestações de rua, utilizando-se da propaganda pela ação para desafiar o establishment e as forças da ordem. Esses grupos são estruturas efêmeras, informais, não hierárquicas e descentralizadas. Unidos, adquirem força suficiente para confrontar a polícia, bem como atacar e destruir propriedades públicas e privadas.
As roupas e máscaras pretas, que dão nome à tática, visam garantir o anonimato dos indivíduos participantes, caracterizando-os, em conjunto, como um único e imenso bloco.
Black Blocs diferenciam-se de outros grupos anticapitalistas por frequentemente realizarem ataques à propriedade privada, como forma de chamar a atenção para sua oposição ao que consideram símbolos do capitalismo, às corporações multinacionais e aos governos que as apoiam. Um exemplo desse tipo de ação foi a destruição das fachadas de lojas e escritórios do McDonald's, da Starbucks, da Fidelity Investments e outras instalações de grandes empresas no centro de Seattle, em 1999, durante as manifestações contra a conferência de ministros de países integrantes da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Se há jovens que estão apontando a negatividade contida em nossa atual sociedade, mesmo sem terem desde já delineados os novos formatos, é bom que os observemos e, em certos casos, até os incentivemos, através de diálogos com cientistas sociais, para auxiliá-los a um posicionamento talvez muito interessante. Evidentemente, os excessos devem ser contidos, dentro de nossos princípios democráticos. Até o momento ainda não houve nenhuma demonstração de que vão destruir as instituições: mais parece que desejam impor uma mudança rápida e eficiente. E isso todos nós sabemos que deve ser feito – vamos, então, fazer um esforço comum? Vamos então aturar um pouco a tempestuosidade do jovem, o que é próprio da idade, vamos procurar apenas ir dando um pouco de ordem a essas manifestações e vamos procurar , de nosso lado, também, imaginar como poderíamos modificar o que está errado? Um esforço comum é muito benéfico e as coisas não teriam chegado a esse ponto se nós já tivéssemos feito algumas grandes modificações.
Ontem
mesmo, pela televisão, pude ver, nos distúrbios de São Paulo, um rapaz “Black
Bloc” escrever no vidro de uma entidade bancária, a frase: “abaixo o
capitalismo”. Mas não dizia o que desejava em seu lugar. Entendo que a pessoa,
sabendo o que não quer, alcançou um degrau para chegar mais rápido ao que quer.
Mas não se deve, em nome de um experimento para melhores dias, deixar que uma
filosofia social com tantos teóricos inteligentes e sérios, o anarquismo, seja
transformada na baderna representada pela
anarquia.
Não estou, de forma alguma, a favor desse vandalismo generalizado que está se operando nas cidades brasileiras: afinal de contas, está trazendo prejuízos a todos nós, membros ordeiros da sociedade, que conseguimos, com muito trabalho, colocar nosso país em funcionamento. E, por outro lado, se continuarem nessa orgia depredativa, estarão apenas vandalizando as cidades e colocando medo aos cidadãos, trazendo antipatia à sua causa, que deveria ser o bem-estar de todos – eis que esse é o idealismo contido em qualquer doutrina social. Além disso, naturalmente, não terão tempo para raciocinar sobre o que realmente desejam colocar no lugar do que pretendem destruir e o hábito da desordem irá descambar para uma involução em nossa longa caminhada para uma vida com relativo conforto material e imaterial e um pouco de paz que ora usufruímos.
Todos os teóricos do anarquismo apresentaram suas ideias para modificar a sociedade para melhor e os práticos dos movimentos sempre atenderam a essa finalidade filosófica – não haveria de ser agora, com bem mais liberdade do que no século XIX, em que houve o seu início , que as pessoas, a título de apenas uma satisfação agressiva pessoal, invocassem esses princípios para desvirtuá-los.
A meu ver, os Black Blocs, como assim se autodenominam os mascarados brasileiros que se infiltram em todos os movimentos pacíficos e os transformam em verdadeiras praças de guerra, devem recordar-se do que significa o próprio símbolo do anarquismo : o A dentro do O, indicando que deve haver a ordem limitando a filosofia.
Em uma das minhas primeiras postagens neste blog, afirmei que estamos caminhando para uma DEMOCRACIA PARTICIPATIVA, isto é, um diálogo direto do povo com as instituições, para participar das diretrizes de desenvolvimento do Estado, nas suas diversas áreas. Mas alertei que um tal movimento há de ser institucionalizado, isto é, deverá ter uma organização, mesmo que sem hierarquia, mas que consiga ter pessoas responsáveis por falar em nome de todos.
Os participantes das passeatas de junho estavam reivindicando mudanças de estrutura moral e ética na política e na forma de governo implantada, com menos corrupção e mais aplicação da finalidade pública do Estado, com melhoria na educação, na saúde e no transporte coletivo → enfim, a mudança do “status quo” imperante no Brasil, que estagna a faculdade do povo atingir um nível elevado de cultura e saúde (o célebre posicionamento da cultura grega “mens sana in corpore sano”, mundialmente reconhecido como o mais acertado), única forma de tornar um povo forte para levar avante o desenvolvimento socioeconômico de uma nação.
Para se levarem a efeito essas finalidades, é mister que se faça uma grande modificação da mentalidade da nossa elite política, deixando de pensar mais de forma político-partidária para centrar-se em programações de estado, a longo prazo, como fazem e sempre fizeram as nações que conseguiram alcançar um “status” de confortabilidade e qualidade de vida dos cidadãos, a par de um desenvolvimento econômico favorável.
Outro ponto de interesse dos jovens de junho foi a conservação do meio ambiente, com o uso sustentável dos bens da natureza – isto é, sua utilização racional de maneira a se deixar suas benesses para também serem colhidas pelas próximas gerações.
Em outra postagem, alertei para fato de que movimentos também extraordinários como o de junho, durante a História, deixaram-se morrer porque não foram acompanhados de uma efetiva continuidade – não de ficarem pessoas permanentemente nas ruas, eis que todos têm os seus afazeres e, a ficar dessa maneira, atrapalha-se o trabalho de todos. Mas, isto sim, de se organizarem em um organismo de caráter permanente. Pensarão os jovens que basta estarem dando seus protestos através de postagens em redes de relacionamento na Internet, que, como uma varinha mágica, ou um “abre-te Sésamo”, tudo se resolverá. Repito que a construção de qualquer coisa, notadamente da grandeza de um País, necessita de um trabalho constante e organizado. Até mesmo o símbolo do Anarquismo, que é contra a existência da autoridade, apresenta toda essa liberdade com um limite na ordem. De fato, até o momento, não se tem notícia de uma ação normativa e constante dos “jovens de junho” para dar ideias e fazê-las acontecer – será que estarão esperando fazer uma passeata daquelas ciclicamente e assim tudo vai acontecer?
Muito repercutiu, à época em que foi proferida e ainda hoje é relevante o sentido da fala do Presidente estadunidense, Kennedy, quando afirmou que não se deve perguntar o que a Pátria pode fazer por você, mas o que você pode fazer pela Pátria. E é isso que esperamos de nossos jovens, de nossos adultos, de nossos idosos, enfim, de todos os nossos cidadãos.
Os ideais filosóficos do anarquismo são tidos como utópicos. Sim, para que se instalem em nossa atual sociedade, realmente o são. E não serão as atividades dos “Black blocs” que modificarão essa realidade. Antes, até, poderão fazê-la ficar cada vez mais distante — à medida que as pessoas veem a destruição que causam, sem que estabeleçam um motivo ou uma finalidade, a não ser um protesto, tudo será visto apenas como “arroubos da juventude”, que pela violência exacerbada existente em nossos dias, tornou-se também exageradamente depredativo. E o tempo passa... E nada de concreto, em termos de novas filosofias existenciais desses movimentos, podemos encontrar.
Mas,
como expus no meu livro “O Direito do
Futuro”, estamos no limiar de dar um passo para um nível mais alto
evolucionário, o qual poderá, contudo, não ser dado. No último caso,
permaneceremos como estamos agora, com
essas perturbações da ordem de jovens de
hoje imitando o que já foi feito. A História é assim: virada uma folha, deve
vir outra com as experiências colhidas da anterior, sempre para conseguirmos
escrever a obra inteira. Mas, para darmos esse passo, uma mudança deve se
operar de fundo moral e ético no ser humano, individual e genericamente, para
que o poder sancionador de uma norma jurídica não seja mais produtivo do que a
consciência do dever de cada um em cumprir o
seu preceito.
Ora, em nossos dias, as
pessoas, se tiverem a esperança ou a certeza de que o poder sancionador não se
operará sobre elas, ou se o for, haverá meios de burlá-lo, certamente não raciocinam
em termos de um dever ético e moral perante a sociedade como um todo de agir
conforme a norma.
Entendo que, num estado de coisas como o de hoje, em que a cultura do relativismo está disseminada no mundo inteiro, dificilmente se concretizarão os ideais do Anarquismo, porque estes somente poderão operar em uma sociedade cônscia e praticante de seus deveres, sem necessidade (an=sem) de um órgão regulador e sancionador (arkhós = autoridade). Se abolirmos os governos, o mundo entrará numa fase da Anarquia, retornando a um estado de selvageria existente antes dos homens se terem reunido em sociedade — isso porque o humano, como disse Darwin, ainda não se libertou da marca do seu antigo ancestral, violento e selvagem – olhem em volta e compreenderão tal afirmativa.
O ser humano precisa compreender o porquê das coisas para poder realizá-las. Esse é o seu destino ou sua desdita. Um inseto social não necessita essa compreensão, porque tudo está gravado em seu DNA. Já o homem, que somente utiliza 5% do seu DNA, tem apenas a capacidade de aprender e compreender, de entender para poder realizar uma porcentagem maior desse ácido necessário à escrita da sua história de vida. E, para conseguir isso, deve aprender com as experiências. De contrário, ficará estacionário como está, pensando ser o “rei da criação”, enquanto as outras criaturas vão atingindo pontos mais elevados de evolução e cumprindo tudo o que está escrito na enorme serpentina de sua vida. E nós, paralisados no tempo, teremos o mesmo destino dos “antigos reis da criação”, os famosos dinossauros, cujos ossos encontram-se jogados aqui e acolá e suas figuras grotescas servem de brincadeiras de crianças. E não se diga que não eram inteligentes, pois em um ambiente inóspito como o do início da Terra, quando apareceram, era necessária muita destreza intelectual para tornar-se o animal dominante — a Ciência, hoje, já chegou a essa conclusão.Entendo que, num estado de coisas como o de hoje, em que a cultura do relativismo está disseminada no mundo inteiro, dificilmente se concretizarão os ideais do Anarquismo, porque estes somente poderão operar em uma sociedade cônscia e praticante de seus deveres, sem necessidade (an=sem) de um órgão regulador e sancionador (arkhós = autoridade). Se abolirmos os governos, o mundo entrará numa fase da Anarquia, retornando a um estado de selvageria existente antes dos homens se terem reunido em sociedade — isso porque o humano, como disse Darwin, ainda não se libertou da marca do seu antigo ancestral, violento e selvagem – olhem em volta e compreenderão tal afirmativa.
Nisso se
resume o Restitucionismo: explicar ao homem o fundamento da necessidade de
evoluir além do seu atual estado, em um meio ambiente em que tudo evolui — não
só materialmente, eis que muitas civilizações, como a Egípcia, a Romana, a dos
habitantes da Ilha de Páscoa, os Maias e algumas outras, chegaram a um
ápice tecnológico que nos espanta, mas
esses monumentos de hoje nada servem para o tipo de evolução que mantemos.
Somente o desenvolvimento intelectual deles é que lhes proporcionou um legado
de sobreposição às condições inóspitas das regiões onde viviam, conseguindo um
convívio social organizado e equilibrado – o que não ocorre em nossos dias,
apesar de todo o nosso desenvolvimento tecnológico.
Platão nos deu duas lições nesse sentido: 1ª) em seu livro “As Leis”, referindo-se à juventude grega, afirma que, enquanto julgavam que as leis foram escritas pelos deuses, cumpriam-nas com alegria e fervor; mas, quando deixaram de acreditar nos deuses, essas mesmas leis eram permanentemente desobedecidas. Daí se deduz que a origem e a finalidade das leis devem ser ministradas ao homem e absorvidas pelo seu intelecto e por seu coração, sem o que, passam a desobedece-las. Isso acontece também em nossos dias – a descrença nas Instituições, donde as nossas leis atuais procedem e a falta de perspectiva para um futuro humano as tornam alvo de desrespeito; 2ª.) No seu livro “A República”, no Episódio da Caverna, Livro V, narra a parábola dos homens presos por grilhões eternamente de frente para uma parede onde se refletiam sombras através de uma luz que provinha da entrada do local. Elas eram apenas aparências das figuras reais, mas para eles, que não conheciam a verdadeira imagem, a verdade era o reflexo malfeito. Alguém que conseguiu livrar-se dos grilhões, fez a caminhada até fora da caverna e viu a verdade e a beleza da claridade , e lhes contou qual era a verdade; foi escarnecido e por fim agredido por eles, que não desejavam mudar seu pensamento. Essa é a indicação de como é difícil ao ser humano, em geral, dar um salto evolutivo, mas que alguns indivíduos o conseguem e tentam elevar os demais, que não acreditam, pois lhes basta o que têm e ficam, eternamente, acorrentados no erro.
Platão nos deu duas lições nesse sentido: 1ª) em seu livro “As Leis”, referindo-se à juventude grega, afirma que, enquanto julgavam que as leis foram escritas pelos deuses, cumpriam-nas com alegria e fervor; mas, quando deixaram de acreditar nos deuses, essas mesmas leis eram permanentemente desobedecidas. Daí se deduz que a origem e a finalidade das leis devem ser ministradas ao homem e absorvidas pelo seu intelecto e por seu coração, sem o que, passam a desobedece-las. Isso acontece também em nossos dias – a descrença nas Instituições, donde as nossas leis atuais procedem e a falta de perspectiva para um futuro humano as tornam alvo de desrespeito; 2ª.) No seu livro “A República”, no Episódio da Caverna, Livro V, narra a parábola dos homens presos por grilhões eternamente de frente para uma parede onde se refletiam sombras através de uma luz que provinha da entrada do local. Elas eram apenas aparências das figuras reais, mas para eles, que não conheciam a verdadeira imagem, a verdade era o reflexo malfeito. Alguém que conseguiu livrar-se dos grilhões, fez a caminhada até fora da caverna e viu a verdade e a beleza da claridade , e lhes contou qual era a verdade; foi escarnecido e por fim agredido por eles, que não desejavam mudar seu pensamento. Essa é a indicação de como é difícil ao ser humano, em geral, dar um salto evolutivo, mas que alguns indivíduos o conseguem e tentam elevar os demais, que não acreditam, pois lhes basta o que têm e ficam, eternamente, acorrentados no erro.
É justamente isso que a Filosofia Restitucionista, ou Restitucionismo, procura: indicar ao ser humano atual, que pretende elevar-se ao Cosmos, qual a realidade dos princípios das normas de moral e ética e, em consequência, de comportamento, capaz de torná-lo um ente integrado a uma realidade cósmica que, afinal de contas, é a única existente — eis que uma realidade fundada na ilusão de uma supremacia de uma espécie que sequer consegue manter-se em paz é bem mais agradável do que voltar-se para a amplidão do Universo e compreender que fazemos parte de um todo organizado onde as leis são eternas e não variam segundo a nossa vontade. Uma filosofia no mesmo sentido do Restitucionismo, que apresento no meu livro já citado, é a Filosofia Univérsica de Huberto Rohden. Convido a todos a se inteirarem de ambas e, sendo possível, apresentarem sugestões.
As abelhas e os cupins são insetos sociais. Isso significa que vivem em sociedades organizadas. E, acresço, são anárquicas. A “Rainha” não é um elemento ordenador, de chefia ou ditador de ordens. Sua função em uma colmeia é apenas de um grande útero de onde nascem todas as demais, chamadas operárias. Dentre elas, algumas cuidam das pequenas larvas, outras constroem os favos, outras vão para as matas à procura do néctar das flores. Nascem, crescem e levam a efeito o seu trabalho, sem que qualquer uma interfira na função da outra ou sem que qualquer uma delas se rebele ou deseje usurpar a de outra. Possuem uma linguagem complexa, que se exterioriza através de símbolos, dentre os quais muitos são figuras geométricas. Morta a rainha, a colmeia perece, pois não há mais nascimento de abelhas
e aquela colmeia se desfaz. A mesma coisa ocorre com os cupins.
Ora,
poderão dizer alguns: por que colocar esse exemplo de um inseto tão inferior em
uma análise sobre avançadas filosofias procedentes dos cérebros privilegiados
dos seres mais evoluídos do Planeta, quiçá do Universo— nós mesmos, os seres
humanos?
Pois respondo: independentemente de qualquer conotação religiosa, há de se reconhecer que a natureza de nosso Planeta é um sistema em que todos os seres inanimados ou animados contribuem para sua conservação e evolução. Alguns já atingiram o grau máximo de sua perfeição para o fim a que se destinam. Nesse caso, não há mais necessidade de evoluírem, tudo o que deveria estar inscrito no seu DNA já se completou e exercem a sua função para aquela etapa natural em que sua vida é necessária. Mas nem por isso podem ser consideradas espécies inferiores — essa gradação de superioridade ou inferioridade foi feita por nós humanos, a partir do que entendemos sermos nós o ápice da perfeição em matéria de criação.
No caso das abelhas, o seu DNA está completamente utilizado, eis que elas já trazem, desde o nascimento, escrito nele, todas as etapas de sua vida e suas funções, com as habilidades apropriadas a cada caso. Não precisam aprender. No caso dos humanos, não nascemos com os conhecimentos necessários à nossa subsistência, necessitamos aprendê-los e passamos toda a nossa vida nessa atividade de aprender. Isso significa que as abelhas já atingiram a sua perfeição para a função que lhes é destinada na Natureza, mas, o homem, não. No DNA humano está inscrita a capacidade de compreender, e a necessidade de estudar cada item desse aprendizado — e é de se notar que apenas 5% dele estão em uso. Cientistas houve que afirmaram serem os 95% restantes um “lixo”, isto é, algo que já foi utilizado e deletado. Mas, atualmente, alguns já chegaram à conclusão de que boa parte deles pode ser ainda sobre habilidades a serem aproveitadas pelo homem do futuro — não lhes parece ser esta hipótese mais lógica?
Pois respondo: independentemente de qualquer conotação religiosa, há de se reconhecer que a natureza de nosso Planeta é um sistema em que todos os seres inanimados ou animados contribuem para sua conservação e evolução. Alguns já atingiram o grau máximo de sua perfeição para o fim a que se destinam. Nesse caso, não há mais necessidade de evoluírem, tudo o que deveria estar inscrito no seu DNA já se completou e exercem a sua função para aquela etapa natural em que sua vida é necessária. Mas nem por isso podem ser consideradas espécies inferiores — essa gradação de superioridade ou inferioridade foi feita por nós humanos, a partir do que entendemos sermos nós o ápice da perfeição em matéria de criação.
No caso das abelhas, o seu DNA está completamente utilizado, eis que elas já trazem, desde o nascimento, escrito nele, todas as etapas de sua vida e suas funções, com as habilidades apropriadas a cada caso. Não precisam aprender. No caso dos humanos, não nascemos com os conhecimentos necessários à nossa subsistência, necessitamos aprendê-los e passamos toda a nossa vida nessa atividade de aprender. Isso significa que as abelhas já atingiram a sua perfeição para a função que lhes é destinada na Natureza, mas, o homem, não. No DNA humano está inscrita a capacidade de compreender, e a necessidade de estudar cada item desse aprendizado — e é de se notar que apenas 5% dele estão em uso. Cientistas houve que afirmaram serem os 95% restantes um “lixo”, isto é, algo que já foi utilizado e deletado. Mas, atualmente, alguns já chegaram à conclusão de que boa parte deles pode ser ainda sobre habilidades a serem aproveitadas pelo homem do futuro — não lhes parece ser esta hipótese mais lógica?
Não sabemos o que está escrito nos 95% do nosso DNA que não utilizamos. Está muito cedo ainda para se saber qual o nosso verdadeiro destino, que deverá ir sendo alcançado pouco a pouco. Talvez, quando utilizarmos ao menos a metade, cheguemos a ver o restante e nos apressemos em realiza-lo. Por isso urge que galguemos nosso próximo degrau evolutivo — todo o Universo e toda a nossa Natureza Terrestre está evoluindo, podemos observar isso das mudanças que a nossa Ciência Cosmológica está apresentando a nossos olhos. Participemos, pois, e com pressa, pois o tempo não volta e precisamos alcançar o futuro.
De tudo isso somente se pode concluir que todo ser, neste ambiente natural planetário em que vivemos, tem uma finalidade a ser cumprida para o bem evolucionário de todo o sistema – cada ser é um subsistema, que deverá atingir o seu ponto de excelência e, para tanto, deve ir aprendendo (apreendendo) novas habilidades até que, por fim, chegue ao clímax da sua verdadeira finalidade para a qual foi produzido. E, enquanto não chegar a ela, deverá ir evoluindo, até que utilize todo o potencial do seu DNA, quando, então, não precisará mais aprender, apenas produzirá aquilo a que se destina.
Nós, humanos, ainda estamos em um estágio muito primário da nossa evolução. E eu, como vários filósofos da atualidade, dentre os quais cito Jean-Yves Leloup, entendo que estamos em nossa infância, lutando para ultrapassar o rito de passagem para a adolescência — e todo rito de passagem é doloroso e envolto em um caldeirão de ideias confusas. Dependerá de nós, como as abelhas, chegarmos à perfeição à qual nos destinamos, ou não. Muitas espécies não chegaram até lá e foram destruídas, pois todo o restante evoluiu e elas não cabiam mais no novo ambiente. Vocês já imaginaram, em nossos dias, com o tipo de vegetação que evoluiu daquelas enormes da pré-história, com o clima ameno em relação ao daquela época, e presas menores, terem ficado também existentes aqueles enormes dinossauros?
Quando chegarmos à idade adulta, em que os preceitos das normas jurídicas forem cumpridos porque cada indivíduo tem consciência da necessidade e da realidade da sua execução, assim como as abelhas têm a consciência do seu trabalho, sem necessidade de uma autoridade ordenadora ou sancionadora, então estaremos perto da nossa perfeição — e para isso deve nos encaminhar o Direito do Futuro, com filosofias que embasem uma moral e uma ética desvinculada de um ser sancionador, seja ele de origem divina ou terrestre. A sanção somente surte efeito e se destina aos alunos e às crianças rebeldes em aprendizado. E, no caso, nós somos alunos e crianças rebeldes em aprendizado.
7. Conclusão
Existem, em nossos dias, muitos seres humanos que já compreenderam uma destinação para a nossa espécie, diferente da de “predador máximo da natureza”, além dos grandes filósofos e mestres que iniciaram religiões.
Cito, aqui, o exemplo de Leon Tolstoi , o célebre escritor russo, autor dos inesquecíveis “Anna Karenina” e “Guerra e Paz” :
Para Tolstoi, os Estados, as igrejas, os tribunais e os dogmas eram apenas ferramentas de dominação de uns poucos homens sobre outros, porém repudiava a classificação de seus ideais como sendo anarquistas. Foi citado pelo escritor anarquista russo Piotr Kropotkin no artigo Anarquismo da Enciclopédia Britânica de 1911 e alguns pensadores o consideram como um dos nomes do Anarquismo cristão. Outra aproximação com o anarquismo se deu em 1862, quando Tolstói, em viagem pela Europa, visitou o autor anarquista Proudhon. Este estava a escrever um texto chamado "La guerre et la paix", cujo título Tolstói propositalmente utilizou em seu maior romance.
O escritor não acreditava em guerras e revoluções violentas como solução para quaisquer problemas, mas sim em revoluções morais individuais que levariam às verdadeiras mudanças. Afirmava que suas teses se baseavam na vida simples e próxima à natureza dos camponeses e no evangelho e não nas teorias sociais de seu tempo.
A busca pelo natural
Apesar de afirmar ter-se
convertido no último período de sua vida e de renegar seus trabalhos mais
famosos, encontram-se nestes mesmos textos diversas referências sobre a busca
do autor por uma vida simples e próxima à natureza. Segundo o escritor George
Woodcock em "A História das ideias e movimentos anarquistas", em
todos os romances que Tolstoi escreveu quando mais novo, ele "considera a
vida tanto mais verdadeira quanto mais próxima da natureza".
Vários foram os personagens
criados nesta época que representavam o ideal de vida simples e natural. Em
"Os Cossacos" são os camponeses meio selvagens de uma área remota do
Cáucaso; Em Guerra e Paz é o personagem Platão que é descrito no livro
como a personificação da verdade e da simplicidade: "Suas palavras e ações brotam dele com a mesma espontaneidade que o aroma brota da
flor". Em Anna Karenina outro camponês, também chamado Platão, é o símbolo
desta aspiração de Tolstói.
Ainda antes, na infância, Tolstói alimentava, junto aos irmãos, um sonho
de fraternidade total. Eles acreditavam que o círculo fraterno que formavam
poderia ser expandido e englobar a humanidade inteira, eliminando todos os
problemas. O local onde esta utopia foi idealizada, sob a sombra de uma árvore
em um bosque da Rússia, é o local onde foi enterrado Tolstói, conforme ele
pedira, e também mais um seu irmão. (In http://pt.wikipedia.org/wiki/Liev_Tolst%C3%B3i )
A ideia de um Estado em que os seres humanos não necessitem de ordens superiores para serem cônscios e cumpridores de seus deveres não é uma utopia. É uma realidade que poderá ou não ser alcançada. Tudo vai depender do esforço geral para irmos, passo a passo, evoluindo nessa direção. Mas é necessário que o ser humano se conscientize dessa necessidade. E foi entendendo isso que resolvi dedicar-me ao estudo das formas possíveis de se alcançar esse objetivo e tenho escrito bastante sobre o assunto.
O ideal do próximo estágio do ser humano, assim como já passou do Homo faber para o Homo sapiens e , muitos dizem, desse para o do Homo sapiens sapiens, será o Homo moralis , quando o preceito de uma norma de direito lhe for mais importante do que a sanção que o acompanha : isto é, não será necessário, para que todos cumpram o seu dever, a imposição de penas. Possuímos muitas pessoas assim em nossos dias, que já alcançaram esse estágio intermediário além do infantil, mas a maioria ainda procura ou não tem interesse em atingir — talvez porque desconheça que pode chegar até ali ou como será bom um mundo com pessoas assim e por isso entendo dever coloca-las a par . Depois do Homo moralis, sim, poderemos alcançar o estágio do Homo cosmicus, com a nossa integração definitiva nas leis universais. Enquanto isso, vamos trabalhando no sentido de que muitos desejem também galgar junto conosco todas as etapas necessárias ao nosso aperfeiçoamento.
Ao final, proponho que deixemos essas manifestações infantis de depredação de imóveis e móveis: há uma fase, na criança, em que ela gosta de destruir todos os brinquedos. Depois, mais velha um pouco, seu gosto por construir e reconstruir vai se aperfeiçoando cada vez mais, e então entra naquela idade em que o famoso “Jogo de Legos”, e o dos “Cubos Mágicos”, dentre outros, são sua ocupação. Com a humanidade também é assim.
Vamos jogar jogos de construir, ao invés de destruir?