quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

MEDITAÇÕES (2013 - 2014)







 1. Introdução

            Os céticos dirão que a passagem de um ano para o outro é  apenas uma mudança de calendário. Os românticos, que se trata de uma mudança de ciclo de vida. Os otimistas, que melhores dias virão. Os pessimistas, que são mais doze meses de tristezas e decadência humana.  Os apocalípticos, que é mais um passo para um triste final de nossa civilização.
           Nenhuma dessas visões, se tomadas como uma parcela em um conjunto de situações, deixa de ser uma parte da verdade, ou uma verdade possível dentro de um contexto maior. Mas, se alguma delas é  tomada como única  visão do futuro, falseia um princípio geral, que não pertence apenas à Ciência, posto que dito por um gênio da Física : “Tudo é relativo”. Sim. Vejamos um exemplo.
 
             Se optarmos por pinçar da Bíblia duas visões de dois homens sábios e iluminados, entenderemos que  existe uma fatalidade intransponível e um convite à imprevisão, mas, se compararmos em que contexto foram ditas, veremos que nos falam de uma parcela da verdade inteira colocada no texto onde estão inseridas:

          Salomão: O que tem sido, isso é o que há de ser; e o que se tem feito, isso se tornará a fazer; nada há que seja novo debaixo do sol. (Eclesiastes. 1,9)

            Jesus: Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. (Mateus. 6.34)

            Se nos dedicarmos a ler o texto todo, logo veremos  que um  não quis dizer que existe a fatalidade intransponível e o outro não aconselhou ninguém a não fazer nada, mas, sim , que  o futuro poderá ser a repetição do que foi realizado se nada for feito para modificá-lo ; e que, no outro caso, o referido é no sentido de que se deve cuidar bem do  presente, pois o futuro poderá nos trazer novas surpresas e para tanto devemos agir conforme as circunstâncias que temos à mão no presente, para podermos prover o futuro.
            Assim, também,  a mudança de um ano é, ao mesmo tempo, a passagem de um calendário para outro, e nisso não há nada de novo, como também é uma época em que as pessoas recomeçam suas atividades, traçam planos de vida,  e, de acordo com o que fizerem, poderão repetir todos os acertos ou erros passados, ou acrescentar-lhes algumas coisas as quais poderão ser ou não causa de alegrias e tristezas, a mais ou a menos; como, também, se prosseguir e aumentar a falta de valoração moral e ética de nossa sociedade, poderá esta ser mergulhada, a passos largos,  em uma autodestruição.

 

               
            O ser humano, desde o seu início, vem evoluindo passo a passo e o faz de acordo com a organização que imprime à sociedade em que vive.  E, para tanto, há necessidade de se estabelecerem metas iniciais e finais para cada etapa de desenvolvimento. O calendário, desde os tempos conhecidos por nós, foi uma invenção que facilitou conseguir-se cumprir as metas estabelecidas e desejadas, bem como a corrigir os eventos indesejados ou inesperados. E, para tanto, precisamos medir o tempo, a que todos estamos presos em nossa realidade tridimensional, sejamos do reino animal, vegetal ou outro. Para nós, o calendário mede  e estabelece o início e o fim de cada etapa a ser cumprida. Seja ele demonstração de poder, como o de antigos romanos,  ou de origem religiosa, como o gregoriano, que é utilizado no  mundo cristão,  solar (de acordo com a rotação da Terra em torno do Sol – 12 meses ), ou lunar (de acordo com as fases  da Lua, como o islâmico (com 12 meses mas com menos 11 dias do que o nosso), ou lunissolar, como o hebraico (alternadamente pelas fases da Lua e rotação da Terra , por isso  um ano de 12 meses seguido por outro de 13). Ou, ainda, como os antigos maias, a existência de dois calendários, um de conta longa, baseado em fatos astronômicos para  eventos existenciais relacionados ao Cosmos,  e outro para efeitos de agricultura e fatos da natureza, como estações do ano.  Todos, de qualquer forma, necessários à organização da vida da sociedade em períodos previsíveis para cumprimento das metas desejadas.

 2. Meditações de hoje
 
 
          Vivemos sob a orientação do calendário solar gregoriano. Em decorrência da sua institucionalização no Ocidente,  hoje se inicia para nós  um novo período em que todos os  ocidentais modernos  fazemos planos, quer financeiros, quer de estudos sobre os conhecimentos humanos que desejamos obter,  quer sobre metas existenciais materiais e imateriais e atividades a que desejamos dar continuidade ou não, ou ainda, sobre modificações a serem levadas a efeito em todas as atividades em curso. Não, evidentemente, pensando que seja o único dia para tanto, ou porque seja mágico ou porque foi estabelecido  somente podermos levar a efeito essa atividade neste dia. Tudo podemos iniciar, rever, corrigir e concluir  a cada dia de nossa existência.
           Há uma convenção geral, notadamente para regular os fatos econômicos mundiais e locais, de  mudanças na contagem de um novo ciclo de finanças — por isso  também se pode chamar, em sede de trabalhos, cada ano, de “exercício financeiro” ou apenas “exercício de...”. E, como em nosso mundo de hoje, baseado principalmente nas trocas econômicas, muito da vida de cada pessoa depende do fator econômico, costuma-se traçar planos individuais e coletivos, oficialmente, a partir do dia 1º. de janeiro. E, via de consequência, meditar-se sobre  os resultados do ano anterior costuma ser um bom hábito, a   estender-se sobre todo e qualquer assunto a partir de então, como um marco inicial de uma nova etapa a ser empreendida – uma forma de coordenar e organizar a nossa vida, em todas as áreas.
 
          Nestas meditações que ora exponho, não serão incluídas as minhas aspirações pessoais. Elas existem, mas não são mais tantas quantas as  de quando era jovem. Na juventude muito há de se conquistar para a realização pessoal e, para tanto, necessita-se mais de lutar e estabelecer metas pessoais a serem conseguidas, geralmente de ano a ano. Ou, mais espaçadamente, as mais demoradas, mas nem por isso menos  importantes para a realização da pessoa. Conquistadas as metas da juventude, outras surgem, o ser humano busca sempre  novas metas para assim realizar o seu tempo e sua finalidade  na sua atual existência.

             Invocando essas razões para se meditar no primeiro dia do ano, passo a tecer alguns breves comentários sobre grandes modificações do mundo de hoje, sobre as quais pretendo deter-me mais profundamente no decorrer deste ano que se inicia, quando terei oportunidade de melhor estudar o assunto, tão importante para a nossa geração, talvez o mais importante, e apresentar uma conclusão mais adequada a um tema tão extenso e ainda sem soluções apontadas.

              Essas modificações no mundo são  decorrentes de influências que estão atingindo institutos político-sociais existentes em todas as regiões, que se entrelaçam  em seus princípios e finalidades e se influenciam mutuamente, cujo  conceito atual está passando por uma reformulação de princípios. Princípios novos hão de surgir, embora ainda não tenhamos a consciência de quais sejam, e vários estudiosos já se debruçam sobre a sua provável natureza.

          Esses institutos assim tão importantes são, notadamente, os conceituados como Nação, Estado-Nação, Liderança e Democracia. Entendo que esses conceitos  se entrelaçam e, examinando-se um, forçosamente encontramos o seu relacionamento com os demais. Sendo assim, a crise em um desses institutos influi nos demais e deles sofre a influência, atingindo  severamente os alicerces sobre os quais cada um foi  erigido.     Em nossos dias estabeleceu-se uma crise  de todos, que merece ser examinada em face da globalização das relações comerciais e políticas e da revolução das comunicações, via Internet – porque esses elementos novos   alargaram a visão  dos limites estabelecidos pela Soberania, pela Língua, pela Religião e pela Cultura, assim como  outro alargamento de visão os fez surgir e ressurgir, desde a antiguidade clássica e  durante o Renascimento europeu – e é essa visão que hoje requer um reordenamento.

 

3. Ligeira Análise da evolução sócio-política do Ocidente e do Oriente

 


                           
           Aqui será feita uma rápida menção a estudos expostos por Max Weber em seu célebre livro “A ética protestante e o 'espírito' do capitalismo” e nosEnsaios Reunidos de Sociologia da Religião”, sem que se pretenda fazer uma análise sobre o assunto. O tema é abordado apenas para nos colocarmos razoavelmente dentro dos acontecimentos atuais  da procura dos países orientais pela instalação da Democracia, com movimentos que inicialmente se denominaram “primavera árabe”, um processo que se demonstra muito difícil e sofrido, estando a merecer várias intervenções internacionais para uma solução menos traumática do que já existe e que é muito intensa, notadamente na Síria, conforme público e notório – mas não ficam atrás também os problemas do Iraque  e em outras áreas cujo território estatal é  constituído artificialmente, sem o respeito às fronteiras  das antigas nações orientais, como a Pérsia, por exemplo.

             Embora  tanto o Ocidente quanto o Oriente atuais tenham se originado como Estados constituídos a partir do esfacelamento de antigos impérios ou nações, tanto em um caso quanto o outro, temos que, no  caso das  Nações Orientais antigas em que a sociedade era regida por normas religiosas, houve uma tendência para o misticismo e,  entre  nós, houve um consequente  ascetismo  com a formação de Estados laicos. Essa diferença pode, a princípio, parecer que não é tão importante para a imposição da Democracia em face dessa diversidade de pensamento filosófico-religioso, desde que a vontade popular assim o exija. Mas não há como evoluir a Democracia  em sistemas  altamente  radicados no governo através de soberanos absolutistas com origem imposta baseada no direito divino, de acordo com os livros sagrados. No Ocidente o processo foi lento , a partir do final da Idade Média e somente conseguiu se impor através de revolução cruenta, como se vê da História da França.

             Apesar da Democracia, na antiguidade, haver-se firmado em Cidades- Estado, em nosso tempo  ela reina nos Estados-Nações, mesmo naqueles que, como a China e a Rússia, empregam  a denominada de “Democracia Autoritária”, que praticam um Capitalismo de Estado - são o regime utilizado em países  com origens no antigo  comunismo marxista, que aos poucos vão-se  mesclando a um capitalismo controlado. De qualquer forma,   como bem acentua Weber, há  uma influência muito grande  da evolução das visões filosófico- religiosas  no mundo, para formar usos e costumes diversos  entre os distintos povos , que os levam a optar ou aceitar determinada forma de governo ou de constituição do Estado. 
           

          De qualquer sorte, se olharmos pelo ângulo do desenvolvimento econômico,  as democracias autoritárias têm obtido um enorme sucesso, enquanto as democracias tradicionais, fundadas nas liberdades individuais, estão a merecer algumas reformas institucionais, a fim de facilitarem  a governabilidade, quando se trata da forma presidencialista, em que muito poder se concentra em mãos do Presidente: a) ora  em detrimento da representatividade popular, normalmente pelo Parlamento,  que passa a uma fase de "arranjos" políticos para constituírem uma maioria, por vezes relutante, quando o pluripartidarismo  se inclina a um excesso de partidos, geralmente sem  metas bem definidas; b) ora concentrando  poderes em contraposição constante com o do Presidente,  em um verdadeiro "cabo de guerra", sempre que a quantidade de partidos, embora com metas bem definidas, reduzem-se ao mínimo de um par.        
              Com a Internet e o fenômeno da difusão do conhecimento e da liberdade de expressão, a forma de vida ocidental tem penetrado  na visão individual e coletiva dos cidadãos orientais, notadamente aqueles que têm ou tiveram no passado maior contato com  países ocidentais (mais especificamente através do colonialismo). Essa proximidade lhes apresenta, em  Estados  relativamente afins (pelo tempo em que permaneceram unidos, com a  hegemonia ocidental) a imagem das  facilidades e melhores condições de vida para as pessoas  que não fazem parte da elite dominante, decorrentes da forma democrática de decisões  governamentais. E, dessa forma, se incentivam a levar a efeito mudanças.

             Por tudo isso entendo que  o movimento inicial da “Primavera Árabe”, na verdade não se perdeu ou não frutificou. Ao contrário, é justamente nas lutas  travadas nas nações que fizeram parte dela que se demonstra a firme  convicção dos povos envolvidos a não voltarem atrás e, sim, chegarem ao fim almejado da Democracia. Mas, como já coloquei acima, essa transição é difícil e demorada, como ocorreu na Europa – e no Oriente é mais difícil dado que ainda impera, ali, em grande parte da população, que apoia as classes dominantes, o costume baseado no misticismo, que não dá uma visão pragmática   de consecução das necessidades humanas de acordo com as leis humanas, prendendo-se a normas estabelecidas pelas divindades, com vistas a um futuro em outra dimensão vivencial, que é a figuração do Paraíso. No Ocidente foi menos tormentosa, mas, assim mesmo, sangrenta em seu auge – é que facilitou a sua propagação o ascetismo para o qual evoluiu a ética protestantista que exerceu grande influência na Europa e nas colônias de países com maioria protestante, a partir do  final da Idade Média.

             Vejamos no Quadro abaixo,  com  base nos ensinamentos de Weber, as principais semelhanças e diferenças que deram a  origem e evolução de pensamento filosófico, em parte semelhantes, mas evidentemente  diversos do Ocidente e do Oriente atuais – que fizeram  atingir, no mesmo espaço de tempo, uma versão  diversa de forma de organização sócio/econômica atual:

 

 
 
                     OCIDENTE/ORIENTE
 
 
                                                             Semelhanças
 
  1) Quanto à origem :  Tanto o Oriente Moderno quanto o Ocidente Moderno  são sociedades procedentes de antigas sociedades (orientais os primeiros e ocidentais os segundos), onde predominaram normas  religiosas como reguladoras das normas de conduta político-econômico-sociais. As influências sofridas por parte da Europa sob domínio oriental na Idade Média, por longo período, não chegaram, contudo, a impor uma filosofia à outra, antes houve uma integração, guardando-se  as características locais, incrustadas definitivamente pela  grande influência da civilização imposta pelo Império Romano.
 
 2) Quanto à formação religiosaNo Oriente Islâmico, foi a religião criada por Maomé que logrou a união dos vários povos (nômades ou não, mas enquistados em regiões com suas próprias leis), que vieram a formar Estados evoluídos econômica e culturalmente, na Antiguidade; no Ocidente, foi o Cristianismo que logrou se impor no território Europeu, o ponto comum influente na   união  das diversas cidades independentes em Estados-Nacionais da atualidade : como exemplo, temos o caso da Itália, que era, na Idade Média, dividida em cidades onde reinavam  monarcas absolutos, os seus “Príncipes”.
 
                                                                     Diferenças
  
 
     Países Ocidentais
 
           Países Orientais
 
1) As fronteiras dos Estados foram estabelecidas de forma soberana, tanto nos Europeus quanto nas suas colônias que se libertaram  quando já haviam atingido um “status” de Nações, na acepção moderna.
 
 
 
2) A religião de onde procede a atual filosofia cultural dos Estados, o Cristianismo, é procedente do  Judaísmo Antigo, de cuja  fonte herdou o  racionalismo prático.
 
 
 
 
 
 3) Os Estados são laicos:  embora o  cristianismo tenha se desmembrado em várias vertentes, as populações convivem com os vários credos, atendendo às normas de convivência impostas pelas leis propostas por órgãos desprovidos de influência religiosa.
 
1)  As fronteiras dos Estados foram, na maioria daqueles onde atualmente ocorre a chamada “Primavera Árabe”, estabelecidas artificialmente, a partir  do final da Segunda Guerra Mundial, sem respeito às fronteiras dos antigos Estados-Nação e Impérios Orientais, não possuindo um “status” de Nações, na acepção moderna .
 
2) Os Estados, organizados a partir de fronteiras tradicionais ou  impostas , sofreram uma unidade religiosa, cuja origem é oriental. Mas  a religião de onde procedem é o Islamismo, fonte do  misticismo religioso atual. Salvo em Nações como o Japão, a China e a Índia, cujas origens religiosas foram  outras, que não tiveram, contudo, por diversos motivos, força suficiente para impor-se como  fonte de autoridade estatal.
 
3) Os Estados são religiosos: são regidos pelas leis escritas nos livros sagrados. E, tendo-se o Islamismo dividido em várias vertentes, as populações que  as seguem geralmente não conseguem uma convivência pacífica, pois as normas  religiosas divergem , embora com a mesma base central, o que as faz  se assemelharem a nações diversas contidas em um mesmo território.
 

 
4- Das Cidades ao Estado-Nação


            Alguns historiadores, até meados do século passado, costumavam chamar  a Idade Média, no Ocidente,  de “Idade das Trevas”, por entenderem que, devido ao imperialismo da Igreja Católica, que restringiu a capacidade de adquirir conhecimentos pelo ser humano aos limites do que permitia ou não, ficou impedida a evolução científica àquela época. Essa conclusão  foi tirada sendo feita uma visão macro de acontecimentos. Mas, na realidade, como ficou constatado posteriormente, em uma visão micro, houve, sim, durante aquela época, muito estudo e muitas descobertas.

 


                    
            Se tomarmos em conta a primeira hipótese, da inexistência de evolução na Idade Média, podemos considerar, sim, o Renascimento  da Idade Moderna como um verdadeiro milagre, o qual foi, à época, chamado de “Iluminismo”. Mas se levarmos em consideração  o muito que foi estudado e descoberto  em ambientes fechados e altamente  científicos, como castelos, mosteiros e organizações juvenis nas universidades, notadamente de Paris, observamos que houve, isto sim, um crescimento silencioso que veio à luz no Renascimento. Nada se opera do dia para a noite, nesse terreno. O que parece milagre, no que tange ao conhecimento humano, é obra de muito esforço  e muito sacrifício anterior de indivíduos e grupos de indivíduos que somente vem a público  nas ocasiões oportunas – e esse conhecimento, assim distribuído massivamente, vai elevar  os demais. Exemplos públicos  desse fato  foram Giordano Bruno , Galileu Galilei , Isaac Newton e Leonardo da Vinci, além de muitos outros, também conhecidos ou que se tornaram anônimos ao longo dos tempos, mas que deixaram suas contribuições através dos seus inúmeros discípulos e  seguidores. Também em nossos dias, em que se opera uma época de muitas modificações, sem ainda parâmetros determinados, também existem muitas pessoas e grupos de pessoas fazendo estudos sobre os acontecimentos passados e suas projeções para uma futura organização social mais condizente com a evolução científica já operada. Devemos estar alertas para  as novas filosofias que em breve deverão aparecer.

         Até mesmo a Igreja Católica Romana, que contém em si uma organização estatal (embora o Papa reine como monarca absolutista, não havendo democracia, e não exista uma noção de  Estado-Nação), já está se modificando , em função dos novos tempos que já sente estarem se instalando definitivamente, adotando alguns preceitos inicialmente reservados apenas aos Estados Laicos, tais como  a aceitação  do cidadão homossexual como componente do seu corpo de fiéis em todo o mundo. Essa aceitação, que se iniciou no Ocidente com o entendimento laico de que todos os cidadãos devem ser iguais perante as leis, estendeu-se, portanto, para um entendimento  teológico  da sobreposição da condição humana  sobre suas eventuais variações, perante Deus, que acolhe a todos em igualdade perante sua Justiça , assim como  a justiça humana recebe como um direito natural a igualdade  do ser humano, independente de diferenças de gênero, pensamento, etnia ou religião. Esse é um grande passo para um  melhor entendimento entre as pessoas, já que, como colocado acima, com base nos ensinamentos de Max Weber, a religião, no Ocidente, como no Oriente, foi parceira importante para  a busca da evolução  humano-social.
      O Estado, politicamente considerado, em si, não é obra antiga nem decorreu de uma criação intelectual, mas de uma evolução natural  da sociedade humana, acompanhando o  crescimento populacional e as relações de comércio entre os povos.  Provém notadamente dos  séculos XVI  e XVII, tendo evoluído das cidades , até quando, já em fins do  XVIII e XIX, chegou ao “status” atual de Estado-Nação, considerado como uma evolução positiva da igualdade entre as pessoas. Tem-se as origens das  organizações das sociedades mais ou menos de acordo com o seguinte esquema: 
 



         Os nossos atuais Estados não são  decorrentes da transformação dos antigos Impérios, como o Romano, o Persa, o Egípcio , eis que todos eles se fracionaram, depois de um certo momento histórico, em razão de várias ocorrências existenciais das populações integrantes e razões externas, voltando a ter uma divisão territorial, em cidades-estados e cidades, as quais, unindo-se, vieram a formar, por laços de parentesco, conquistas locais  ou interesses comerciais dos governantes, os Estados da Idade Média (séculos XVI e XVII), motivo pelo qual se diz ser  essa organização  por “Razões de Estado” . No Ocidente, quase todos provêm do fracionamento do Império Romano, que teve uma característica intrínseca: formou-se da submissão de vários povos e anexação de seus territórios, a maior parte diversificados em função da língua, da religião, dos costumes, grau de desenvolvimento socioeconômico  e aspirações - guardaram  suas etnias enquanto sob tal domínio, desde que não ameaçassem o Império, podendo praticar suas religiões, desde que incluíssem também as divindades romanas. Enfraquecido por problemas políticos internos e da incapacidade de administrar tão grande território com tão grande diversidade, aliadas a esse  fato as invasões estrangeiras (de povos conhecidos por eles como “bárbaros”), aceitos  pelos povos não satisfeitos com a dominação, desintegrou-se, incialmente em dois impérios (Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente) e estes, posteriormente, em várias cidades mais importantes às quais se agregavam outras menores, sem contudo, uma  constituição política a governá-las – eram cidades-estados que protegiam aquelas  em seu entorno.  A noção do Estado-Nação veio mais tarde, com o Iluminismo, com a aquisição da ideia de nacionalidade, do fim do século XVIII e  do XIX, formando-se, então, os modernos    “Estados da Razão” , que são os Estados-Nacionais de hoje.
        




         A noção de nacionalidade veio ainda na Idade Média, a partir da congregação de estudantes procedentes de várias partes do mundo, nas Universidades, notadamente em Paris. Aqueles que possuíam a mesma língua, procediam das mesmas regiões e praticavam os mesmos costumes, passaram a reunir-se em congregações, por uma facilidade de relacionamento. Daí para passar-se a uma ideia de regionalismo, pela semelhança de  etnia, língua e costumes, independente de  territorialidade, foi um passo : as comunidades estudantis levaram para seus locais de origem esses conceitos e o fato foi-se  agregando às populações, até porque os universitários eram, na maioria, pessoas provenientes das classes mais abastadas e com influência política em suas cidades. (*)
               

          Assim como as Cidades foram protagonistas no passado, influenciando na modificação  da organização mundial, como centros irradiantes de cultura e evolução científica, após a queda dos grandes Impérios, os Estados-Nações são, nos dias de hoje, os protagonistas da nova sociedade que se instalou a partir da revolução industrial e da economia de mercado, com  o estabelecimento de fronteiras baseadas na soberania. Contudo, algumas  modificações já se sentem nesse panorama : aparecem as grandes confederações, que são uniões de Estado com finalidades comerciais e de evolução regional, como, por exemplo, o Mercado Comum Europeu, que evoluiu para a União Europeia, pelo Tratado de Maastricht, em 1993.  De futuro prevê-se que  o conceito atual de Nação, a informar a soberania territorial de cada Estado, também deixará de ser fator proeminente, para atender a interesses mais diversificados , desde que comuns, para um governo mais igualitário  que proporcione melhores condições de vida às populações em geral : é decorrente da globalização das relações mundiais, a par do grande desenvolvimento  das comunicações, via Internet, principalmente, que está derrubando fronteiras  estabelecidas por convenções  e tratados internacionais. Não se pode dizer que foi esse o ideal da Organização das Nações Unidas, isto é, o de se formar um Continente e depois um Mundo sem Fronteiras, mas é de se afirmar que a ideia da congregação  dos vários Estados Soberanos para decidirem sobre a Paz Mundial foi a sua  precursora.       
        
 
4. Das Termópilas aos Tempos Atuais

          Em Esparta, no ano de 480 a.C. tínhamos uma Europa  dividida em cidades, vilas  e a Grécia, dividida em cidades-estados,  nas quais, a partir de Atenas, dominava o regime de governo democrático (a Democracia Direta). E assim ocorria em Esparta.

            Não podemos dizer que o Rei Leônidas e os seus guerreiros espartanos, ao defenderem a liberdade e a sua cidade contra o domínio dos persas, estariam firmando um conceito de nação – esse conceito é moderno, mais em sentido cultural. Tampouco as populações  que se juntaram a ele, no decorrer da sua caminhada até o desfiladeiro das Termópilas, o fizeram movidos pelo sentimento de defesa de  seu grupo étnico, com os mesmos costumes e o mesmo idioma (componentes do moderno conceito de Nação), mas tão só, como o monarca e seus guerreiros, para livrar suas cidades, que permaneceram separadas após a guerra do Peloponeso, da escravidão e da morte. Eis que, para que haja uma Nação a unir os povos, é necessário, acima de tudo, que haja uma “consciência nacional” , o que de fato não existia àquela época.
 


            Por outro lado, não há necessidade de haver um governo democrático para existir uma Nação. Até mesmo sob a  mais  inclemente realeza absolutista  ou mais a  veemente ditadura, essa consciência  persiste  - por vezes é esse próprio sentimento que leva os caudilhos ou  ditadores a alçar essa posição de absolutismo pragmático, ainda hoje , em vários Estados nacionais, quer no Ocidente, quer no Oriente.

            No passado, os Impérios substituíam-se uns aos outros, os mais bem equipados belicamente sobre os outros, mais antigos ou contemporâneos, e essa  miscigenação  entre as diversas culturas vinha a formar outros grupos populacionais. Por isso não podemos classificar  nem a Grécia Antiga nem o Império Romano como  duas grandes nações : o primeiro, como já foi apontado, porque era dividido em Cidades-Estados e, o segundo, porque composto por povos de várias etnias, línguas e costumes, que não formavam uma unidade  nacional,  nem chegaram a manter  laços de  união entre si, eis que  não estavam unidos, mas  atados sob o poderio militar do Poder Central. Em seus últimos anos, em Roma, havia uma variedade enorme de indivíduos de várias  etnias, algumas delas consideradas bárbaras, mas que passaram a adotar os costumes romanos  para usufruir das benesses  da capital imperial e, não, por entenderem fazer parte de  um grupo homogêneo  de pessoas conscientemente unidas por um fim comum de constituir uma grande Nação.

             Quando o Império Romano  se esfacelou, então  em várias regiões do mesmo surgiram pequenos Estados, grande parte dos quais formados pelos antigos reinos subjugados que se mantiveram nos mesmos territórios anteriores à sua conquista. E daí as vilas se transformaram em cidades,  e depois os regimes feudais , que,  já na Idade Média começaram a unir-se para defenderem-se  de  outros que pretendiam dominá-los  para tornarem-se maiores e mais poderosos – não mais com o intuito de constituírem  um grande império, vez que a experiência romana havia sido traumática e demonstrara não conseguir a unidade interna, essencial à sobrevivência do Estado.

             Com a chegada da Idade Moderna viu-se a Europa constituída por reinos absolutistas, em que os seus monarcas governavam sob a inspiração do  “poder divino”, cuja doutrina determinista  dividia os seres humanos entre aqueles que deveriam mandar e os outros a obedecerem, como consequência da suposta determinação de Deus, ao criar o Paraíso terrestre, para Adão e seus descendentes diretos (que seriam os monarcas)  governarem. À altura do final dessa época, nas Universidades os jovens provenientes de províncias onde se dava a semelhança de língua, costumes e etnia, passaram a reunir-se, já com uma nascente consciência de igualdade nacional. E esse sentimento foi sendo interpretado pelos filósofos românticos da época, o que desaguou no Iluminismo europeu, do qual chamamos o pensamento de Rousseau, inscrito no seu célebre “Contrato Social”: os seres humanos teriam decidido, em determinado momento, unir-se em torno de um indivíduo, o monarca, para que este  colocasse em si o dever de protegê-los de outras comunidades que não guardavam unidade com eles, ao mesmo tempo que renunciavam à sua liberdade absoluta (notadamente no que tange à propriedade privada) para alcançarem esse objetivo comum.

            Estava, assim, instalada a ideia de Nação no Ocidente, com uma conotação de conscientização dos seus componentes. Daí, então, as Nações foram-se organizando: mesmo os Impérios que se formaram com as Grandes Descobertas da Navegação vieram com a intenção não apenas de unir os territórios, mas de levar até eles os principais marcos distintivos das suas respectivas nacionalidades. Tal é o caso da América Latina e do México (portugueses e espanhóis), do Canadá e dos Estados Unidos da América, Austrália e Nova Zelândia (franceses e ingleses), que criaram sua própria nacionalidade, com as características locais que deram novas cores às antigas de além-mar e em menos de 500 anos desde sua descoberta passaram a formar, elas mesmas, novas nações. Ainda na Espanha temos os Bascos, reivindicando a sua independência, os Irlandeses, desejando sair do Reino Unido, também em razão de seus laços nacionais que se distinguem daqueles a que estão adidos.

            
         A experiência do Oriente é diversa: há várias etnias regionais. O Antigo Império Egípcio logrou legar  aos povos conquistados, bem menos evoluídos do que ele, características de seus costumes e desenvolveu-se em um território contíguo e contínuo a ele, onde  havia semelhanças mais do que diferenças – e, mesmo conquistado , primeiro pelo Império Grego de Alexandre e, depois, pelo Império Romano de Augusto, possuiu a magia de  trazer os conquistadores para sua área cultural de influência. E povos se formaram fora do seu território, por vezes mais antigos do que ele, mas que não despertaram, como aos Impérios Ocidentais antigos, a cobiça de estender mais o seu território além do que entendiam ser necessário.  Ao continente Africano se estendeu também o Império da Idade Moderna de Portugal, Espanha, França, Holanda, cujas Nações foram libertas apenas há pouco mais de  60 anos , quando a Organização das Nações Unidas fez a exigência da sua  independência. Vários povos nômades foram unidos  pela religião islâmica, passando usos e costumes a serem ditados por uma lei única, de fundo místico, inscrita no Alcorão. E, após a Segunda Guerra Mundial, por decisão das Nações vencedoras, foram  estabelecidas fronteiras artificiais que desatenderam a localização das etnias diferentes e se formaram  Estados com diversas nações  :  o Iraque, o Irã, por exemplo. Outro caso importante foi  o caso judaico, cujo território, formador do moderno Israel, também foi delimitado em gabinetes da ONU,  a partir de territórios designados pela Inglaterra, que, à época do final daquele grande conflito, dominava  a região e a doou para a formação  do novo Estado.                       
 
                                                   

           A China e o Japão são exemplos diversos, tanto do Oriente quanto do Oriente. Ambos foram formados da união de diversos reinos, que depois se uniram por força das armas, com etnias diversas mas com  origens comuns, para formarem Impérios. E dentro desses Impérios já se formaram Nações, pois a língua, os costumes, religiões, grandes correntes filosóficas que influenciavam os nobres e os demais cidadãos, e a própria moeda, foram razões para uma unidade nacional. Mesmo os territórios  menores, onde havia Estados independentes,  como a Ilha de Formosa, o Tibet, Taiwan, que foram anexadas à China em fins do século passado e princípio deste, guardam com a China Continental muitas semelhanças, principalmente a etnia e a língua.

             Os dois maiores exemplos da Unidade Nacional, em nossa modernidade, deve-se a dois povos.  No Ocidente, os Germânicos – mesmo depois de haver uma Alemanha de pós-guerra completamente destruída e separada em dois Estados, logrou, em menos de cinquenta anos, unir-se novamente, por força do grande laço nacional que une todos os seus cidadãos. E, no Oriente, os Judeus: mesmo sem possuírem um território, a força nacional dos componentes desse grupo étnico, espalhado por todo o Mundo durante séculos, logrou guardar sua unidade e, finalmente, unirem-se como um Estado Nacional em território que lhes foi doado após a 2ª. Guerra Mundial. Esses dois exemplos são os mais eficazes para demonstrar que a ideia de nacionalidade é uma consciência completamente incrustada no espírito humano e que, de uma forma abrupta ou mesmo frente a dificuldades de se  consubstanciar em uma função de territorialidade, não  se esfacela, como acontecia nos antigos Impérios.

                      
 5. Conclusão
 



            Não será pela forma de governo que se estabelecerá a utilidade e a funcionalidade de um Estado Nacional. É bem verdade que a Democracia hoje impera na maior parte desses Estados. E o último grande império, o da União Soviética, também veio a dividir-se nos antigos Estados Nacionais que a formavam, em uma experiência malograda de imposição do sistema econômico-social do comunismo. Todas essas nações assim separadas são ou estão tendendo para a experiência democrática, mesmo a moderna Rússia. E todos aqueles que aspiram a unidade de suas populações, mesmo nos Estados do Oriente onde ainda  vigem as monarquias hereditárias, o povo, unido pela sua consciência nacional, vem procurando  uma forma mais igualitária de divisão de poder.

             A próxima evolução  deverá ser no sentido de uma etnia global, terrestre. Não, não pensem que  sou futurologista ou pretensa pitonisa moderna. Essa afirmativa que ora levo a efeito provém da exclusiva análise da evolução histórica das sociedades humanas e da tendência de unidade entre povos que sempre demonstramos desde o início. Os movimentos  presentes, com o apoio das Nações Unidas, por um lado e, por outro, com a influência dos que utilizam o moderno meio de comunicação via Internet, são paralelos aos antigos.

             E, a propósito, volto à citação do antigo monarca Salomão, que citei logo ao início das minhas meditações: o que ele nos indica, ali, é sobre a evolução humana e da Natureza, em ciclos que se sucedem e se repetem – não iguais, mas com as mesmas regras, pois todos visam a uma finalidade ou resultado.  Por exemplo, na equação de 1º. grau, com várias incógnitas : ela será  sempre a mesma, tudo se repete, mas as incógnitas a, x, b e y fazem variar o resultado, z.

                                                                ax+by = z
                       
      Não, pois, que as situações sejam idênticas ou iguais, mas as etapas se repetem de acordo com uma normatividade comum, à semelhança do que ocorre na equação acima. E nesse ponto também os antigos Maias bem esclareceram em seu calendário de conta longa, sobre os ciclos ou “baktuns” ( anteriormente calculados em 13, mas agora, depois da descoberta de novos documentos, tem-se que sejam 17). Em nosso tempo, o célebre criador da “psicologia analítica”, Carl Jung, também  chegou à conclusão, pelo método científico, da existência de “Aions” (**), em que sobressaem determinadas influências,  psíquicas e sociais, que determinam  a forma como acontecem as coisas em nosso mundo, aí entrando o conceito de arquétipo e inconsciente coletivo.  

       Só para ilustrar, vou deixar, ao final, 3 exemplos de que  existem certas regras na evolução que determinam todas as épocas:

 
                                  1º. Exemplo:Vidas Paralelas”, livro escrito por Plutarco, que viveu entre 45 e 120 d.C., onde faz a análise de vidas de grandes homens de sua época (antiguidade clássica) , distantes em tempo e espaço, sem nada que os fizesse conhecer qualquer atividade de um ou de outro, mas que agiam e pensavam de maneiras análogas, quando não iguais - por isso classificou essas vidas como paralelas. Eles modificaram a sociedade em que viviam e diversas umas das outras, de uma forma uniforme, levando-as a guardar um paralelismo de filosofia e de vida, proporcionais ao paralelismo que esses indivíduos assim predestinados  guardavam entre si, e que desaguou em uma nova sociedade, a partir do início da Idade Média : de igualdade e de finalidade. Nessa obra ele demonstra haver entendido uma certa fatalidade do destino ao reunir, em locais tão diversos, personagens com características parecidas para influenciar a sociedade em que viviam para um determinado direcionamento evolucionário.

                                    2º. Exemplo: “As Leis”, de Platão:
                    

                             “... Todas estas, meus amigos, são opiniões  que os jovens absorvem dos sábios, tanto escritores de prosa quanto poetas, que sustentam que o justo por excelência é aquele que impõe a força vitoriosa. E disso resulta que os jovens estão tomados por uma epidemia de impiedade, convencidos de que os deuses não são em absoluto deuses como os que as leis nos orientam a concebê-los; e , em consequência disso, surgem também facções quando esses mestres os atraem rumo à vida que é correta de acordo com a natureza, o que consiste em ser senhor sobre os outros em termos reais, em lugar de ser seus servos de acordo com a convenção legal...” 

 
       Acaso não estarão os nossos jovens de hoje atuando de “forma violenta”, como na época de Platão se dizia “epidemia de impiedade”, justamente porque os valores morais de nossa sociedade são duramente contestados por escritores enaltecidos pela mídia, que os combatem, mas não apresentam novas regras, à semelhança do que sucedia àquela época? E não se tratava, então, da época que precedeu a mudança de uma forma de vida de até então e se tornou depois a moderna sociedade Ocidental? Não estaremos então, também, nessa fase de transição?  Não estarão, por acaso, também, em mosteiros, em universidades, em grupos de  humanistas que se reúnem  sem estarem sob os holofotes da mídia, em convites a  internautas pela Internet, realizando as necessárias atitudes para a mudança de “Aion”?

                             3º. Exemplo: citado por mim, em “Direito Natural e Político”, a propósito da reação dos cidadãos, que pareciam conformados e inativos, diante do poderio de monarcas absolutos, até que um acontecimento aparentemente simples diante dos tão grandes desmandos da realeza e dos nobres reinantes , fez com que toda a população reagisse, dando início a uma fase de grandes modificações sociais:  (In http://www.iejusa.com.br/cienciasjuridicas/monografia.php )  :

                                          “O pensamento da realeza, diverso daquele do povo , que já assimilara  as novas doutrinas e as tinha insculpidas  no seu ser, aguardando a ocasião propícia de mostrar à luz a sua força. E tal se deu ainda na primeira  infância  de Locke : ergueu-se  da multidão que assistia  ao injusto martírio do panfletário William Prynne (1637), no momento em que o carrasco executava  a sentença, um retumbante grito de terror cuja repercussão  provocou a queda de Carlos I – estava expressa, no seu conteúdo, não a insatisfação, mas  a cólera e o repúdio ao poder absoluto e arbitrário personificado naquele monarca.

                                       William Prynne era um panfletário puritano que publicara um panfleto (crítico) ao teatro, quando a rainha e damas da corte ensaiavam uma peça, por isso foi condenado e teve executada uma sentença de perda das orelhas.

                                        Em 1637 William distribuiu outro panfleto, tecendo críticas a um  membro do governo. Desta feita, a multidão, reunida na Praça dos Martírios, se rebelou: A sentença era de ter as bochechas marcadas com ferro em brasa com as letras S.L. (Seditions Libeller, ou Libelo Sedição) e ter cortado o que lhe restara das orelhas. Quando o carrasco iniciou a execução, ouviu-se um brado de revolta de todos os presentes, frente a semelhante terror. E esse brado ecoou em toda a Inglaterra, até mesmo dentro do Palácio Real e deu-se a queda do monarca. Iniciava-se assim uma nova era, em que os direitos do cidadão começaram a ser reconhecidos, graças à reação da coletividade.”


            Não teria sido, por acaso, se é que o acaso realmente existe, que as manifestações a partir de junho do ano passado, no Brasil, a “Primavera Árabe”, de dois anos  para cá , se assemelhem,  em sentido genérico, a  novos gritos  contra  o “Libelo de Sedição” moderno? Será que os governantes, além de ouvirem (pois todos os que não são surdos ouvem), terão o necessário discernimento para responder acertadamente a esses reclamos das sociedades sob sua administração? Esperemos que sim, eis que a História nos ensina a fatalidade dos fins evolucionários das sociedades – a forma de execução das transições e o resultado é que se modificam (essas são as incógnitas), mas, não, as regras de realização, tal como apresentado na equação matemática acima.  


            Volta-se ao final, ainda, ao item 1 acima (Introdução),  à citação das palavras constantes do Evangelho de Mateus, sobre enigmáticas palavras,  para interpretarmos  que  o dia de amanhã será , certamente, decorrência do que se faz hoje, mas, fatalmente, ele ocorrerá e, por isso, deve-se cuidar do presente, dia-a-dia : “porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo”.      
  ____________   

(*)  Nação, do latim natio, de natus (nascido), é a reunião de pessoas, geralmente do mesmo grupo étnico, falando o mesmo idioma e tendo os mesmos costumes. Foi, no Ocidente, , formando assim, um povo, cujos elementos componentes trazem consigo as mesmas características étnicas e se mantêm unidos pelos hábitos, tradições, religião, língua e consciência nacional.
 

Mas, a rigor, os elementos território, língua, religião, costumes e tradição, por si sós, não constituem o caráter da nação. São requisitos secundários, que se integram na sua formação. O elemento dominante, que se mostra condição subjetiva para a evidência de uma nação assenta no vínculo que une estes indivíduos, determinando entre eles a convicção de um querer viver coletivo. É, assim, a consciência de sua nacionalidade, em virtude da qual se sentem constituindo um organismo ou um agrupamento, distinto de qualquer outro, com vida própria, interesses especiais e necessidades peculiares.
 

Nesta razão, o sentido de nação não se anula porque seja esta fracionada esta entre vários Estados, ou porque várias nações se unam para a formação de um Estado. O Estado é uma forma política, adotada por um povo com vontade política, que constitui uma nação, ou por vários povos de nacionalidades distintas, para que se submetam a um poder público soberano, emanado da sua própria vontade, que lhes vem dar unidade política. A nação preexiste sem qualquer espécie de organização legal. E mesmo que, habitualmente, seja utilizada em sinonímia de Estado, em realidade significa a substância humana que o forma, atuando aquele em seu nome e no seu próprio interesse, isto é, pelo seu bem-estar, por sua honra, por sua independência e por sua prosperidade.


 (**) Nota da autora: Os gregos possuíam pelo menos três palavras para designar o Tempo:

“Aion”, “Kairós”e “Kronos” . Aion é a contagem do tempo longo, longuíssimo como o “Baktun” dos Maias. Kairós, um bloco de tempo, uma oportunidade, como, por exemplo, os famosos “anos dourados” no Brasil. Kronos, o tempo medido pelos relógios – segundos, minutos, horas. 
 

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