terça-feira, 24 de dezembro de 2013

UM AUTO DE NATAL - COMO CONHECI JESUS


UM AUTO DE NATAL – COMO CONHECI JESUS 

    


I - Introdução:

          Quando conheci Jesus, conheci o verdadeiro amor. Não aquele de que nos falam os poetas, os religiosos, ou os filósofos. Mas um sentimento tão intenso e liberto de qualquer interesse, que por si só tem a capacidade de se corporificar e de se transformar em um de nós para se dar a nós. E somente um ser infinitamente superior a tudo o que nós conhecemos nesse mundo dos sentidos a que estamos presos é capaz de realizar-se em sentimento sem amarras e sem barreiras. Talvez por isso alguns o denominem de o “Deus de Amor”.
            Quando alguém se sente amado com um amor igual ao que Jesus significa, não se conforma mais em sentir-se amado de outra forma e nem se compraz em amar de outra forma que não seja essa — é justamente essa  dupla via que procuramos buscar em nós e nos outros  e concluímos não sermos capazes ainda  de  proporcioná-la aos nossos próximos, assim como não conseguimos ainda  encontra-la nos outros seres humanos os quais conhecemos. E esse sentimento nos faz ter noção de quão inferiores somos e quanto devemos evoluir para chegarmos a entender a felicidade e a paz que obteremos em nosso Planeta, enfim, o paraíso na Terra, com que Ele nos acenou em seus vários ensinamentos, especificando a forma de  chegarmos até lá, quando nos disse :
 
                              Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim. (João, 14:6)

            Hoje, depois de muito ter vivido, presenciado e agido, consegui entender todo o sentido de minha ansiedade para  alcançar o sentido da vida  e que somente poderia  vê-la saciada através de um conhecimento que não nos vem dos livros e das ciências que estudamos,  mas da vivência  desses conhecimentos na prática da vida: assimilando a existência  mais com o coração do que com o cérebro, entendendo que o segundo é um instrumento capaz de nos indicar  formas de ação neste nosso ambiente, para então podermos ter as necessárias experiências imateriais para propostas de mudanças na  visão de um Supremo Bem que só pode existir  entre nós se  cuidarmos o suficiente  para alcança-lo — entendendo-se “suficiente” como  todo o necessário e possível que possamos atingir de superior em nossa condição.
            Em nossos dias, finalmente pudemos observar  que o ser humano atual , o Homo sapiens, não é o produto final de uma evolução, conforme o entendimento da Idade Média e que se consolidou  na Idade Moderna, com o Renascimento  da Cultura Clássica que nos guindou à categoria de ser supremo na Terra, como corolário do Deus Supremo do Universo,  para administrar todo o Cosmos. E isso conseguimos com uma simples observação, advinda da descoberta do DNA (ácido desoxirribonucleico), cuja pesquisa demonstrou a pequena diferença entre o nosso e o daquele de um simples verme, de um cão, de um gato, de uma abelha, de um macaco, de um crocodilo, para falarmos do reino animal, que conhecemos melhor do que os outros.

            Então tivemos também uma revelação sobre animais e insetos sociais, que existem na Terra desde muitos milênios anteriores a nós, que não têm mais evolução, em comparação conosco, segundo Darwin e sua teoria evolucionista aceita pela maioria dos cientistas. Trata-se do seguinte:
 
 

No DNA de uma abelha já vem  estabelecido todo o conhecimento de que necessita para executar a função que a Natureza tridimensional em que vivemos lhe exige. Ela já nasce com o conhecimento completo para tanto. Não necessita de estudos, de  indagações existenciais ou de  discussões sobre o que seja o amor, a esperança e a caridade : apenas e tão somente porque ela já atingiu a sua perfeição para a finalidade a que se destinou, através das inúmeras experenciações de suas gerações anteriores.

No DNA de um ser humano vem estabelecida tão somente a sua capacidade de aprender e um mínimo de conhecimento para os primeiros dias, mais instintivos do que cognitivos. Sim, porque precisamos acumular o conhecimento para podermos viver. E por que, se somos seres sociais, assim como as abelhas?  Tão somente porque necessitamos acumular as experiências necessárias ao enriquecimento do nosso inconsciente coletivo, a fim de que as próximas gerações possam agir de maneira mais eficaz para o fim que a Natureza nos propôs, sem perder mais tempo com aprendizados, tão necessários ainda em nossa iniciante fase evolutiva – se é que antevemos um futuro grandioso, apesar de nosso presente apresentar-se vergonhoso. Talvez não somente a Natureza existente neste Planeta tridimensional dominado pelo que se pode entrever através de nossos sentidos, mas para uma finalidade maior, que os religiosos denominam de perfeição  espiritual, os filósofos de meta de vida e, os cientistas, de evolução. Não sabemos ainda qual é essa finalidade, mas, certamente  não chegamos ainda  até lá, pois se tivéssemos atingido a nossa perfeição, não necessitaríamos mais aprender.

            Foi entendendo, finalmente, tudo isso, que consegui alcançar  a grandeza daqueles seres humanos  que vieram a esse mundo e procuraram nos mostrar um caminho  para chegarmos a uma meta de perfeição tal que possamos empreender  a atividade para a qual a nossa vocação foi estabelecida. Mas somente o consegui utilizando-me do meu livre arbítrio em desejar alcança-la ou não, independentemente de saber qual seja: de qualquer sorte, se Aquele que estabeleceu o desenho de um  DNA, seja  qual  for a religião que professemos, ou se  formos apenas céticos à procura de uma razão de existir, é certo que  somos impulsionados a uma escolha em direção  a uma meta final. No meu caso específico, o caminho que escolhi foi Jesus, isto é, a procura da capacidade de  amar, assim como Ele nos ensinou — não o Jesus religião, não o Jesus homem, não o Jesus Deus, mas o Jesus Mestre, que mostrou o que é o caminho, a verdade e a vida, com o seu próprio exemplo,  que nos aproximará daquele paraíso que procuramos, aqui mesmo na Terra : junto ao nosso Pai, ou seja, O que nos acolhe, que nos ama e  que nos aguarda. Mas, para chegarmos até lá, muito esforço deve ser dispendido.
           
2. Como Jesus entrou em minha vida
                                   
 
          Lembro-me, como se tudo tivesse ocorrido hoje, dos fatos que abriram meu coração para o mundo. Eu tinha seis anos de idade e foi um dia memorável e o seria para qualquer ser humano.
         Minha família residia em Belo Horizonte, e era dezembro.  Meu pai era um executivo de uma empresa financeira internacional e levávamos uma vida agradável, sem riquezas, pois éramos da classe média,  mas cercados de vizinhos e amigos.  Eu e meus dois irmãos mais velhos, dois rapazinhos, pois a diferença de idade entre mim e eles era grande, vivíamos com a alegria de estarmos em um ambiente mental e espiritualmente sadio, recebendo as lições de moral e ética de nossos pais, necessárias para a nossa vida como adultos, estudando em bons colégios e frequentando locais de distração que nos proporcionavam educação e entretenimento.

            Naquele dia eu carregava em meus braços duas bonecas: eram pequenas, mas eu as amava muito, principalmente a que parecia um bebê. Uma fora do Natal do ano passado e a outra do anterior. Eu e minha mãe estávamos no jardim, olhando para a rua, uma ladeira tranquila, onde passavam poucas pessoas e viaturas. Foi quando eu vi um casal e dois filhinhos, um menino e uma menina, todos maltrapilhos, que pararam em uma das casas em frente e pediram uma ajuda. Eu nunca vira umas pessoas naquele estado.

            Então perguntei à minha mãe: “Por que eles estão vestidos assim, com roupas rasgadas e estão pedindo ajuda? Por que se vestem assim e não como nós?” E ela respondeu: “Lia, nem todas as pessoas têm condições de ter uma casa e roupas como nós, pois, neste mundo, nem todas as pessoas conseguem trabalho e dinheiro suficiente, como o seu pai, para manter uma família”. Então olhei para eles e retorqui: “Mas por que eles não pedem ao “Papai Noel” para trazer tudo o que precisam?” E ela, novamente com a sinceridade às vezes acre que lhe era peculiar, mas que muito me serviu para conhecer e entender os fatos da vida, respondeu: “Minha filha, já que você perguntou, é hora de você saber a verdade, para que não fique pensando mal das coisas santas ou ilusões sobre o que não existe: “Papai Noel” não existe, é uma criação da imaginação dos pais para poderem ver seus filhos alegres com presentes que eles pensem que não vieram desse mundo. Somos eu e o seu pai que sempre compramos os seus presentes e ficamos felizes de ver sua felicidade. Nós já compramos a sua nova boneca, para este Natal. Aquelas pessoas que você está vendo não têm dinheiro para comprar presentes, coitados, nem roupas, nem comida – então não é culpa de “Papai Noel”, mas das condições sociais que não lhes permitem ter uma vida boa como a nossa”.
            Aquela revelação de que “Papai Noel” não existia deixou-me chocada. Mas, instantaneamente, senti uma dor no coração e o meu cérebro conheceu uma verdade imaterial: a Justiça. E foi essa descoberta que não entendi na ocasião, mas que ficou inculcada em meu ser e mais tarde dirigiu a minha vida profissional e espiritual, que me fez responder: “Mamãe, mas eles também tinham de ter condições de comprar os brinquedos e as roupas para os filhos deles, eles são iguais à gente. Eu não quero mais as minhas bonecas, eu vou dar todas elas a eles, vocês vão me dar outra, e eu vou ficar sempre lembrando que eles não têm e eu tenho”. Saí correndo para dentro de casa e botei num cesto que havia em meu quarto todas elas, inclusive aquele bebê, de que eu tanto gostava.

 

     
            Minha mãe correu atrás de mim e me disse que eu desse somente a   metade e não desse o bebê. Perguntei por que e ela respondeu-me que Jesus disse para dividirmos, e, não, ficarmos sem nada, tirou várias bonecas do cesto e foi ela mesma entregar as outras  ao casal, que a essa altura batia à nossa porta, dizendo para eles  que era o presente de Jesus no dia do seu nascimento, e lhes deu alguma quantia em dinheiro — eu fiquei na janela, apenas observando de longe, com um sentimento estranho, que não era nem alegria nem tristeza, apenas um vazio no coração. Eu não compreendi na ocasião, mas ocorrera o que hoje em dia os psicólogos chamam de “a perda da inocência”. Sim, eu chegara, então, à idade em que todos os seres humanos, quer na infância, quer na idade adulta,  ou até mesmo apenas em seu leito de morte, entendem que a vida nesse mundo, conforme a fazemos, é injusta. 
 
3. Como conheci Jesus
 
 
          Ouvi, então, pela primeira vez falar de Jesus pela boca da minha mãe terrena, às vésperas de Natal. Era muito criança, ainda. Nos dias que se seguiram, de festas, não tive muito tempo de deter-me a pensar no assunto. Mas impressionou-me  mamãe falar assim no nome daquela pessoa como sendo uma grande autoridade que  dissera para dividir com o próximo e que se devia obedecê-lo. E eu, com a mente infantil, talvez o substituindo pelo “Papai Noel” que morrera, obedeci-o, como uma grande esperança para minha segurança pessoal: até porque, sendo a mãe e o pai as autoridades máximas que até então conhecera, soube que existia uma ainda maior.

            Mas, de vez em quando, voltava-me aquele nome à cabeça e aquela frase que mamãe  me disse que era dele. Em janeiro do ano seguinte comecei a estudar a primeira série em um colégio leigo, já tendo ido alfabetizada por ela, que era professora primária. E não ouvi ali aquele nome nem o li nos livros que me entregaram para estudar. E, sendo assim, minha curiosidade começou a ficar muito aguçada.
            Não era hábito em minha família fazer-se festa de aniversário, como não foi a vida toda e nem mesmo nos dias de hoje o comemoro dessa forma. Não sei a razão, é uma questão de hábito ou de costume, mas o certo é que se fazia sempre um grande almoço, convidando-se os parentes mais chegados. E, ali em Belo Horizonte, não possuíamos nenhum, pois todos estavam no Norte ou no Rio de Janeiro, para onde nos mudamos cinco anos depois. Sendo assim, no dia do meu aniversário de sete anos, em fevereiro, acabado o almoço, papai lendo na sala, os irmãos brincando com coleguinhas, ficamos, eu e mamãe, na varanda. Foi quando lhe perguntei: “Mamãe, quem é Jesus?” Ela, então, fez uma breve narrativa da sua história, adaptada naturalmente para a minha idade, sem qualquer conotação religiosa, até porque ela e papai haviam combinado não interferir  nas escolhas religiosas dos filhos, embora lhes dessem uma educação de princípios cristãos, como de fato eles eram.
 
            No início, fiquei muito alegre, escutando sobre os pais de Jesus, seu nascimento cercado de acontecimentos extraordinários, as mais belas frases que a Bíblia nos traz dele, que ela dizia de maneira a que eu compreendesse. Mas quando chegou a parte da traição de Judas, fiquei muito triste e comecei a interromper, perguntando sempre o “por que” de tudo o que ocorria. E, quando chegou ao clímax de sua condenação e morte, eu estava chorando, um pranto sofrido, vindo do fundo do coração, com as lágrimas saltando dos olhos aos borbotões. Mamãe passou logo para a ressurreição, mas, na verdade, nem escutei direito e nem mesmo entendi. Meu pai, ouvindo o meu pranto, veio ver o que se passava e eu então, entre lágrimas perguntei a ele: “Por que um homem tão bom, que só amava as pessoas sofreu tanto?” Ele respondeu-me que eu era muito nova para entender aquilo, mas que eu me lembrasse sempre de  que, por causa dele, nós evoluímos muito como seres humanos e já podíamos  ter muita coisa boa, mas que era preciso que eu, quando crescesse, também fizesse a minha parte de bem neste mundo, para um dia me encontrar com ele. Fiquei então mais conformada, diante da ideia de que algum dia poderia encontrar aquela pessoa tão maravilhosa. E foi aí que me apaixonei perdidamente por Jesus e procurei estudar  e ler tudo o que havia a seu respeito. E depois, quando fiquei adulta, adotei-o como meu Mestre (não sei se algum dia merecerei que ele me adote como discípula, mas faço tudo, desde então, para merecer tamanha honraria e felicidade).
 
4. O meu Jesus de hoje
                                                  

                                            
            Como vocês já devem ter concluído, sou cristã.  Em minha espiritualidade, encontrei o ecumenismo e, em outras religiões que estudei, encontrei princípios maravilhosos capazes de fazer melhorar o espírito humano e encaminhá-lo para um bem superior. Também entre céticos e ateus que conheci reconheci em seus pensamentos e seus modos de proceder princípios de elevada espiritualidade que eles negam mas, com certeza praticam porque se acostumaram, nos meios onde conviveram, a escutá-los e segui-los, mesmo que não soubessem de onde partiam. Mantive amizade com duas pessoas declaradamente ateias, junto às quais estive em ocasiões próximas a suas mortes e, nesses momentos, antevendo o seu fim, pude escutar de uma delas a frase: “Deus tenha piedade de mim” e, da outra, a afirmação de que  passara a vida  negando sempre Deus, mas que negava apenas aquele ser personificado como imagem e semelhança nossa, mas que agora, em seus momentos finais , e sabendo que eu a compreenderia, afirmou-me que existe sim, um Deus Absoluto, que não tem forma nem temos condições mentais ainda de entender, mas o seu grande desejo era de um dia unir-se a Ele, e que deixava essa informação como um presente de sua partida.
 
            Enquanto  li os livros religiosos, tive a ideia de Jesus ser um homem com um aspecto sério, que vivesse exclusivamente  dentro das próprias  palavras que pronunciava e, assim, venerei-o como se venera  alguém inatingível e a quem se deve dirigir palavras e pensamentos  em momentos de grande meditação e seriedade. Mas eu achava que essa definição do homem que ele foi não podia condizer com a realidade, porque uma pessoa assim só poderia ser feliz, a não ser que  só se lembrasse de como seria o seu fim. E como o seu fim seria trágico, certamente seria uma pessoa triste. Mas a própria Bíblia nos conta que ele teve uma vida humana, antes e depois de iniciar o seu sacerdócio, de escolher seus discípulos. E foi assim que procurei em todas as partes, em livros e em narrativas de evangelhos não constantes do Livro Sagrado, ter uma descrição  de sua personalidade, pois era um ser humano como nós — não como nós em geral, mas com uma singularidade extraordinária, de ser infinitamente perfeito, exatamente aquilo que se compreende ser um ápice da evolução da espécie. Não, um homem desse só podia ser uma pessoa feliz, e uma pessoa feliz não pode deixar de sorrir, de rir, de brincar com seus amigos, de nadar em um rio ou em um mar, de almoçar e jantar, conversando coisas  naturais da vida, ou ir a festas, como fez nas Bodas de Caná.
 
            Pelos anos oitenta do século passado várias pessoas começaram a procurar também essa parte humana alegre de Jesus — ele que foi e é  a alegria de nossa vida, e  imensamente  da minha. E surgiu o livro que talvez vocês não conheçam, mas de que devem ter ouvido falar, de J. J. Benitez, “Operação Cavalo de Troia”. Foi um dos maiores “best-sellers” de todos os tempos, o primeiro a falar sobre um Jesus alegre. E todos os da minha geração que procuravam, como eu, a verdadeira face de um homem santo que  personifica o amor, o leram: o autor soube, magistralmente, descrever um ser humano alegre, que tinha também seus momentos de  tristezas, de recolhimento espiritual , de meditação, que praticava os atos de sua religião e da tradição do seu povo, que aceitava as imperfeições de todos e sempre procurava orientar aqueles que passavam perto de si. Trata-se de nove volumes, todos muito grandes, descrevendo o seu percurso, desde que se iniciou o seu sacerdócio, sendo que o último somente foi publicado o ano passado. Mas os oito primeiros foram avidamente lidos por milhões de pessoas em inúmeras edições, todas elas  esgotadas instantaneamente : a história, contada ficcionalmente, refere-se a uma pretensa operação de dois  cientistas, a mando de um Estado poderoso e adiantado cientificamente de nossos dias, que, em uma máquina do tempo especialmente construída para esse fim, em uma  missão altamente sigilosa, cognominada “Operação Cavalo de Troia”,  recua até a antiga Palestina, na época de Jesus, com a missão de colher o DNA de Jesus e  fazer um estudo completo desse ser  tão extraordinário e narrar sua verdadeira história.
            Outro livro que muito me serviu foi o de Mika Waltari, denominado  “O Segredo do Reino”, que narra as cartas de um  Oficial Romano que passa pelo Monte onde Jesus foi crucificado no instante em que  o mesmo, ainda na Cruz, tinha seus últimos momentos. Olham-se nos olhos, à distância, e ele fica impressionado com a fortaleza de espírito daquele homem, que, mesmo na terrível agonia tem tanto poder interior. E parte, então, em busca da sua história e consegue vê-lo em uma de suas inúmeras aparições após a sua Ressurreição, transformando-se, de um cético pagão, adepto de uma filosofia materialista  cínica de sua época, no seu fervoroso defensor e seguidor. E nos descreve um ser humano maravilhosamente perfeito, tanto na sua integridade, espiritualidade, quanto na sua personalidade, alegre e em paz.

            Meditei muito sobre esse aspecto de Jesus que os Livros Religiosos não contam e entendi, pelo meu conhecimento, após tanto tempo de experiência existencial sobre o ser humano (que também sou), que nenhum ser com tal perfeição possa deixar de ser feliz. E somente agora, com essa compreensão, é que pude, finalmente, deixar de sentir aquela dor no coração que senti desde os sete anos de idade, sempre que me lembrava do seu trágico fim. Ele certamente me entristece, mas não com a intensidade de sofrimento que eu padecia, sabendo que, apesar de Jesus conhecer o seu destino, Ele sabia da grandeza da obra que estaria levando a efeito e foi feliz porque a cumpriu.
            E então, hoje, esse é o Jesus que reside em meu coração e meus pensamentos: Aquele ser que nos mostrou que o homem deve evoluir espiritualmente, e ser capaz de amar incondicionalmente, e nesse amor encontrar a sua realização, porque, assim, estará trilhando o caminho que o levará às mais altas glórias sequer imagináveis por nós, pobres seres materialistas, que pensamos que as riquezas terrenas são as mais importantes. Mas  que não poderemos levar depois de mortos e também podem desaparecer com catástrofes naturais, como os tsunamis , ou catástrofes econômicas de uma sociedade inteira ou de um dos mais ricos homens , como tivemos ocasião de observar neste ano que ora passa. Ou, ainda, que os ladrões podem levar a qualquer momento.
 
5. CONCLUSÃO

                                 


          Nesse dia de hoje, que se convencionou comemorar a data do nascimento de Jesus Cristo, esteja ela de acordo ou não com o calendário gregoriano, presto-Lhe aqui a minha pequena homenagem, narrando a minha história com Jesus e em Jesus, a qual, em conjunto com as histórias individuais de todos os outros seres humanos vivos, existentes  ou mortos ou  que ainda irão nascer, escreverão a História  Humana — uma saga de  dores, alegrias, lutas, muitas derrotas, mas inúmeras vitórias, que nos têm levado  a muitas conquistas.
            E, ao invés de Lhe dar  um presente, faço-Lhe uma prece, pedindo  que, nesse dia maravilhoso para a Humanidade, Ele vele por nós e não nos deixe, como espécie, enveredar pelo caminho do ódio, da perversidade, e da autodestruição. Que, ao contrário, interceda por nós junto ao Pai para que todo esse momento terrível de violência, descrença, egoísmo, materialismo excessivo e desamor à Natureza, que agora impomos ao nosso Mundo, seja em breve superado por uma Luz  que desça à Terra e nos torne criaturas melhores.

            E, ao acender as luzes da minha Árvore de Natal, ao som do Messias de Handel, aproximando-me da mesa onde farei a frugal Ceia com os seres ainda vivos que mais amo neste mundo, e pensando amorosamente nos meus mortos queridos, envio-lhes meus votos para que sejam construtores  de Paz, de Amor e de Serenidade – porque se alcançarmos esses alvos, estaremos, certamente, dando-Lhe o melhor presente que poderíamos oferecer-Lhe, de todo o coração, de toda a alma. 

 

 

 

sábado, 23 de novembro de 2013

VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE NEGATIVA NO SER HUMANO - Algumas de suas facetas



VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE NEGATIVA NO SER HUMANO

ALGUMAS DE SUAS FACETAS



1.Bernard Shaw                 2.Profeta Isaias             3. Gautama Buda                     4.Albert Schweitzer        5. Maynard  Smith

1. "Os animais são meus amigos...e eu não como meus amigos."
2.  "Quem mata um boi é como o que tira a vida a um homem." - Isaías 66:3
3. "O homem implora a misericórdia de Deus, mas não tem piedade dos animais, para os quais ele é um deus. Os animais que sacrificais já vos deram o doce tributo de seu leite, a maciez de sua lã e depositaram confiança nas mãos criminosas que os degolam. Ninguém purifica seu espírito com sangue. Na inocente cabeça do animal não é possível colocar o peso de um fio de cabelo das maldades e erros pelos quais cada um terá de responder."
4. "O erro da ética até o momento tem sido a crença de que só se deva aplicá-la em relação aos homens."
5."Coloque uma criança pequena num chiqueirinho, com uma maçã e um coelho de verdade. Se ela comer a maçã e brincar com o coelho, ela é normal; mas se ela comer o coelho e brincar com a maçã, eu lhe compro um carro novo. Em algum momento ao longo de nosso trajeto, fomos ensinados a fazer a coisa errada." 
                                                             
 
1. Introdução
 
             Apresentei, logo ao início,  cinco grandes nomes que também se preocuparam, como eu, em melhorar a situação  da violência humana, e coloquei algumas de suas inúmeras frases procurando abrir os nossos  olhos para  uma pequena radícula da árvore perniciosa, para mostrar que a violência, que se inicia contra os animais, vai penetrando no pensamento humano como algo natural  e deturpa a sua agressividade como instinto de preservação e a transforma em negatividade, como instrumento de prazer em fazer sentir dor. E daí  em diante é apenas um passo.
 
             Várias, como podemos perceber, são as vias de penetração na violência, como que vários riachos  afluentes de um rio, que vai engrossando suas águas, até desaguar no oceano do caos e da destruição social.
 
           Há muitos anos venho me dedicando  ao estudo da violência, procurando entender suas causas e formas de combate. Pude observá-la de perto, nos processos a que tive acesso como Promotora de Justiça e Juíza de Direito, além de ter acompanhado, socialmente, a sua crescente  e rápida incrementação no seio de nossa sociedade, a partir  dos anos  80 do século passado.
 
            Tenho escrito e levado a efeito palestras a respeito. Elaborei projetos para seu estudo, em conjunto, com órgãos e profissionais diversos e medidas eficazes para sua extirpação a partir das suas raízes, tendo-os oferecido à ONU (Organização das Nações Unidas), autoridades federais, estaduais, municipais e empresas, para que se possa tomar uma atitude  rápida e necessária para contê-la. Entendo que a violência humana é como uma árvore, cuja poda dos galhos torna-os, daí a algum tempo, mais belos e fortes, acolhendo em sua copa uma quantidade crescente de ninhos das serpentes da autodestruição de nossa sociedade. Sendo assim, apenas o corte da raiz fará  sucumbir  esse grande mal.
 
            Todas as entidades a quem encaminhei os projetos os elogiaram bastante, em documentos formais, mas informaram-me uma razão sempre repetida para se negarem e a leva-los a efeito: a falta de verba para tanto. Somente a ONU  os acolheu plenamente e pude realizar um “piloto” dos mesmos na Conferência Rio Mais Vinte.
 
             Indago se a alguém interessa a manutenção da violência humana: se às indústrias que lucram com a venda de equipamentos bélicos, se  às indústrias que fomentam a elaboração de jogos digitais  explorando a herança do ser primitivo que nos gerou, que é o prazer no levar a efeito atitudes de negatividade agressiva. Ou, então, se interessa a grupos de pessoas mal orientadas,  que têm por filosofia de poder deixar  a vida em sociedade  atingir níveis insustentáveis  para mais tarde oferecer suas asas poderosas, à forma de um “salvador da pátria”, prometendo sempre aumentar serviços cada vez mais dispendiosos de segurança pública, ou, então, se ao ser humano, individualmente, como corolário de uma grande “selva de pedras”  em que se tornaram as nossas  cidades e países?
 
             Depois que tenho observado as manifestações violentas com vandalismos, em jovens, a partir de junho, fico imaginando se não teria sido bem melhor já terem essas empresas e esses serviços públicos iniciado as propostas dos projetos, cujo valor a ser gasto em seus custos é pequeno,  ao invés de terem de arcar, agora, com os gastos vultosíssimos com indenizações às vítimas dessas depredações? E o que falar do relatório da UNESCO, que nos aponta como um país possuidor de um número recorde de crimes de morte, principalmente entre jovens, número esse muito maior do que  ocorre em países  em guerras civis e desastres naturais na atualidade?
 
             Enfim, parece mesmo que “santo de casa não faz milagres” e somente um organismo  internacional  examinou e observou  a necessidade de colocação do tema de solução da criminalidade, ao menos como início de  execução de uma programação muito extensa ( a ONU). E , dessa forma, tenho continuado o meu trabalho em prol  dessa solução, incentivada pelo acordo desse Organismo Maior da   Humanidade. E continuo com as minhas palestras, inclusive no Youtube, com os meus artigos publicados em várias mídias e escrevendo livros sobre o assunto, incentivada por sentir os seus efeitos em leitores que me procuram e discutem o assunto comigo. É um trabalho individual que, pouco a pouco, vai trazendo para a sua defesa pessoas interessadas nas mesmas melhoras que  almejo para a nossa sociedade.
 
            Por outro lado, mais uma vez chamo  a atenção para o perigo que se encerra na capacidade humana de se adaptar a tudo e a tudo achar natural, até mesmo o nível de violência que estamos vivenciando hoje. Isso impede  a nossa evolução como entes vivos e participantes da natureza planetária, predadores das outras espécies e faunas e predadores de nós mesmos, para ao final  nos levarmos à destruição total. A seguir, transcrição dos trechos do meu livro, de 2011, intitulado “Delinquência Juvenil – Infraestrutura da Criminalidade Adulta” (pp.123-130):
 
                                                             
 
   

2. A agressividade negativa influenciando a personalidade

 
 2.1 - A unidade , a  inteireza e  a indivisão da pessoa humana
         

            Além     da conceituação da personalidade, para o  posicionamento deste tema, há de ser feita a colocação do papel da agressividade a  nível  individual e social, influenciando na tendência a delinquir, do  ser  humano.

            Invocamos, assim, durante a exposição, os estudos de Mira y Lopez, dedicados à psicologia jurídica, bem como os de Freud, Lorenz e Adler.

            Diz-nos o insigne Professor de Psicologia da Universidade de Barcelona :

               "A pessoa é una, inteira e indivisa,  e como tal deve ser estudada e compreendida pela ciência. Desapareceu a barreira  entre o físico e psíquico do ponto de vista funcional: ante um estímulo físico não é o corpo quem reage, e ante um estímulo psíquico não é a alma quem responde, mas sim, em ambos os casos, é o organismo em sua totalidade, ou seja, a pessoa, quem  cria a resposta.”

           Enfatiza Mira  y Lopez  a base  somática da personalidade. Segundo  essa   concepção, o organismo humano se estrutura em uma série do que ele  chama de  “níveis funcionais”, cada um dos quais atua  sob o comando dos centros nervosos (central , periférico), que, por sua vez, se escalonam na direção ascendente, formando sempre uma “cola de caballo” (cauda de cavalo)  e o  “eje céfalo-caudal” (eixo céfalo-caudal). A eles se acrescentando os “lobos frontais”. A seguir, ele indica o que seriam  6 estágios de organismos, desde o somatipo normal até o correspondente ao neurologicamente decerebelado .À medida que o nosso organismo se eleva em estatura, com o crescimento,  esta cauda cérebro-espinhal também  se desenvolve, numa mais complexa estrutura e  integração funcional. E os centros nervosos reagem por estímulos (tudo o que é capaz de provocar uma impressão consciente ou sensação), dando origem e vazão aos sentimentos (“...a tradução  consciente das tendências de  reação originadas por nossas  impressões.”).
 
           E é justamente sobre os sentimentos que ele qualifica como elementares (o prazer e o desprazer) e as emoções (sentimentos exagerados) primitivas — o medo, a cólera e o amor —,  que se poderá influir no controle da agressividade, à maneira que ele próprio tão bem expõe, em sua tese de psicologia jurídica.

               Sobre essas emoções primitivas ligadas à tendência defensiva ou ofensiva, características da base  do sentimento de conservação individual que  atua na agressividade proveniente de fatores exógenos , entende-se que   devem atuar todos os mecanismos inibidores educacionais. Porque, aliados a ideias ou conceitos absorvidos pela personalidade, principalmente em sua formação, vão fazer surgir o que Mira y Lopes  denomina “estados afetivos  secundários”, que podem conduzir à criminalidade.

              Os estados afetivos secundários podem também surgir da combinação entre aquelas três  emoções primitivas e são eles a  alegria, a tristeza, a inveja, a desconfiança, a ansiedade, a vergonha, etc..

               Sob uma ótica  apenas científica, podemos afirmar que a  pobreza não é, por si, um fator facilitador da criminalidade de um indivíduo. Contudo, a comparação da sua  situação  de pobreza ou  miséria econômico-financeira, que um indivíduo faz  com a de abastança de grande contingente  da população , aliada à ideia, certa ou errada, de que não tem, normalmente, condições de atingir níveis desejáveis de abastança  da sociedade de consumo que lhe são apresentados a cada passo, e de que seria justo para ele  possuí-los, desde que deles  toma conhecimento, faz surgir nele  os estados  afetivos  secundários que o levam à transferência da agressividade negativa  e à criminalidade. Assim, tomando-se  parâmetros de comparação, a pobreza é um fator facilitador,  e não pode ser considerada isoladamente.



 
2.2 - A agressividade positiva como instinto

             Em  uma escala de valores que vá de zero a infinito, sendo zero o ponto de inércia, podemos afirmar, com certeza, que no processamento de seleção natural das espécies, considera-se o ser agressivamente inerte, no reino animal, como inexistente ou morto. A propósito, Lorenz  afirma que os seres vivos  lutam uns contra os outros porque, “na natureza, a guerra está onipresente” e que “a agressividade  de muitos animais para com os próprios congêneres não prejudica a espécie, mas é, pelo contrário, essencial à sua conservação”. (Em comentários citados por Álvaro Mayrink da Costa, in “Criminologia”, vol. II, 18ª. ed.,pág. 57).
 
                Uma pequeníssima mudança aparentemente insignificante, nas condições do meio ambiente, pode desequilibrar completamente todos os mecanismos do comportamento inato. E se a espécie é capaz de se adaptar rapidamente a essa modificação e a outras,  resulta sua preservação. Caso contrário, ocorre a sua destruição.
 
                Ora, as mudanças que o ser humano  produziu no seu próprio “habitat” estão longe de serem insignificantes. E, se um observador  imparcial de outro planeta olhar  o homem tal como é hoje —  com uma bomba de origem nuclear, produto de sua inteligência, em suas mãos, e, no coração e no cérebro, o instinto de agressão nos níveis elevados herdados  de seus antepassados antropoides e que  foi incapaz de    dominar  por sua razão — , estando distorcidos   seus  valores inatos dentro da atual sociedade anômica a que pertence, não profetizará, certamente, longa vida à humanidade.
           
              Em  1930, Freud  reformulou alguns de seus conceitos iniciais sobre os instintos, e, a partir  de 1923, quando escreveu o seu estudo  “The Ego and the Id”, apresentou uma nova dicotomia : “a do(s) instinto(s) de vida (Eros) e do(s) instintos(s) de morte”. Assim descreveu a nova fase teórica :
 
                        “Começando com especulações sobre a origem da vida e de paralelos biológicos, cheguei à conclusão de que, além do instinto para preservar a substância viva, deve haver um outro instinto contrário, que procura  dissolver essas unidades e fazê-las retornar  ao seu estado primordial, inorgânico. Quer dizer, assim como há Eros, há também o instinto de morte”. (Freud, citado por Álvaro Mayrink da Consta, op.cit., pág. 138).

2.3 – O conceito hidráulico de Lorenz – fatos externos e internos

                                               


 

        Lorenz,  na sua obra “On Agression” , assim como Freud, reconhece que a agressividade humana é instinto que, ao contrário  do que muitos preferem acreditar, não é produto de fatores  biológicos  longe do nosso controle, mas também não nega que possa ser alimentado como reação a estímulos  externos.      
 
       Tanto o modelo de Lorenz quanto o de Freud  representam o chamado “conceito hidráulico”, ou dos  “vasos comunicantes”, pois explicam o mecanismo da agressividade à maneira  da pressão exercida  pela água represada ou pelo vapor dentro de um recipiente  fechado, em  comunicação com outro.

         Não se nega, aqui, esse fato,  antes, até por nós  reconhecido. Mas não  menos verdade é que, figurativamente, (a) o rompimento do recipiente que represa  o líquido  ou (b) a explosão do continente do  vapor (no sistema dos vasos comunicantes) dependem, também , de  fatores exógenos. Tais como, para o primeiro caso, a boa ou má  estrutura das paredes e a qualidade do material empregado, a técnica mais ou menos avançada utilizada, o constante exame e  observação  dos mecanismos de controle do volume da água, com o atendimento do nível máximo suportável, etc.. E, quanto ao segundo, da qualidade do material de fabricação do recipiente, das válvulas de escape e das temperaturas a que é submetido. Assim também  sucede com os instintos : se, de um lado, criam-se situações favoráveis ao instinto de morte e desfavoráveis aos de vida, fatalmente Eros perecerá. Ou se este é submetido a condições que o distorçam, então se transformará em instinto de morte. E tais condicionamentos tanto podem ser endógenos como exógenos.
 
2.4 – Inadaptação social  do indivíduo
 
 
 
 
             Estudos mais recentes, especialmente os levados  a efeito  por  ADLER, nos  moldes  da  escola  ecológica”, demonstram que o homem , em nossos dias, transformou-se em um ser essencialmente  social : hoje cada  indivíduo tem uma  parcela  de  atividade, especializando-se nela e dependendo   dos outros para atender  às  solicitações  de sua vida, dentro da sociedade em que atua, nos outros  setores em que não emprega efetivamente a sua  força de trabalho  ou o seu “know-how”. E é motivado  pelas “solicitações sociais”. E, de acordo com as suas atividades  e com as solicitações que consegue atender, surgem para ele os conceitos de “status”, papel, estilo de vida, componentes  estes  de uma  psicologia social”.
 
             Também como Jung  e Freud, Adler manifestou uma preocupação biológica no estudo da  agressividade e afirma, com eles, a existência de uma natureza inerente ao indivíduo, genericamente considerado, que dá forma à personalidade do homem, mas deu ênfase à influência que sobre esta exercem as  “determinantes sociais do comportamento”. 
          
  
2.5 – Emoções secundárias e instintos distorcidos
 


               De qualquer sorte, no seu contato diário com os seus semelhantes, componentes do mesmo grupo social (sem levarmos em conta, de início, a estratificação existente na maioria das sociedades  modernas), o indivíduo sofre várias pressões, que  vão aumentando em quantidade e espécie à medida que a sociedade aberta vai-se fechando, pelo excesso populacional e pela aglomeração das  pessoas nos núcleos urbanos, desordenadamente. E surgem, assim, com maior intensidade , as frustrações, que são consequência  dos sentimentos elementares  recalcados e de emoções  secundárias, proliferando, desenfreadamente , para compensá-las na satisfação do “Ego”. As frustrações alimentam, então, os mecanismos da agressividade negativa, ou seja, em resumo , os mesmos que realimentam os instintos de morte caracterizadores de cada tipo somático, em sua agressividade natural, herança ancestral e resposta ao desprazer.
 
              Deve-se aqui  entender  a situação da criança ou do jovem  não adaptado socialmente em nossos dias : ou (a) ele  pertence a  um meio economicamente estável ou superior  mas  não  entende a  necessidade  de  contribuir com    um “status”, um papel  e um  estilo de vida dentro da sociedade a que pertence,  ou (b)  faz  parte   do contingente   social  na  linha da pobreza ou abaixo dela , onde  as perspectivas  de  alcançar um degrau acima de seu nível se tornam  muito distantes.
 
              Em ambos os casos  analisados acima, os instintos  de vida , atendidos por “Eros", são distorcidos  pela sua excessiva ativação ou desativação . No primeiro, a agressividade se  extravasa,   por  se  imaginar o indivíduo em formação  acima  de qualquer  obrigação de  desempenhar  a  posição  que  se espera dele , pois se crê  garantido por  seus pais ou responsáveis em   todas as benesses  desejadas agora e sempre pois não o fizeram conhecer  limites. No segundo,  por  perceber estar  abaixo de qualquer  perspectiva,  pois   não tem respaldo  econômico e social  no seu meio familiar,  desprovido, por esse caminho, de condições favoráveis na sociedade em que  já vive perifericamente. Neste último caso o jovem  entende, por outro lado, acertadamente, ter o direito natural de integrá-la, em igualdade  de oportunidades com os demais, e estar injustamente alijado do processo: é que  o Estado, embora  insira normas constitucionais  obrigatórias nesse sentido, não cumpre sua obrigação. E, ciente o indivíduo, racionalmente, dessa situação,  a  sua agressividade se extravasa pela revolta,   de que se  aproveitam indivíduos ou associações criminosas, à guisa de mitigar seu sofrimento. Qualquer   auxílio recebido,  mesmo que este venha  de  indivíduos  ou entidades  fora  da lei,  é bem vindo. E a eles  se entrega , na esperança  de alguma projeção e apoio de uma comunidade à qual se sinta integrado, sem condições psíquicas, por ser ainda uma personalidade em formação,  de  aquilatar ou  indagar da  sua origem  ou finalidade.
 
           O jovem delinquente é , em seu íntimo, infeliz : ou o que não conhece limites, e está sempre procurando  novas sensações , ou o que    conhece  limites, quando procura alguma oportunidade , ambos tendem a mergulhar  no vício ou na criminalidade. Com isso sofre a sociedade, que recebe  os efeitos  dessas condutas desviantes. E, acima de tudo, o próprio Estado, que perde seus cidadãos e tem de enfrentar  ondas de anarquia  e violências.  É  mais producente terem as autoridades,  em todos os níveis, o cuidado  de proceder à prevenção, através  do atendimento  da  infância e da juventude  , quando  é  mais  fácil moldar  a personalidade  no sentido de  uma atitude  positiva  diante  das obrigações sociais  dos  cidadãos.  A repressão, em determinado  ponto  ,  mostra-se  ineficaz,  se  o problema    se alastrou  e  fincou raízes  em vários  contextos  das  metrópoles. De qualquer  forma,  a recondução ao exercício da cidadania , de  um grande contingente  de pessoas com conduta desviante, quer  crianças, jovens ou adultos , é algo  não alcançável  do dia para a noite. São necessárias  medidas a curto, médio e longo prazos.