quarta-feira, 17 de julho de 2013

CORRUPÇÃO E IMPERFEIÇÃO HUMANA - TRÊS ANÁLISES SOBRE O TEMA


CORRUPÇÃO E IMPERFEIÇÃO HUMANA

TRÊS ANÁLISES SOBRE O TEMA

                                              

                                   


                        Raymond Aron, analisando a corrupção nos regimes constitucionais pluralistas, também chamados democráticos, onde há um conflito permanente de ideias, de interesses, de grupos e de pessoas, afirma ser muito difícil, na prática, as pessoas que representam cada um desses grupos terem a capacidade de estarem bem conscientes, ao mesmo tempo, sobre a distinção entre os interesses particulares de cada um e o interesse coletivo que devem servir. E, sendo assim, a distinção entre regimes sãos e outros corrompidos é apenas uma questão de gradação.
                              Ele distingue entre corrupção do regime e corrupção pessoal.
                              Neste artigo estaremos nos referindo à corrupção pessoal, aquela praticada pelo “conselheiro do príncipe”, ou funcionário público, e que funciona da seguinte maneira: toda política comporta problemas a resolver e as decisões devem resultar de uma análise da situação, que não consegue uma solução imperativa, mas indica um direcionamento mais favorável, pois cada uma das direções comporta vantagens e desvantagens mais favoráveis. Essa direção deve ser indicada por “aqueles que são encarregados de dizer aos políticos: eis aqui as soluções do problema“ e então ainda cabe ao político um outro dever, o de reunir em torno dessa solução mais favorável uma maioria parlamentar. E nesse conflito de interesses é que surgem as oportunidades da corrupção pessoal.

                        Ronald Dworkin analisa ética política e igualitarismo político, situando a visão dos liberais éticos, sob o prisma da teoria política de tradição contratualista. Invoca os argumentos de Rawls sobre justiça social, e indica a dificuldade de um negociador, ou político (que por essa teoria contratualista tem o dever de se mover pelos próprios interesses, ou daqueles que representa), de não  colocar esses interesses particulares acima do interesse coletivo. E, sendo assim, fica difícil também poder agir sem demonstrar que não se atém a uma noção de justiça social — porque, teoricamente, deve demonstrar sua intenção de perseguir essa justiça, embora, ao mesmo tempo, na prática, esteja interessado em conseguir  adeptos para  os interesses particulares que representa. Até porque tem como objetivo angariar para o setor que representa a maior maioria possível. Nesse emaranhado de decisões é que se desenvolvem os privilégios e a corrupção.

                                    Stephen Kanitz, por seu turno, analisa:

                               “O Brasil não é um país intrinsecamente corrupto. Não existe nos genes brasileiros nada que os predisponha à corrupção, algo herdado, por exemplo, de desterrados portugueses.

                                       A Austrália, que foi colônia penal do império britânico, não possui índices de corrupção superiores aos de outras nações, pelo contrário. Nós brasileiros não somos nem mais nem menos corruptos que os japoneses, que a cada par de anos têm um ministro que renuncia diante de denúncias de corrupção.”

                       


                        N1: Falta de integridade ou honestidade; especial susceptibilidade ao alcoolismo; uso de uma posição de confiança para ganho desonesto. Veja mais em

                                                            E continua ele:

                               “Somos, sim, um país onde a corrupção, pública e privada, são detectadas somente quando chega a milhões de dólares e porque um irmão, um genro, um jornalista ou alguém botou a boca no trombone, não por um processo sistemático de auditoria. As nações com menor índice de corrupção são as que possuem o maior número de auditores e fiscais formados e treinados. A Dinamarca e a Holanda possuem 100 auditores por 100.000 habitantes. Nos países efetivamente auditados, a corrupção é detectada no nascedouro ou quando ainda é pequena. O Brasil, país com um dos mais elevados índices de corrupção, segundo o World Economic Forum, tem somente oito auditores por 100.000 habitantes, 12.800 auditores no total. Se quisermos os mesmos níveis de lisura da Dinamarca e da Holanda precisaremos formar e treinar 160.000 auditores.”

                                           De todas essas análises, podemos entender que a corrupção pessoal, assim como a corrupção de regime, não é inerente à natureza imperfeita do ser humano individual, mas pode surgir em determinada pessoa tendo-se em vista o seu próprio grau de imperfeição humana. Isto acontece quando um indivíduo, confrontado com seus interesses pessoais ou do grupo a que pertence , fica incapacitado de distinguir entre o que é de interesse privado e o que é de interesse coletivo. Então se deixa dominar pelo emaranhado das relações políticas e procura seguir a solução que entende ser mais fácil para si próprio dentro do contexto social a que pertence, procurando criar para si ou seus representados situações de privilégios políticos. Usa, para tanto, de todos os meios com o fim de obter maioria para suas decisões e permanecer no serviço público. É então que, sem perceber, inicia-se na prática da corrupção. Ele chega a ponto de não mais perceber a diferença entre uma atividade política sã e uma atividade política corrupta. Pode, em certos casos, dado o escalonamento quantitativo de partidários e partidos políticos assim envolvidos, prejudicar a própria governabilidade ou administração pública, em menor ou maior grau.
                                           Como se pode concluir da leitura das obras desses três grandes pensadores da atualidade, trata-se a corrupção de um fenômeno mundial. O que difere, entre cada regime político, quer em regime capitalista, quer comunista, é o grau em que está infiltrada, e se ela já atingiu um elevado grau de funcionários públicos, políticos e partidos políticos, ou se ela é incipiente. E, para cada caso há de ser indicada uma solução. Mas toda e qualquer solução sempre incorporará, necessariamente, uma eficaz fiscalização.
Fontes:

Aron,Raymond, in “Démocratie et Totalitarisme”, Ed. Galimard, 1965,Colléction Idées, pp. 168-186.

Dworkin, Ronald,  in  “Ética Privada e Igualitarismo Político”, Ed. Paidós, pp. 159-163.


 

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